quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Aveiro: Diocese promove sessão de agradecimento a D. António Francisco dos Santos

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A Igreja Católica em Aveiro vai promover um conjunto de iniciativas de agradecimento a D. António Francisco dos Santos, na diocese desde 2006, que em abril vai assumir a missão de bispo do Porto.

A “ação de graças pelo ministério episcopal” começa a ser celebrada a 9 de março, com uma Missa na Sé de Aveiro, às 17h00.

A 19 de março, pelas 21h00, vai decorrer a sessão pública de agradecimento com apresentação do livro ‘Diocese de Aveiro - Subsídios para a sua história’, da autoria de Monsenhor João Gaspar, no Auditório da reitoria da Universidade de Aveiro

D. António Francisco dos Santos foi nomeado bispo do Porto no último dia 21, pelo Papa Francisco, e enviou uma mensagem de despedida à Diocese de Aveiro, agradecendo a “amizade” que recebeu nestes anos.

“Agora é tempo de partir. Sem vos deixar. Parto de amarras soltas, agradecido por esta Igreja de Aveiro que sirvo e tanto amo. Sei que vou acompanhado pela amizade, oração e dedicação de todos os aveirenses”, refere o prelado, num texto enviado à Agência ECCLESIA.

“Em todos os lugares permaneci e trabalhei, por pouco ou muito tempo, com alegria. Sempre me senti livre para daí partir no dia seguinte, se necessário fosse. Sempre, de igual modo, me senti disponível para aí permanecer”, escreve o prelado.

O até agora bispo de Aveiro admite que a mudança não era “previsível”: “Aveiro era para mim lugar, desígnio e missão até ao fim. Nunca aqui fui estranho nem me senti estrangeiro”.

“Hoje, compreendo, melhor do que nunca, que também aqui era simplesmente peregrino. Só Deus basta e só Cristo permanece”, acrescenta.

D. António Francisco dos Santos, de 65 anos, foi nomeado bispo de Aveiro por Bento XVI em setembro de 2006 e tomou posse a 8 de dezembro do mesmo ano.

“Pedi a muitos dos nossos sacerdotes em cada ano que, por imperativo de missão, deixassem terras e comunidades e partissem, com alegria e coragem, para outras terras e novas comunidades. Agora tenho eu mesmo de ser coerente e consequente com o que pedi aos outros”, explica.

O prelado refere-se a Aveiro como a sua “casa”, onde nunca “faltaram colaboradores dedicados”, e destaca a Missão Jubilar que assinalou o 75.º aniversário da restauração da diocese, cujas comemorações se encerraram em dezembro de 2013.

A Diocese de Aveiro publicou uma mensagem de “agradecimento” a D. António Francisco dos Santos pela “dedicação, empenho e espírito evangelizador”, “a paixão pela caridade e a atenção aos mais marginalizados, o ardor pela missão e evangelização e o espírito de oração”.

“A Diocese do Porto ganha assim um pastor que tornará ainda mais visível o rosto paterno e próximo do nosso bom Deus”, refere o texto.

A entrada solene de D. António Francisco dos Santos na Diocese do Porto vai decorrer no dia 6 de abril, numa celebração na catedral portuense às 16h00, depois de ter tomado posse perante o Colégio de Consultores da Diocese do Porto, no Paço Episcopal, numa cerimónia privada, no dia anterior.

