domingo, 23 de novembro de 2014

É NECESSÁRIO QUE ELE REINE

 

Georgino Rocha |  Justiça e Paz – Aveiro

 

“É necessário que Ele reine” afirma São Paulo na 1ª carta aos cristãos de Corinto; reine em todos e em tudo, no coração da vida e no seio da morte, nas manhãs de primavera e no outono da existência. Sempre! A afirmação paulina manifesta o reconhecimento da função benfazeja de Jesus Cristo e da situação humana carecida de sentido para a vida e de horizontes para a esperança. Faz parte de uma das leituras da celebração da festa de Cristo Rei e atesta a visão do apóstolo sobre a missão de Jesus ressuscitado. A comunidade cristã assume esta visão e procura ser coerente vivendo e anunciando a realeza de Jesus Cristo, ao longo dos tempos.

Pio XI, em 1925, dá uma nova visibilidade a esta fé comum dos cristãos e institui a solenidade de Nosso Senhor Cristo, Rei do Universo. A “onda” histórica, então crescente, era a da indignação contra a degradação a que a sociedade havia chegado conduzida por forças políticas e económicas desumanas e sem perspectivas de futuro. E vem a queda da República às mãos de Gomes da Costa, o abalo “sísmico” na bolsa de Nova York, a ascensão de tendências totalitárias, com Hitler, Mussolini e outros a progredirem na tomada do poder… Uma nova ordem parecia emergir. O cansaço aliado à inércia abria caminho a alternativas de ditadura. 

“É necessário que Ele reine” continua a Igreja a apregoar por toda a parte. Reinar não à maneira dos senhores do mundo, mas de quem exerce o poder para servir, põe toda a autoridade na promoção do bem comum, sobretudo dos mais indefesos e necessitados. Como Jesus exemplificou de forma inexcedível e deixou em ensinamentos claros e libertadores.

Que Ele reine na consciência humana, iluminada pela verdade que liberta e pelo amor que sociabiliza; no matrimónio heterossexual, fonte de felicidade do casal e berço aconchegado da família; na sociedade, espelho da dignidade humana e recheio de valores solidários; na Igreja, samaritana de feridos e órfãos, abrigo seguro dos que procuram, suporte e garante dos que progridem na doação generosa aos demais, comunhão de comunidades em que a diversidade de dons e carismas converge na unidade da missão. 

Que Ele reine na justiça – sinal emblemático da sua mensagem – que constitui o alicerce da paz. O que exige leis justas e responsáveis íntegros e competentes, processos transparentes, isenção de tráfico de influências, definição e respeito pelos prazos legais razoáveis. Justiça acessível a todos, sem discriminações, que valoriza a dignidade humana em todas as circunstâncias. 

Que Ele reine na política - expressão pública da entrega incondicional pelo bem do povo – que dá solidez à convivência social em harmonia e ao desenvolvimento sustentado, procurando uma maior igualdade entre os cidadãos. Como seria diferente o clima social que vivemos, a constituição da República que nos define, a hombridade dos políticos que nos governam a todos os níveis!

Que Ele reine na economia – espelho qualificado da relação com os bens e com a sua função de serviço à pessoa humana – que garante o necessário a uma vida digna para todos e valoriza as capacidades de cada um, proporcionando-lhe oportunidades de realização feliz A este propósito é muito eloquente a atitude de Jesus no modo como conviveu com os ricos e como atendeu os pobres!

Que Ele reine na cultura da vida, no voluntariado por amor, na “ saída de si mesmo” para ir em missão às “periferias” existenciais, nos sonhos dos jovens que valorizam a castidade e a honestidade, nos idosos que fazem das suas limitações recursos para novas ousadias de serviço ao seu próximo, nos responsáveis das comunidades eclesiais que dizem não às benesses e cultivam a simplicidade de vida e a proximidade de atitudes. 

Os cristãos discípulos missionários, em parceria com as pessoas de boa vontade, são mensageiros qualificados da novidade deste “reinado” e, com a força do Espírito Santo, colaboradores preciosos da sua construção e difusão. 

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