quarta-feira, 29 de julho de 2015

TODOS PROCURAM JESUS, O PÃO DA VIDA

 

Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro

Pe GeroginoA “onda” de entusiasmo vibrante impele a multidão a ir à procura de Jesus que lhe havia saciado a fome com a multiplicação dos pães. Jo 6,24-35. Impele-a a tomar as barcas, guardadas na margem do lago e a rumar a Cafarnaum, aldeia a curta distância. Impele-a a abrir o diálogo “curioso” de saber há quanto tempo Jesus estava ali, pois havia-os deixado no momento mais eufórico da merenda/refeição: os beneficiados pretendiam aclamá-lo rei. Impele-a a manter-se firme e atenta, fazendo perguntas que Jesus, sabiamente, aproveita para abrir horizontes às suas mentes preocupadas, ao falar-lhes do pão da vida, do pão descido do céu, do pão que Deus dá para a vida do mundo, do pão que sacia todas as fomes, do pão que é Ele mesmo.

O estado de ânimo da multidão é compreensível: garantir o alimento diário, satisfazendo necessidades básicas, reconhecer quem lhe pode valer e segui-lo, acalmar o tormento das dúvidas pressionantes, acolher a novidade que surge e a convida a evoluir na sua compreensão, a ver e a relacionar-se, de modo diferente, com Jesus, a quem fazem um pedido original: “Senhor, dá-nos sempre desse pão”.

A relação é “paradigmática” do percurso da fé que João sumariamente apresenta: sentir-se necessitado e aceitar ir na companhia de outros, removendo preconceitos e obstáculos, fazer perguntas pertinentes e acolher respostas interpelantes, descobrir e aceitar Jesus como Mestre que não apenas faz sinais de Deus (milagres) mas ensina com a sua autoridade, atribuir-lhe o título de Senhor, reconhecendo-o como o Seu enviado, ser surpreendida pela sua declaração solene: “Eu sou o pão da vida”.

“Senhor, dá-nos sempre desse pão”: o pão da dignidade e da justiça, da liberdade responsável e da confiança recíproca, da fé inteligente e da esperança activa, da sabedoria que faz da “fraqueza” força e da limitação ponto de partida, da escuta compreensiva e do diálogo regenerador, do perdão sem conta nem medida. Pão de uma economia sustentada, ao serviço de todos, de uma política humanizada pela busca incessante do bem comum, de uma cultura aberta aos valores da vida, do bom e do belo, da bondade e da beleza. Pão que nos transforma em eucaristia e gera o mundo novo da fraternidade.

Jesus faz-se alimento no pão da eucaristia para saciar a nossa fome e quer ser alimentado na mesa dos pobres, dos sem-abrigo, dos descartados, dos indigentes de tudo o que é digno do ser humano, do que é respeitoso de toda a criação. A Igreja, fiel ao estilo de vida de Jesus e aos seus ensinamentos, prossegue nas mais diversas situações esta atenção delicada e libertadora. Às vezes, à maneira de semáforos do trânsito.

Hoje, pelo exemplo de tantos cidadãos cristãos dedicados e de instituições de beneficência e promoção, avança com novas ousadias criativas. A ilustrá-lo, de forma eloquente e realista, está a atitude/sugestão do Papa Francisco aos empreendedores da cidade italiana de Prato, conhecida como uma das capitais têxteis da Europa. Estes queriam oferecer-lhe tecidos para paramentos litúrgicos aquando da sua visita àquela região. Francisco agradece a gentileza e pede-lhes que dêem um novo rumo à oferta adiantada: que os tecidos sejam para confeccionar roupas que possam abrigar os pobres do frio ou camisetas para estudantes em países tropicais. “A ideia de Francisco, anuncia o bispo da diocese, foi acolhida com entusiasmo e, inclusivamente, 230 empresas chinesas aderiram à iniciativa e podem contribuir também com roupa já confeccionada.

Jesus, pão de Deus, para a vida do mundo está presente e actuante no coração humano. A eucaristia celebra esta maravilha. O testemunho cristão consequente torna-a visível e operativa.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Multiplicar ou dividir? Outra coisa melhor.

 

Pedro José L. Correia  |  Justiça e Paz – Aveiro

Pedro José L. Correia

“Como em tudo, os vícios têm sempre uma contrapartida de virtudes.

O bom e o mau, o pior e o melhor andam muitas vezes juntos.

E os mornos são sempre mornos: se calhar não matam ninguém,

mas se tiver um desgraçado a afogar-se também não o salvam”.

Jaime Nogueira Pinto, in Jornal “i, nº1947, 25/26-07-2015, p.26.