[ in http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?tpl=&id=99258, consultado em 2014.02.27]

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

D. António Francisco nomeado para Bispo do Porto



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Igreja/Porto: Novo bispo quer ser presença «simples, próxima e fraterna»

D. António Francisco dos Santos confessa «surpresa» e agradece à Diocese de Aveiro, que o vê partir
D.R.
Aveiro, 21 fev 2014 (Ecclesia) – O novo bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos, disse hoje à Agência ECCLESIA que parte para esta missão com o objetivo de estar próximo de toda a população, de uma maneira “simples, próxima e fraterna”.
“Levo a minha entrega, a alegria de anunciar o Evangelho, a certeza da proximidade com todos, a disponibilidade para que todos encontrem em mim um pastor e um irmão”, declarou o prelado, em Aveiro, diocese da qual se vai despedir para assumir a missão que lhe foi confiada pelo Papa.
D. António Francisco dos Santos, de 65 anos, era bispo de Aveiro desde 2006, cargo para o qual foi nomeado por Bento XVI.
“Quero ser porta-voz do amor de Deus, de um Deus que ama cada um em cada situação e em cada circunstância. Vou para agradecer a Deus a Igreja do Porto e para semear esperança”, afirmou.
O prelado foi ordenado bispo em março de 2005, na Sé de Lamego, diocese da qual é natural, depois de João Paulo II o ter nomeado como auxiliar de Braga em dezembro de 2004.
A nomeação do Papa Francisco como bispo do Porto foi publicada esta manhã pelo Vaticano.
“Neste momento, é uma surpresa enorme, inesperada, porque ao ser confrontado com a decisão do Santo Padre senti-me surpreendido e por isso só à luz da fé pude entender esta decisão”, assinala D. António Francisco dos Santos.
O prelado manifesta a sua vontade de “servir a Diocese do Porto com alegria, com entusiasmo” e admite que existe uma “tristeza da separação” da Igreja em Aveiro.
“Esta diocese encontra-se hoje mobilizada, feliz, unidade, com uma extraordinária de prosseguir o caminho que a Missão Jubilar nos trouxe. Por isso, a bênção, o sonho de Deus para Aveiro continuará a inspirar e encontrar colaboradores decididos”, sublinha.
“Do meu coração ninguém sai para que aqueles que vou servir possam entrar, todos têm o mesmo lugar e procurarei servir todos com a mesma generosidade”, diz ainda.
A Diocese do Porto é mais populosa da Igreja Católica em Portugal, com mais de 2 milhões de habitantes, e tem uma área de 3010 quilómetros quadrados, a qual engloba 26 concelhos, 17 dos quais pertencem ao Distrito do Porto, oito ao Distrito de Aveiro e um ao Distrito de Braga.
“Não vou só, vou com a bênção de Deus, a proteção de Nossa Senhora e esta imensa certeza de que todos aqueles com quem trabalhamos, construindo Igreja, estarão comigo”, refere o novo bispo, que sucede a D. Manuel Clemente, nomeado patriarca de Lisboa pelo Papa Francisco a 18 de maio de 2013.
A data da entrada solene na Diocese, na Catedral do Porto, “será indicada proximamente”, adianta D. Pio Alves, administrador apostólico, numa mensagem de saudação ao novo bispo.
LFS/OC
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Mensagem de D. António Francisco à Diocese de Aveiro

