sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

“Estou doente de amor” (Ct 2,5; 5,8): apontamentos sobre a dor.

 
Pedro José Lopes Correia  |  Justiça e Paz – Aveiro
[1.] A via dolorosa da Vida. O viver comporta a aprendizagem do sofrimento. Não há receitas e os caminhos ordinários exigem uma extraordinária responsabilidade. As minhas dores, as tuas dores e as nossas dores, bem como as dores “outras”: são igualmente diferentes. Como sentimos a Dor subjectiva a partir da carne da outra Pessoa. É sabendo que somos capazes de Amar. «Quem ama menos sofre menos a dor». A impossibilidade real da eutanásia do Amor. Sofrer não é romantismo. Sofrer é requerer Sentido onde está a escuridão do Ser. Viagem sem bússola.
[2.] O que deve guiar a nossa oração feita generosa assistência/presença, é, também, o Cuidado e a Ternura do saber perguntar (e perguntar menos é fazer o Bem); enquanto forte auxílio sempre disponível. Trazendo menos Dor às relações humanas castigadas e exaustas, de dolorosas justificações. As razões das dores (in)justificadas e perdidas são incompreensíveis. Não adiante querer explicar o inexplicável. Apelamos para o Sentido diante da Cruz «se» acreditarmos na Ressurreição: doutro modo seremos Ateus inconscientes e indolores. Caminho longo.
[3.] Nas diferentes dores do ser sofrido, e em sofrimento, não se apaga a nossa Indiferença. Se fugirmos ela virá depois como uma má Consciência reprimida. A responsabilidade é feita de Tempo e Entrega. Apagamento e simplicidade. Não exagerar no Dizer, ter a paciência de silenciar sem isolar. Deixar sozinho nunca é solução, mas imposição não desejada. Nesse momento doloroso, que dura sem fim, existe uma espécie de violência sofrida: um traumatismo no coração do eu-mesmo. Deixo de ser pessoa. Deixo de ser percebido. Espelho partido.
[4.] Como aprender que uma maneira de ajudar é deixar-se ajudar. Ajudar é ajudar-se. Dar-se é ajudar. Esta maneira de estar e revindicar Dignidade, de em mim me agitar, reagir em Paz, podemos chamar-lhe animação ou ainda inspiração. Serviço inspirado de animação. Teremos mais na mesma medida em que exigirmos menos de quem sofre fora de nós. O sofrimento torna-nos indisponíveis. Seremos a própria condição do Dar, com tudo o que custa dar-se. Implosão interior.
[5.] Quanto arrancamento nos causa a Dor prematura, intolerável, injusta e inocente? Não tem tratamento razoável dentro do Tempo, chega sofridamente sempre tarde. Dar sentido às dores absurdas e despersonalizantes é procurar dar-se até ao fim. “Porque dar até ao fim é dar o pão arrancado à própria boca” (Emmanuel Levinas). O extraordinário da nossa Responsabilidade como pessoas, é nunca nos ser indiferente nenhuma Dor. Tudo será razão de comoção. Incómodo para melhor Solidariedade e mais Cuidado.




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