[1] Pequena nota de calendário litúrgico. Vamos deixar de lado a leitura de Marcos (dada a sua brevidade não é possível reparti-lo em 30 domingos…). Por cinco domingos seguidos vamos ler o Evangelho de S. João, no capítulo 6. Aqui Jesus faz o milagre a multiplicação dos pães e peixes [na verdade, São João fala de sinais (manifestação de glória) e não de milagres (atos de poder)].

Este «sinal» na linguagem de João é o único «milagre» (além da ressurreição) descrito nos quatro Evangelhos. Aparece não só nos Sinópticos (Mc+Mt+Lc), mas também no Evangelho de João. Neste evangelista cada pormenor é uma alusão importante para saber ler o que realmente ele nos quer dizer.

Neste relato há uma explicação “original” de que se tratou, de facto, de um «milagre da partilha», mas que os opositores negam como sendo «fácil», de modernamente, explicar aquilo que é inexplicável. Algumas autoridades da Bíblia alertam: eis um exemplo de como não se deve interpretar esta passagem […confesso que no púlpito para fiéis… e à volta da mesa de café, para contra-argumentar, andei também por aí…].


[2] Esta passagem pode ser o exemplo típico, do nosso mal-estar frente à divindade de Jesus, preferindo, substancialmente, a sua humanidade. Mas Jesus Cristo continua «irritantemente único».

Nesta versão de João diz-nos que o acontecimento teve lugar perto da festa Páscoa, nomeia os discípulos presentes, chega mesmo a descrever que tipo de pão [de cevada, estabelece uma ligação com a festa judaica, e, assim, talvez um paralelo com a Última Ceia] que foi utilizado. Jesus pergunta a Filipe para ter perspectiva de «solução» e a resposta vem em drama e medo (talvez até de motim!?). André, irmão de Pedro, fala que se encontra entre eles um rapazito insuspeito. - De repente entramos nós: divisão ou multiplicação? – No fim de história: comeram quanto quiserem e ficaram saciados. - E voltamos nós: que fazer ou deixar de fazer?


[3] Maior «sinal» educativo de João é não fazer de Jesus o “REI”, tipo “tapa-buracos-resolve-na-hora”… Ele retirou-Se, novamente, sozinho para o monte. Estamos diante de Jesus: plenamente humano e plenamente divino. Alguns pontos de meditação prática: (i) “Deus agarra em coisas pequenas e torna-as grandes”; (i’) “Ou apreciemos como Deus pode criar algo grande a partir de uma coisa pequena [desvalorizada, absurda, insignificante… à margem]; (i’’) “Somos convidados a confiar que os poucos pães e peixes que trazemos servirão de alimento, mesmo que nós próprios não possamos ver os resultados”; (i’’’) “Às vezes, a mínima palavra ou gesto pode mudar uma vida” [sem dramatismos… presença e omissão: discernir a quantidade pela qualidade]; (i’’’’) “A única coisa que nós temos de fazer é de apresentar, generosamente e sem vergonha, o pouco que temos” (Cfr. MARTIN, James, S.J., Jesus: Um

Encontro Passo a Passo, Paulinas Editora, Prior Velho, 2015, pp.285-305).


Imaginemos que somos Jesus, com este «sinal» de poder fazer a «diferença» [em psicologia, pedagogia e ética]: A quem daremos os «pães»? Que «pães» é preciso dar e como os daremos? Jesus garantiu que faríamos “multiplicações ou divisões” maiores do Ele fez. É Hora de começar Agora!

quinta-feira, 23 de julho de 2015

DAI-LHES VÓS MESMOS DE COMER

 

Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro

A multidão anda entusiasmada com Jesus. Nem sequer pensa nas suas necessidades básicas: descanso para a fadiga, casa para dormir, pão para alimento. A acção de Jesus e os seus ensinamentos exerciam uma sedução que compensava largamente tudo isso. E lá vai seguindo o Mestre que sobe ao monte, se senta compadecido por aquela gente e dialoga com os discípulos sobre o que fazer para lhe acudir e valer. Quer associá-los ao que vai fazer. E surge o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, a partir da “merenda” levada por um jovem. Jo 6, 1-15.Pe Gerogino

João, o autor da narrativa que hoje se lê na liturgia da Palavra, inicia um longo discurso/ensinamento de Jesus que continuará a ser proclamado nos próximos domingos. Constitui uma esplêndida catequese sobre a eucaristia, o pão e o vinho do trabalho humano, o corpo e o sangue do Senhor Jesus, entregue por todos e cada um de nós, a humanidade inteira.

O facto histórico tem um alcance simbólico excepcional. A razão vê o facto. A fé capta o alcance da realidade contida no símbolo. A razão é capaz de analisar os diversos elementos narrados: envolvimento dos discípulos, partilha do jovem, gestos de Jesus, acção concertada de distribuição do alimento pela multidão organizada em grupos. E deduzir orientações preciosas para minorar ou resolver problemas sociais aflitivos como a fome no mundo, a falta de água, as lideranças políticas e económicas, o abandono/descarte da maior parte da população face ao requinte do cuidado asfixiante de uma minoria fechada no seu bem-estar narcisista.