Caros Diocesanos,
Nesta hora, não encontro outras palavras senão estas ditas, por Deus quando chamou Abraão: “Deixa a tua terra, a tua família e vai para a terra que eu te indicar” (Gén 12, 1).
Foi à voz de Deus e seguindo o Seu chamamento que sempre parti. Desde a minha primeira missão, como jovem diácono, nos confins do Alto Douro.
Em todos os lugares permaneci e trabalhei, por pouco ou muito tempo, com alegria. Sempre me senti livre para daí partir no dia seguinte, se necessário fosse. Sempre, de igual modo, me senti disponível para aí permanecer.
De todos os lugares fiz minha terra até ao fim. De todas as pessoas sempre me senti irmão. Em todos os lugares onde vivi e nos diferentes múnus que a Igreja me confiou eram previsíveis as mudanças. Menos aqui!
Aveiro era para mim lugar, desígnio e missão até ao fim. Nunca aqui fui estranho nem me senti estrangeiro. Mas, hoje, compreendo, melhor do que nunca, que também aqui era simplesmente peregrino. Só Deus basta e só Cristo permanece.
Pedi a muitos dos nossos sacerdotes em cada ano que, por imperativo de missão, deixassem terras e comunidades e partissem, com alegria e coragem, para outras terras e novas comunidades. Agora tenho eu mesmo de ser coerente e consequente com o que pedi aos outros.
Aveiro era a minha casa e a minha família, pensava eu! Aqui encontrei barco e remos à minha medida. Sempre senti que Cristo ia ao leme. Nunca me faltaram colaboradores dedicados, dispostos a remar ao meu lado e disponíveis para a missão.
A Missão Jubilar ajudou-nos a ser uma Igreja una e unida. Percorremos “um belo e bom caminho” como Igreja feliz, decidida e mobilizada para acolher e anunciar a “alegria do Evangelho”.
Agora é tempo de partir. Sem vos deixar. Parto de amarras soltas, agradecido por esta Igreja de Aveiro que sirvo e tanto amo. Sei que vou acompanhado pela amizade, oração e dedicação de todos os aveirenses.
À voz de Deus e ao mandato da Igreja eu só posso dizer “Sim” por entre desafios, temores e surpresas. Sempre me senti sereno quando obedeci. Sempre reencontrei a liberdade interior quando, depois de dúvidas e receios, venci o temor e disse sim a Deus e à Igreja.
De coração livre e disponível para a Missão, quero, ajoelhado diante de Deus e de olhar voltado para a Mãe de Deus e para Santa Joana, Nossa Padroeira, dizer sim à Igreja que agora me chama a servir a Diocese do Porto.
Acompanhai-me com a vossa amizade e oração, como sempre fizestes ao longo destes oito anos e abençoai-me nesta nova e difícil missão a que Deus me chama. Vivei esta hora comigo.
Com a bênção do vosso bispo e vosso irmão.
Aveiro, 20 de fevereiro de 2014
D. António Francisco dos Santos, bispo de Aveiro
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Agradecimento da Diocese de Aveiro a D. António Francisco dos Santos

O Papa Francisco nomeou o Sr. D. António Francisco dos Santos como Bispo do Porto.
Com esta nomeação, a Diocese de Aveiro vê partir com saudade o seu Bispo, que ao longo de mais de sete anos a serviu com dedicação, empenho e espírito evangelizador, e a Diocese do Porto ganha assim um pastor que tornará ainda mais visível o rosto paterno e próximo do nosso bom Deus.
A presença do Sr. D. António Francisco na Igreja de Cristo presente em Aveiro deixou profundas marcas; no futuro, com o decorrer do tempo, o Espírito de Deus fará multiplicar os frutos do seu trabalho pastoral. Vivemos alguns anos em que experimentámos, de modo extraordinário, a Bondade de Deus e sentimos no nosso hoje a Hora de Deus para nós. A sua ação fez-se sentir não só na comunidade eclesial que constituímos, mas também em toda a sociedade civil, cultural, académica, política e militar. Não esqueceremos os desafios evangélicos que tornou mais presentes pela sua palavra e pelo seu testemunho: a paixão pela caridade e a atenção aos mais marginalizados, o ardor pela missão e evangelização e o espírito de oração.
Esta nomeação, que a todos apanhou de surpresa, não pode ter outra resposta que não seja a da fé e consequente confiança inabalável no cuidado de Deus por esta sua amada Igreja presente em terras de Aveiro.
Obrigado, Sr. D. António Francisco. Rezamos por si e contamos com a sua oração.
Diocese de Aveiro
[www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=99163, consultado em 2014.02.21]







































quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

VIVE O AMOR PERFEITO


Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro
O padrão de felicidade proposto por Jesus aos seus discípulos adquire novas facetas que dão rosto humano às bem-aventuranças. O ensinamento feito na montanha vai mostrando, por contrastes, a beleza e a elevação a que todos nós estamos chamados. A disponibilidade pronta e radical para ir mais longe e chegar ao fundo do coração é especialmente apreciada e destacada. E, vigoroso e atraente, brota o apelo/convite a viver, sempre, o amor perfeito que dá um novo sentido a situações consideradas positivas sob o ponto de vista legal e saneia completamente as negativas.
A pena de Talião – olho por olho, dente por dente – constituía um avanço civilizacional extraordinário, pois a retaliação ultrapassava a ofensa feita ou o prejuízo causado tantas vezes quantas as tradições preceituavam. Jesus abre novos horizontes a esta maneira de proceder e recomenda a não violência e o perdão sem medida. A justiça de reparação de danos será fruto desta vontade positiva de respeito pela pessoa e de avaliação das suas reais possibilidades. Que revolução pode desencadear esta atitude na gestão das relações humanas e na agilização da administração pública, na tendência a ripostar a cada provocação e a excluir do círculo de amizade o prevaricador.
O relacionamento preconizado por Jesus tem uma fonte original: O amor de Deus e a sua forma de proceder para com todos. Ele não faz acepção de pessoas, “tal como” o sol  ou  a chuva. Para Deus não há amigos e inimigos. Há pessoas que são seus/suas filhos/as, a quem ama com o desvelo de Pai. Desta fonte original nasce a seiva humanizante dos laços familiares, das regras humanas, da convivência social, da civilização do amor. Nasce e robustece-se, sendo configurada pelas culturas e tradições, valores e opções. Aqui se alicerça a subjectividade da sociedade que somos chamados a organizar de forma humana, ética e funcional.
Os contrastes são provocantes. Expressa-o bem Santo Inácio de Loyola ao desenhar uma nova maneira de se situar no mundo: estar disponível de tal modo que desejemos e escolhamos apenas o que nos conduz ao fim para que fomos criados. Os outros bens devem ser preferidos só na medida em que estão ao serviço desta finalidade: riqueza/pobreza, saúde/doença, honra/desonra.
Jesus reforça os ensinamentos com o recurso a outras situações/limite: dar a manta – agasalho indispensável -, dar a face e “dobrar a parada” – ir além do exigido por lei -, rezar pelos perseguidores, amar os inimigos. E o limitado amor humano será espelho do Amor perfeito de Deus, nosso Pai. Que encanto e apelo!




domingo, 16 de fevereiro de 2014

O que é praticável no (neste) evangelho?