A fé reconhece a dimensão integral da pessoa, toda a pessoa, desvenda a realidade profunda que a constitui como ser em relação consigo mesma, com os outros, com a natureza e sua biodiversidade, com Deus que em Jesus se humaniza para nos abrir horizontes de plenitude. A fé não retira nada aos dados da razão e dá-lhes uma mais-valia pela dimensão ética que lhes reconhece e potencia, pelo sentido integral e integrante que lhes desvenda.

Tomai e comparti o que vos entrego. Organizai a multidão em grupos/associações de pessoas. Dai-lhes vós mesmos de comer. Recolhei as sobras. Que nada se perca… Palavras claras com orientações precisas… E todos ficaram saciados.

A Igreja quer viver o que proclama como Palavra da salvação. E, desde os começos, dedica uma atenção cuidada aos problemas das pessoas, ainda que em diversos graus de intensidade conforme as épocas históricas. Hoje, é, por excelência, a voz profética do Papa Francisco que dá o exemplo pelo seu estilo de vida, suas opções no terreno e seu jeito de elaborar e comunicar reflexões assertivas e implicativas.

Sabemos que se desperdiça aproximadamente um terço dos alimentos produzidos, e «a comida que se desperdiça é como se fosse roubada da mesa do pobre» … o aumento do consumo levaria a situações regionais complexas pelas combinações de problemas ligados à poluição ambiental, ao transporte, ao tratamento de resíduos, à perda de recursos, à qualidade de vida. LS 50

E noutro número da encíclica sobre o cuidado de toda a criação reconhece que “Os meios actuais permitem-nos comunicar e partilhar conhecimentos e afectos. Mas, às vezes, também nos impedem de tomar contacto directo com a angústia, a trepidação, a alegria do outro e com a complexidade da sua experiência pessoal. Por isso, não deveria surpreender-nos o facto de, a par da oferta sufocante destes produtos, ir crescendo uma profunda e melancólica insatisfação nas relações interpessoais ou um nocivo isolamento”. LS 47

“Dai-lhes vós mesmos de comer”. Lc 9, 13. Sêde a consciência da missão que vos confio. Bela e entusiasmante. E todas as suas fomes ficaram saciadas.

domingo, 19 de julho de 2015

aprender a arte de contar

 

Pedro José Correia  |  Justiça e Paz – Aveiro

 

Pedro José L. Correia

Reflexões: Ano B – XVI Tempo Comum: Cfr. Mc 6,30-34.

“Nunca esperes nada, prepara-te para tudo”, foi a primeira frase que decorei.

Tem a ver com estar preparado. Sinais de alerta.

Perdemos a capacidade de cheirar o perigo com a chatice da evolução

da espécie. Tens de estar atento aos sinais, uma trabalheira,

não compensa o polegar oponível”.

João Quadros, in Revista do Expresso, nº2229, 18-07-2015, p.107.

[1] São criadas por Jesus as condições necessárias para que seja contado “tudo o que tinham feito e ensinado”. Contar a Vida de modo ordinário. Como começa e acaba o dia? Sem esquecer os tempos vazios e os gestos insignificantes, porque não os há aos-olhos-de-Deus. «Contar» é desafio para um Tempo como o nosso, que não conta mas informa, para além do necessário. Isto é, não conta a Verdade de que nós Pessoas precisamos que seja contada. Contar nossos sucessos interiores; dúvidas espirituais; intimidades a preservar; e, sobretudo, aquilo que nos ajuda acreditar em nós: inventando quem poderíamos vir a ser.

[2] Nem obsessão “no” trabalho. Nem obsessão “pelo” lazer. Médico cura-te a ti próprio!? Os excessos da nossa Vida Moderna pagam-se “caro” quer na Intimidade (que nos foge), quer no esquecimento da Família (que não valorizamos). Perante a nossa Vontade cansada (“…nem tinham tempo de comer”), Jesus propõe a maturidade da Inteligência prática (“vinde comigo para um lugar isolado…”). O que fica de nós? No dito…, feito…, sentido… e partilhado…, sem a marca da nossa Fé. Fica a nossa singularidade talvez duvidosa…, vendida a preço de saldo. O que fica é a nossa Disponibilidade (ou não) para seguir (sempre, ou não) Jesus e não lhe voltar as costas de forma injustificada.