 
Pedro José Lopes Correia  |  Justiça e Paz – Aveiro
“A insegurança do amanhã, a fome e a sede, riem-se da liberdade. E, por certo, no âmbito da tortura, a inteligência das razões da tortura restabelece, apesar da traição e da degradação que se anuncia, a famosa liberdade interior. Mas essas mesmas razões só parecem aos beneficiários da evolução histórica e das instituições. Para opor ao absurdo e à sua violência uma liberdade interior, é preciso ter recebido uma educação.”,
Emmanuel Levinas in Totalidade e Infinito, pp.239-240.
A canção: “Another Love” de Tom Odell
in http://www.youtube.com/watch?v=MwpMEbgC7DA , acesso: 15-02-2014.
[1.] A pregação de Jesus não se instala numa zona cinzenta…, indefinida…, mais ou menos vaga. A pregação de Jesus é exigente, mas não é irreal. Procura ser subversiva, mas não é fanática. Diante desta pregação não podemos criar barreiras à Comunhão... Cuidado com os “ácidos do idealismo”... nas quatro “acepções clássicas”: para com Deus; para com o Mundo, para com Outras Pessoas e para Comigo. Resumir o pensar ao mundo perfeito… Nesse mundo o meu «EU» não teria lugar. O problema do equilíbrio sem faltar à Verdade (do sermos pessoas)? Como sou missionário (e não demissionário) desta Palavra Radical e Equilibrada: feita-carne-de-equilíbrios-a-defender?
[2.] Depois o que «já» reflecti ao pensar e transcrever sobre o «CUMPRIR» de Paul Beauchamp [também fiz incursões, recentes, em Paul Valadier, ou Carlos Domínguez Morano, outros mestres, e com os seus livros sobre os meus olhos… Vi que não era por aí: traria ainda mais problemas…], um dos profundos exegetas: VER o Comentário: Mt 5, 17-37: Ano A – Tempo Comum – VI (13-02-2011) [Voltar a reler: http://pedrojosemyblog.wordpress.com/2011/02/11/cumprir-por-paul-beauchamp-comentario-mt-517-37/ , acesso: 15-02-2014]. Estava tudo quase dito, nesta tentativa de partilha através do blog (mega arquivo pessoal on-line) e nada mais haveria a acrescentar. O problema da repetição (pode haver outros termos). E desse modo o padre - «pregador de JC e não seu» -, repetiria (pelo menos de 3 em 3 anos, devido ao ritmo do ano litúrgico: A-B-C-A-B-C…) sempre a «mesma» homilia “ad nauseam”! Somos assim enquanto seres humanos. Era o “mal” menor. Insuficiência existencial.
[3.] Mas ao ler o jornal-de-hoje (jornal é símbolo não obsessão…), no eterno confronto: “numa mão a Bíblia na outra o Jornal”. Encontrei “isto” afirmado por Hubert Reeves (Cosmólogo canadiano, que fez de França a sua casa, e aos 81 anos, como profeta da «Sabedoria da Ciência»), - que em parte já suspeitava, mas não sabia como o «dizer» - afirma e alerta, uma vez mais, com os factos e suas consequentes evidências a reter:
“Mas há sempre esta questão de dinheiro. O exemplo que dou é o de Fukushima, no Japão. Como é que um país que tem os melhores engenheiros do mundo e alguns dos melhores cientistas, decidiu colocar um reactor nuclear numa das regiões sísmicas mais activas e protegê-la com um muro de seis metros, quando se sabe que um “tsunami” chega a 20 metros de altura? Se fosse no mundo em desenvolvimento, podia dizer-se que eles não sabiam, mas aqui não. A resposta é que a segurança e o lucro não andam juntos. Isto é puramente humano e será sempre o problema. As pessoas correm sempre risco para ganhar dinheiro e, às vezes, mesmo que o evento possa ser muito raro, ele acontece”(in Público, 15-02-2014, p.33, cfr. Edição On-line: http://www.publico.pt/ciencia/noticia/nao-acredito-que-os-seres-humanos-possam-exterminar-a-vida-1623748 , acesso: 15-02-2014).
    O problema da segurança/risco, na minha adaptação, e que para Hubert Reeves, está condicionada pelo «Lucro», e até poderíamos acrescentar à luz “deste” (hoje) e “no” Evangelho (no global concretizado, isto é, encarnado), a questão do «conflito» permanente do Evangelho com o «Sexo» (…olhar para uma mulher/homem com maus desejos); o «Poder» (…deixa lá a tua oferta diante do altar – que oferta e que altar!? – vai primeiro reconciliar-te); e a «Morte» (…não matarás…aquele que se irar contra o irmão). O Evangelho é Redenção, isto é, Salvação, isto é, Libertação. Se não converte: é inócuo!? Piada de mau gosto!? Qual a segurança e/ou risco que vou assumir na minha vida (pessoal e comunitária)?
[4.] Três problemas e (uma) única solução (plural e libertadora) que passa pela resposta à pergunta: “O que é praticável no (neste) evangelho?” Eu sei a resposta para mim e tenho medo da resposta que Deus (na inspiração e transpiração do Espírito Santo) me segreda ao Ouvido-do-Coração. Não é preciso ter medo!? Também saberá que o Encontro com Jesus Cristo, neste, e no Evangelho, em cada domingo, com «equilíbrio, repetição, e risco/segurança» é a Fonte da nossa humanidade, elevada até à Divindade: a razão do serviço e da felicidade que procuramos sempre (ou quase).








sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

“Estou doente de amor” (Ct 2,5; 5,8): apontamentos sobre a dor.

 
Pedro José Lopes Correia  |  Justiça e Paz – Aveiro
[1.] A via dolorosa da Vida. O viver comporta a aprendizagem do sofrimento. Não há receitas e os caminhos ordinários exigem uma extraordinária responsabilidade. As minhas dores, as tuas dores e as nossas dores, bem como as dores “outras”: são igualmente diferentes. Como sentimos a Dor subjectiva a partir da carne da outra Pessoa. É sabendo que somos capazes de Amar. «Quem ama menos sofre menos a dor». A impossibilidade real da eutanásia do Amor. Sofrer não é romantismo. Sofrer é requerer Sentido onde está a escuridão do Ser. Viagem sem bússola.
[2.] O que deve guiar a nossa oração feita generosa assistência/presença, é, também, o Cuidado e a Ternura do saber perguntar (e perguntar menos é fazer o Bem); enquanto forte auxílio sempre disponível. Trazendo menos Dor às relações humanas castigadas e exaustas, de dolorosas justificações. As razões das dores (in)justificadas e perdidas são incompreensíveis. Não adiante querer explicar o inexplicável. Apelamos para o Sentido diante da Cruz «se» acreditarmos na Ressurreição: doutro modo seremos Ateus inconscientes e indolores. Caminho longo.
[3.] Nas diferentes dores do ser sofrido, e em sofrimento, não se apaga a nossa Indiferença. Se fugirmos ela virá depois como uma má Consciência reprimida. A responsabilidade é feita de Tempo e Entrega. Apagamento e simplicidade. Não exagerar no Dizer, ter a paciência de silenciar sem isolar. Deixar sozinho nunca é solução, mas imposição não desejada. Nesse momento doloroso, que dura sem fim, existe uma espécie de violência sofrida: um traumatismo no coração do eu-mesmo. Deixo de ser pessoa. Deixo de ser percebido. Espelho partido.
[4.] Como aprender que uma maneira de ajudar é deixar-se ajudar. Ajudar é ajudar-se. Dar-se é ajudar. Esta maneira de estar e revindicar Dignidade, de em mim me agitar, reagir em Paz, podemos chamar-lhe animação ou ainda inspiração. Serviço inspirado de animação. Teremos mais na mesma medida em que exigirmos menos de quem sofre fora de nós. O sofrimento torna-nos indisponíveis. Seremos a própria condição do Dar, com tudo o que custa dar-se. Implosão interior.
[5.] Quanto arrancamento nos causa a Dor prematura, intolerável, injusta e inocente? Não tem tratamento razoável dentro do Tempo, chega sofridamente sempre tarde. Dar sentido às dores absurdas e despersonalizantes é procurar dar-se até ao fim. “Porque dar até ao fim é dar o pão arrancado à própria boca” (Emmanuel Levinas). O extraordinário da nossa Responsabilidade como pessoas, é nunca nos ser indiferente nenhuma Dor. Tudo será razão de comoção. Incómodo para melhor Solidariedade e mais Cuidado.