[3] “Porque eram como ovelhas sem pastor”, Jesus nas suas entranhas - plenamente humano e plenamente divino -, começou a “ensinar-lhes muitas coisas”. Começou do zero (segredo do Cristianismo que urge valorizar…) a contar-lhes. «Contar» é estar diante das pessoas, suas necessidades básicas, problemas e sonhos. E gastar Tempo Digno a ser contado pelo Dom-de-partilhar-a-Vida. No devagar depressa dos tempos sofridos e consolados. Neste «contar» de Jesus a nossa “zona de desconforto” passa a “zona de conforto” e o contrário deixa de meter Medo. Imediatamente, os nossos trabalhos e jugos são diversão pura. Nossos passatempos geram beleza e solidariedade mútuas.

         Vamos contar a Vida (in)comum sem fastio e com apetite verdadeiro da Fé!

quinta-feira, 16 de julho de 2015

FÉRIAS AO ESTILO DE JESUS

 

Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro

“Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco” é o apelo/convite e a recomendação de Jesus, após ter acolhido e ouvido os discípulos regressados da primeira experiência missionária. Mc 6, 30-34.  A narração do que acontecera deixava perceber que a missão decorrera bem. As instruções tinham sido observadas. A confiança na palavra do Mestre estava confirmada. O êxito enchia de alegria contagiante o coração de todos. A sobriedade de meios, a simplicidade de vida, a itinerância doméstica, a eficácia do anúncio, a libertação do espírito oprimido pelas forças do mal são credenciais comprovadas e adquirem valor distintivo de quem é discípulo de Jesus em qualquer circunstância. Partilham o belo da missão. Nada que pareça fofoquice, reacções negativas das pessoas, sacudidelas do pó das sandálias, comentários negativos aos que viram e ouviram.

     Marcos – o autor deste relato – condensa a atitude do Mestre no apelo à união fraterna e na recomendação ao descanso revigorante. “Vinde comigo” e tomaram a barca, a fim de fazerem a travessia do mar de Tiberíades, rumo à outra margem. A travessia converte-se de facto real em símbolo da trajectória humana ao longo da vida, em expressão da evolução do mundo interior de cada um, em sinal da maturidade alcançada por quem deseja saber conviver em sociedade e transmitir uma herança valiosa às gerações vindouras, em ícone da Igreja peregrina, inserida na história, próxima de todos, que sabe comtemplar e agir “a tempo e fora de tempo”, como testemunha São Paulo.

     A barca ia deslizando sobre as águas e os discípulos saboreando o ambiente repousante na companhia do Mestre. O percurso terá sido o espaço do descanso. Não tanto físico, mas psicológico e espiritual. Constituem dimensões fundamentais de um repouso consistente e gratificante: o estarem juntos, na companhia do Mestre, partilhando experiências e ouvindo comentários de apreço e valorização, o dialogarem sobre expectativas que alimentam sonhos e criam impulsos de aventura audaciosa, o verem-se confirmados no desempenho da missão confiada e, sobretudo, o de serem reconduzidos à fonte da verdadeira alegria – Deus que tem o nome de cada um inscrito no seu livro de bênção.

     Marcos, com o seu relato, traça-nos o perfil do agir do discípulo em missão: ver as pessoas, compadecer-se da sua situação, egir em consequência. Como Jesus.

Deixa-nos também o núcleo principal de umas boas férias vividas à maneira humana, de forma integral. Manifesta que o activismo é esgotante, que o barulho das multidões é enervante e alienante, que a natureza da vida tem ritmos marcantes para o seu equilíbrio, que a escolha de espaços agradáveis, cheios de luz e silêncio, de ar puro e sol aberto, proporcionam bom ambiente e excelente oportunidade, que o reencontro de cada pessoa consigo mesma e a pacificação do seu espírito – sempre desejados e nunca plenamente alcançados - expressam a qualidade das férias pretendidas e, como acontece com os discípulos de Jesus, vividas com alegria serena e confiante.  Maravilhoso ideal que sempre há-de atrair-nos e manifestar a que distância ainda encontramos, sempre que malgastamos o tempo, desperdiçamos as oportunidades, queimamos as energias e os sonhos, ficando mais vazios e esgotados, sem razões de esperança no sentido nobre da vida.

     O descanso faz parte da dignidade humana, manifesta a semelhança original do homem com Deus – ao sétimo dia, Deus descansou - e aponta para o futuro definitivo – felizes os que morrem no Senhor, desde agora descansam em paz porque as suas obras os acompanham – garante o Apocalipse. O descanso convida à contemplação da beleza e da bondade, à experiência fruitiva do lazer, à valoração da sabedoria, ao crescimento humano, à satisfação das carências fundamentais a fim de alcançar uma personalidade amadurecida.

     O lazer – expressão qualificada do bem-estar humano – pode ser alcançado de formas diversas: leituras amenas, exercícios físicos e espirituais, convívios agradáveis, férias de distensão, práticas desportivas, passeios e excursões, reuniões familiares, celebrações festivas, designadamente as do domingo e a participação na assembleia eucarística, memorial do amor com que Deus nos ama.

     O descanso e o lazer são vitais para a pessoa cultivar o seu ser integral. Fazem bem ao corpo e ao espírito. O exemplo de Jesus constitui o gérmen das férias dignas da condição humana que a história veio a consagrar em direito e que a legislação laboral vem delimitar. Oxalá que, acertadamente, para todos!

terça-feira, 14 de julho de 2015

Desejo e Conversão

 

Pedro José L. Correia |  Justiça e Paz – Aveiro

 

Meditação de James Martin[1], S.J

(No dia da ordenação ministerial dos padres:
João Santos e Pedro Barros, ao serviço da igreja diocesana.
Aos que estão na Fidelidade do Desejo.
Aos que continuam no Desejo da Fidelidade.
A todos os peregrinos que atravessando o deserto da Vida,
olham convertidos para o horizonte do Reino de Deus,
ainda aqui na Terra da Promessa.
Como no anúncio automóvel na TV tipo detetores de mentiras
ou coragem para ler os Sinais dos Tempos na formação hoje,
ou outra realidade que «ainda não» vemos
mas «já está» presente a germinar.
Aveiro, pe. pedro josé, 12 e 13 julho de 2015, na véspera e no dia do «holocausto do desejo e da conversão»).

[1.] – A história de Bartimeu [Mc 10,46-52] não é apenas uma história acerca de algo que a maior parte de nós nunca experimentará – uma cura milagrosa – ; também é uma história acerca de algo comum à nossa experiência: desejo e conversão.


[2.] – O desejo é muitas vezes mal visto nos círculos religiosos devido a duas interpretações erróneas comuns. Primeiro, só pensamos no desejo em termos de querer superficial: «Quero um carro novo!» Segundo, só pensamos nele como desejo sexual ou luxúria: «Tenho de te ter!» Contudo, sem desejos saudáveis, deixaríamos de existir de uma forma real. Não quereríamos estudar nem aprender. Não quereríamos ganhar a vida para sustentar a nossa família. Não quereríamos ajudar a aliviar o sofrimento de ninguém. Além disso, sem desejo sexual, nem sequer estaríamos cá.


[3.] – Jesus considera libertadora a identificação e a nomeação dos nossos desejos. Depois de rasparmos qualquer egoísmo superficial, os nossos anseios mais profundos e os nossos desejos santos ficam a descoberto: o desejo de amizade, o desejo de amor, o desejo de trabalho com sentido, e, muitas vezes, o desejo de cura. E, finalmente, claro, o nosso desejo mais profundo vai para Deus. E é Deus que coloca esses desejos dentro de nós. É essa uma forma de Deus nos chamar para si. Nós desejamos Deus porque Deus nos deseja a nós.


[4.] – Muitas vezes, as pessoas precisam de ser animadas a reconhecer esses anseios profundos, que podem ajudar a guiar as nossas vidas, sobretudo se alguém as aconselhou a ignorar ou a erradicar os seus desejos. Depois de o fazerem, descobrem uma verdade fundamental: o desejo é um dos motores da vocação de cada pessoa. Ao nível mais básico, duas pessoas são atraídas para o casamento por desejo: físico, emocional, espiritual. O desejo desempenha um papel importante nas vocações, no mundo do trabalho. Como é que o futuro cientista, por exemplo, apreende a sua vocação para estudar Biologia a não ser interessando-se pelas suas aulas de Biologia do liceu?


[5.] – Reparem que Jesus não diz: «Bartimeu, aceita as coisas tal como são.» É isso que a multidão diz: «Cala-te!» Jesus anima-o a nomear o seu desejo, perguntando-lhe diretamente: «Que queres que te faça?»


[6.] – O encontro de Bartimeu com Jesus também sublinha a importância de sermos sinceros na nossa relação com Deus. Seria difícil para o cego não pedir a Jesus para o curar de algo que o atormentara durante toda a vida, sobretudo se ele conhecesse a reputação de Jesus como autor de curas. Do mesmo modo, quando nos colocamos diante de Deus na oração, devemos sentir-nos à-vontade para expressar os nossos desejos. Se dissermos apenas aquilo que achamos que «devemos» dizer na oração, mas negando os próprios desejos profundos – se obedecermos à ordem da multidão no sentido de nos «calarmos» -, a nossa relação com Deus poderá esfriar. Deus convida-nos a ser sinceros acerca daquilo que desejamos, mesmo que isso possa constituir um desafio se esses desejos não se cumprem. Todavia, mesmo nesses períodos difíceis, Deus convida-nos a continuar a conversar com Ele. E isso inclui a partilha transparente dos nossos desejos profundos. Deus anseia pela nossa sinceridade.