FELIZES OS PUROS DE CORAÇÃO

 
Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro

Jesus sonha um homem novo, feliz, e faz a sua proposta de vida no ensinamento das bem-aventuranças. O local escolhido é a montanha que evoca o sítio em que Deus selou a aliança com o seu povo e lhe deu um código de comportamentos – os mandamentos. No Sinai, Moisés recebe a Lei. Neste monte, Jesus confirma o valor das promessas feitas por Deus e abre-lhe horizontes mais rasgados.
O Reino – expressão usada para designar esta realidade – está já em realização e o coração prepara-se para o acolher e manifestar. Jesus vem não anular, mas potenciar; não denegrir, mas fazer brilhar; não aprovar os sinais exteriores, mas valorizar as atitudes interiores; não adiar a satisfação das aspirações, mas garantir que, desde já, a felicidade é possível se os ouvintes/discípulos viverem a sua proposta em todas as dimensões.
A novidade do seu discurso é tão grande que Jesus sente necessidade de fazer uma catequese por contrastes. E realiza-a em quatro níveis: as relações fraternas, a honestidade dos desejos, o amor fiel e a confiança sincera.
A lei de não matar fisicamente, típica do Primeiro Testamento – que continua em pleno vigor - alarga-se a outras formas de eliminar alguém: a ira que irradia do coração, a imbecilidade e loucura que desconsideram e reduzem a dignidade do “irmão” em humanidade e na fé. Estes sentimentos negativos corroem o melhor do ser humano, da convivência social e da fraternidade cristã. Mantê-los ou cultiva-los degrada e desumaniza. Como sanear e pacificar o coração irado e restituir-lhe a energia da concórdia e da paz? Como repor a avaliação correcta do outro e restabelecer a relação fraterna?
Só a reconciliação, fruto do perdão, pode conseguir tal benefício, realizar semelhante maravilha. E Jesus mostra como é sublime esta atitude, apreciando-a mais que o próprio culto ritual. Um coração limpo, puro, pacificado, torna-se espelho desta felicidade integral, manifesta a fonte inesgotável donde provém e augura o ambiente de harmonia que, no futuro, gozarão os que verão a Deus.
A honestidade nos desejos, o amor fiel e a confiança sincera surgem como concretizações daquelas relações fraternas. A mulher tem a sua dignidade feminina que deve guardar e cultivar, o matrimónio um “estatuto” a respeitar e qualificar, o amor fiel uma reciprocidade fecunda a valorizar, a confiança mútua uma estabilidade a fortalecer. Que alegria responsável velar pela sanidade do coração, sua pureza e transparência.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

sal e luz: do sabor e da claridade

 
Pedro José Lopes Correia | Justiça e Paz – Aveiro
 
“A relação original do homem com o mundo material não é a negatividade, mas fruição e prazer da vida”,
Emmanuel Levinas in Totalidade e Infinito.
O evangelho na sua mistagogia (isto é, na pedagogia do Mistério) do Seguimento fala-nos directamente do Sal e da Luz. Queremos ser «sabor» de Cristo, nada mais. Queremos ser «luminosidade» de Jesus, nada menos. A retórica diante do Seguimento é oca. Se não somos seguidores coerentes: somos insignificantes! Daí o “não serve para nada…” do “sal”; ou o “não se pode esconder…” da “luz”. Seremos cristãos insípidos e opacos. Recusar, terminantemente, o “vale de lágrimas”!? Dos poucos e fracos: seremos teus eternos arautos depressivos e ressentidos. Nada disso!
A referência/pertença ao “sal”, no dia-a-dia, cada um saberá o quanto é intolerável o alimento sem ele, argumenta-se na compreensão da vida cristã como dinâmica de sabor. Saborear o viver. A referência/pertença à “luz”, somos iluminados pela tradição bíblica (recusar o simplismo de que a «Inovação» substitui a «Tradição»: apenas uma sinergia fecundará ambas) - do antigo testamento ao novo testamento -, o Sentido da claridade (luminosidade) de Deus está nos seus profetas e profetisas, nos seus discípulos e discípulas, nos seus amigos e amigas. Pirilampos/vaga-lumes de Deus?! Pitadas de flor de sal?!
O sabor e a claridade têm uma radicalidade nova e velha. Não se deixam superar pela “terra e mundo”, fecundam-nos; transformam-nos. O plural “Vós sois” enquanto desafio/compromisso comunitário (Povo de Deus + Igreja do Reino de Deus) fazem toda a Diferença. Ganhar sabor e claridade ao longo de toda a nossa vida comunitária é a nossa meta e a nossa conversão. A clarividência e sabedoria conseguem, respectivamente e inversamente (caso seja necessário) identificar as trevas (=mentiras, corrupções, injustiças…) e os dissabores (=desgostos, descontentamentos, contratempos…).
A nossa tarefa é garantir e oferecer sabor e claridade ao mundo e à terra que precisam do nosso empenho e da nossa presença como Comunidade, na sinceridade e na transparência enquanto Sentido do fazer e do dever querer. O Mundo e a Terra vão-se transformando diante desta certeza proclamada por Jesus Cristo: profeta do sabor e da luz: “Vós sois”!