[7.] – Jesus pergunta a Bartimeu: «Que queres que te faça?» E ainda mais: «Que te diz o teu coração? Quais são os teus desejos? Quando escutas o teu coração, o que é que ele te diz?» Jesus escuta Bartimeu, que, por sua vez, escuta o seu coração.


[8.] – Nomear os nossos desejos também é um sinal de humildade. Bartimeu sabe que não se pode curar a si próprio. Nós também não. Nós colocamo-nos diante de Deus conscientes das nossas limitações. Em suma, precisamos de ajuda. Porque não havemos de admiti-lo?


[9.] – Finalmente, às vezes precisamos de ignorar a multidão, sobretudo quando ela nos manda calar. «Não desejas algo melhor para ti», dizem a Bartimeu, e também a nós. «Desiste dessas ridículas esperanças de mudança. Deixa de desejar coisas novas.» Jesus, pelo contrário, não grita: «Cala-te!» A voz de Jesus é diferente da voz da multidão. Ele pergunta, com delicadeza: «Que queres que te faça?»


[10.] – O encontro com Bartimeu também é uma história de conversão, caracterizada pelo gesto do cego que deita fora a sua capa. Seria, provavelmente, um dos seus bens mais valiosos, um manto que podia ser usado como casaco e, à noite, como cobertor, ou até como cama. Seria quase impensável que um pobre homem se desfizesse da sua capa. Assim, a capa do cego é um símbolo maravilhoso de conversão. «E ele, atirando fora a capa, deu um salto (anapedesas) e veio ter com Jesus», diz Marcos. Tal como as redes que Pedro tem de largar, Bartimeu deixa para trás parte do seu passado para poder ver o seu futuro”.

[1] FONTE: MARTIN, James, S.J., Jesus: Um Encontro Passo a Passo [Jesus: A Pilgrimage, 2014], Paulinas Editora, Prior Velho, 2015, pp.332-334. Obs. A numeração dos parágrafos não se encontra no texto original.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

ENVIADOS POR JESUS A CURAR E A LIBERTAR

 

Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro

     Jesus marca o ritmo do tempo. Quer que o seu projecto entre numa fase nova: lançar os discípulos na primeira experiência da missão. Mc 6, 7-13. Por isso, faz a escolha dos doze, símbolo da totalidade, confere-lhes poder sobre as forças do mal, define o anúncio da mensagem a proclamar e dá instruções claras e precisas. Tudo em conformidade com o que tinha feito - e eles tinham visto e ouvido - nas viagens pelas aldeias e na ida às sinagogas, no contacto com as multidões, nas conversas em família.

     Este modo de proceder constitui a melhor escola de formação: em grupo, com relacionamento personalizado, ensinamentos oportunos e, quase sempre, precedidos de acções envolventes e apelativas, recurso a explicações complementares, autoridade reconhecida e participada por todos, responsabilidades atribuídas progressivamente, riscos calculados e ousadia confiante. Tudo a convergir para formar aqueles que eram/são chamados a testemunhar e a cooperar na realização do projecto de salvação que Deus nos proporciona em Jesus Cristo.

     Os discípulos partem em missão e, a avaliar pelo relato de Marcos, realizam obra notável: anunciam a novidade da vida com Deus que gera o arrependimento do mal praticado e a aceitação do bem a fazer, expulsam demónios que simbolizam tudo o que desumaniza a pessoa e a sociedade e organiza uma convivência eivada de preconceitos maléficos e de atitudes perversas em relação à escala de valores dignos da condição humana, ungem e curam doentes, sinal da integridade física e moral, afectiva e espiritual, individual e relacional. A cura é sanadora, faz recuperar a saúde e resgatar a paz interior, libertando da culpa e desvendando o dinamismo da misericórdia de Deus.

     Jesus envia-os dois a dois, certamente por razões sérias: darem apoio mútuo, serem testemunhas aceites pela lei judaica, garantir credibilidade ao que venha a acontecer, tornar visível o núcleo inicial da comunidade a construir. A prática deste tipo de envio talvez radique na prática de viajar juntos e no costume dos enviados oficiais do Templo de Jerusalém para cobrarem o imposto anual, segundo as regras prescritas pelo tratado de Tosefta. Mas há uma diferença substancial, pois os discípulos de Jesus são portadores de uma oferta que não “cobra” nada, percorrem os caminhos árduos sem protecção especial, apenas armados com o imprescindível para a subsistência, devem permanecer onde são recebidos e anunciar, sem forçar, a boa notícia que lhes é confiada. Nas casas de acolhimento começam os núcleos da comunidade, gérmen da igreja futura, alicerçados na relação fraterna, na escuta da palavra, na hospitalidade solícita, na certeza de que o reino de Deus está a emergir em gestos e atitudes humanas.