 
FONTE: cfr. AZEVEDO, Dom Walmor Oliveira, “Vós sois o sal e luz” in Na Escola do Salvador, Editora PUC Minas, Belo Horizonte, 2009, pp.161-165.













«Descanso como forma de trabalho? Trabalho como forma de descanso? Exactamente» - Michel Crépu.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A FORÇA DO SAL, O BRILHO DA LUZ

 
Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro
Jesus “lança mão” de duas parábolas muito acessíveis aos seus discípulos para desvendar de forma assertiva quem eles eram e, consequentemente, qual a missão que lhes seria confiada. Condensa deste modo o ensinamento maravilhoso das bem-aventuranças e traça o perfil de quem as vive. Previne quanto ao risco de desvirtuar a novidade que comportam e adverte quanto à “ sorte” esterilizante que advém da corrupção e do engano. Realça com notável satisfação a força do sal e o brilho da luz, símbolos qualificados dos discípulos e selo inconfundível do ser cristão ao longo dos tempos. Também, hoje!
O sal, antes de o ser, passa por várias fases. É fruto apreciado de um processo laborioso, sobretudo o sal marinho. Comporta um alto significado: na culinária, torna-se indispensável como tempero e sabor; na terapia constitui recurso apreciado, sobretudo em certas deficiências; nas artes, de todo tipo, surge como fonte de inspiração e referência para expressivas criações; nas culturas e nas religiões, alcança uma riqueza simbólica de grande brilho – a sabedoria das pessoas e dos povos, a integridade incorruptível do ser humano e da sociedade, a fidelidade à palavra dada, o valor durável do contrato celebrado. Neste contexto tem sentido falar-se de “aliança de sal” (Nm 18, 19). “Vós sois o sal da terra” – afirma Jesus, o Mestre da humanidade. Que “categoria” e responsabilidade! Esforcemo-nos por corresponder.
A luz, outro símbolo qualificado do ser humano e da novidade cristã, manifesta o seu brilho de modos diversos: do pirilampo aos potentes holofotes; das rústicas candeias aos refinados candeeiros, aos foguetes de luzes – encanto de muitos em arraiais de festas e de passagens de ano; da vela da celebração eucarística à lamparina do sacrário. Sempre a luz dissipa trevas (da escuridão, da ignorância, dos preconceitos, da aversão, do apagamento e da vil tristeza) e abre a horizontes de verdade, ao reconhecimento da beleza, ao apreço pelo humano que há em nós e precisa de ser cultivado, à fé cristã centrada na alegria de Jesus Cristo, o Senhor.
“Vós sois a luz do mundo” – diz o Mestre aos humildes discípulos, pobres aldeãos, de poucas letras, mas de grande coração. Que terão sentido perante a grandeza e o encanto da missão anunciada? Que sonhos itinerantes lhes terão ocorrido ao imaginar os caminhos por onde a vida os levaria?
Jesus mostra-lhes o realismo da missão a que são chamados. A força do sal e o brilho da luz coincidem com a prática de boas obras, com o viver pre-ocupado com a situação dos outros, com o entusiasmo de “sair” do círculo do seu bem-estar e dar preferência a quem está em necessidade, com a ousadia da fé que reconhece o rosto de Cristo na pessoa do pobre. Que realismo tão sadio e encorajante! É a marca da qualidade da nossa fidelidade cristã.