     A equipagem dos discípulos para a viagem pelo mundo é modesta e leve. Apenas um cajado de segurança, umas sandálias de protecção e a autoridade sobre os espíritos imundos, quer dizer, sobre as forças do mal, as alienações que ameaçam a consciência humana. Ontem como hoje! Estas alienações têm nome e precisam de ser combatidas: injustiças, desigualdades, fomes, corrupções, mentiras e manipulações, liturgias de rendilhados e báculos de ostentação. O Papa Francisco abre caminho a toda a Igreja e ao mundo no exercício exemplar desta autoridade. O báculo que usa nas viagens apostólicas constitui um verdadeiro ícone. Bem como o traje celebrativo e o estilo da vida.

É preciso sobrepor a relação solidária à razão económica, o bem de todos aos interesses de alguns, a prioridade de necessidades fundamentais às preferências elitistas de requintes supérfluos e ostensivos. É preciso combater tudo o que empobrece a vida humana, a sociedade de todos, o padrão digno do bem-estar de cada um.

     Jesus quer libertos os seus discípulos e não amarrados a nada, prontos e disponíveis para a missão, sem outros encargos e preocupações. Apaixonados. Interior e exteriormente. A sua fortaleza vem-lhes das convicções geradas pelas experiências vividas: a eficácia do bem, ainda que germinal e, por vezes, adiada na história, a qualidade de vida e o seu progressivo revigoramento, a alegria sentida e saudada por quanto de positivo e de bom vai surgindo, a certeza fundada de que o evangelho e a cultura se reclamam mutuamente e de que o divino e o humano se enlaçam em beleza e harmonia.

     A mensagem cristã resume, de forma bela e feliz, esta missão de envio apostólico, de acolhimento hospitaleiro, de partilha de convicções existenciais, de testemunho e aceitação ou recusa da proposta evangélica na auspiciosa saudação: “A paz esteja nesta casa e com quantos nela habitam”.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Igreja, Afastar ou Aproximar?

 

Pedro José L. Correia  |  Justiça e Paz – Aveiro


«Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador!» (Lc 5,8):

Pedro José L. CorreiaTestemunho de James Martin[1], S.J.


“Regressemos àqueles cristãos que se sentem marginalizados pelas suas Igrejas e àqueles que, por vezes, se sentem desanimados ou escandalizados por aquilo que as suas Igrejas fazem.

É importante recordar que a Igreja não morreu nem ressuscitou dos mortos. Jesus, sim. Sobretudo em períodos de dificuldade e escândalo, precisamos que nos recordem que a nossa fé não depende de uma instituição, mas de uma pessoa: de Jesus. É certo que experimentamos Cristo na Igreja e através dela, e a Igreja é, certamente, o «Corpo de Cristo» na Terra. Além disso, eu não nego, nem minimizo, de modo algum, a importância da Igreja. A Igreja, porém, não nos salva. Jesus, sim. Foi Jesus, e não a instituição, que nos chamou a entrar em relação com Ele. Mesmo que nós sintamos que a Igreja nos diz «afasta-te de mim», essas palavras nunca passam pelos lábios de Jesus, quando Ele se encontra com pessoas pecadoras.

Para aqueles que se sentem escandalizadas por causa dos pecados cometidos por membros da Igreja, também é importante recordar que a Igreja sempre foi imperfeita. Dorothy Day disse um dia: «Eu amo a Igreja por Cristo tornado visível, não por ela, que tantas vezes me tem escandalizado» (COLES, Dorothy Day, p.51).

Mais uma vez, não pretendo com isto expulsar ninguém da Igreja. A maior parte da minha vida adulta tem sido dedicada à Igreja. Contudo, a Igreja é formada por pessoas que falham, que pecam e que cometem graves erros, ou até crimes. A Igreja tem sido imperfeita desde o início. Os cristãos que leem esta passagem do Evangelho de Lucas [Lc 5,1-11] sabem que estes três homens falharão em relação a Jesus em certos momentos cruciais. Tiago e João deturparão as suas ideias, quando proclamam que querem ser os «primeiros» no Reino dos Céus. Mais gravemente, Pedro falhará três vezes em relação a Jesus, durante a paixão. A inicial reação de entusiasmo na praia da Galileia faz-nos entrar numa tensão humana entre fidelidade e fracasso, que se repetirá vezes sem conta à medida que a peregrinação dos discípulos se for desenrolando.

Essa também é a nossa peregrinação. Quando pertencemos a uma Igreja, por vezes, sentimo-nos indignos dessa pertença. Por vezes também sentimos que a Igreja é indigna do seu fundador. Nós fazemos tanto uma peregrinação de poder à luz da ressurreição como uma peregrinação de impotência frente ao pecado. Hoje temos o benefício de saber tudo isso. Pedro não sabia. Ele disse sim a Jesus com absoluta confiança, depois de ter visto o que Jesus era capaz de fazer. Contudo, não podia saber até que praias o seu sim o levaria. (…)

Imaginei que estava naquela cena e perguntava a Pedro: «Como conseguiste?» E, na minha oração, ele pareceu-me apontar para a rede e exclamar: «Olha só para todo este peixe!»

Todos nós precisamos de deixar certas coisas para seguir a Deus. Para alguns de nós, serão os padrões de comportamentos em que estamos viciados, para outros, uma ênfase arrogante no nosso próprio êxito, para outros, ainda, a adulação da multidão. Às vezes, é útil olharmos não só para aquilo que vamos deixar e que Deus nos promete, mas também para aquilo que Deus nos mostrou.

Olha só para todo este peixe!”


[1] FONTE: MARTIN, James, S.J., Jesus: Um Encontro Passo a Passo [Jesus: A Pilgrimage, 2014], Paulinas Editora, Prior Velho, 2015, pp.190-193.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

SURPREENDIDOS POR CAUSA DE JESUS

 

Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro Pe Georgino Rocha

     Jesus deixa Cafarnaum e faz uma visita a Nazaré, terra em que reside durante muitos anos e onde é bem conhecido. Mc 6, 1-6. Ao sábado, vai ao culto na sinagoga, como bom judeu. Observa as práticas rituais e, quando chega a vez da intervenção dos presentes, toma a palavra e faz um ensinamento que provoca assombro na assembleia. A reacção é imediata, pois o seu estatuto social não condizia com tanta sabedoria. A vida quotidiana da sua família era tão normal que ninguém notava algo de estranho. A inserção na comunidade local e nas práticas cultuais identificava-o como verdadeiro nazareno.

     E neste ambiente simples e sóbrio, Jesus vive em comunhão profunda com Deus Pai, em união filial com Maria, sua Mãe, em relação com os demais familiares, com a vizinhança. Dá-nos a lição do amor à família, ao silêncio e ao trabalho, segundo Paulo VI, na homilia que faz aquando da visita a Nazaré, em 1964.

     A sociedade está organizada com base no binómio honra e vergonha. Se alguém crescia em honra, em fama, em nome, em prestígio, outrem era defraudado, rebaixado, menosprezado. Os ouvintes de Jesus vivem esta cultura e, por isso, fazem perguntas de admiração e suspeita tão directas. Não citam o nome, mas recorrem a expressões como este, ele, artesão, filho de Maria, parente de familiares, nossos conhecidos. E estavam desconcertados. Os dados de identificação tradicional não justificam as acções que Jesus faz nem a fama de que goza, a autoridade com que fala nem a sabedoria que manifesta. Mas, negar os factos, era ingenuidade e os “mestres” religiosos não querem passar por essa vergonha. Aceitá-los era sensatez que exigia uma atitude nova: interrogar-se sobre quem lhe daria tais capacidades, reconhecê-lo como profeta, admitir a suspeita de que a esperança messiânica estava a ser realizada.

     Outrora como agora! A excelência da doutrina, o bem-fazer da prática solidária, a presença de proximidade, a preferência pela libertação dos pobres, a atenção solícita pelas crianças, a sanação inclusiva dos doentes e das mulheres, a nobreza do seu comportamento perante a autoridade… e muitas outras facetas da vida de Jesus provocam espanto e admiração. E fica-se por aí, mantendo-se o circuito fechado da razão humana, o horizonte limitado da aparência, a memória do passado sem abertura ao futuro da promessa. Não surge a interrogação fundamental: Não será a hora da novidade com que Deus nos surpreende? Não é este o Messias, o Filho de Deus bendito? Não espera de mim uma atitude de acolhimento, de resposta, de fé?

     Jesus recorre a um provérbio popular para lhes dar resposta e desfazer a rede de comentários. “Um profeta só é desprezado na sua terra, entre os seus parentes e em sua casa“, versão adaptada de um outro que era mais corrente: “Nenhum profeta é respeitado no seu lugar de origem, nenhum médico faz curas entre os seus conhecidos”. A provocação também não resulta.

     Fica admirado com a falta de fé dos seus conterrâneos. Sente-se desacreditado pelas autoridades do judaísmo e vê crescer a indignação de sectores influentes. Apesar disso continua a desenvolver a sua acção, a levar por diante a realização do projecto de salvação, a anunciar a boa nova do reino. As suas opções contrastam com a cultura predominante: faz da recusa um impulso para a missão, da pobreza de meios a riqueza generosa da doação, do serviço humilde a credencial da autenticidade da sua mensagem.