quinta-feira, 29 de maio de 2014

ACOLHE A MISSÃO QUE JESUS TE CONFIA

 

Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro

“Ide e ensinai”, ordena Jesus com toda a sua autoridade na declaração final que precede a sua Ascensão. Os discípulos vivem um “feixe” de sentimentos que vão da dúvida ao reconhecimento e à adoração. Acolhem a ordem/envio com docilidade e “temor” pois os horizontes da missão são desproporcionados às suas forças e capacidades. Ir por todo o mundo, ensinar todas as nações, fazer discípulos de todos os povos, baptizar os que acreditam constituem expressões que configuram a amplitude da sua nova responsabilidade. E eles, seres humanos frágeis e hesitantes, limitados nas capacidades e nos conhecimentos, marcados e formatados pelos hábitos de trabalho duro e da cultura judaica, eles a sentirem a desproporção do que lhes é incumbido e a realidade das suas forças, sem contar com a adversidade de certas circunstâncias.

Quem se atreveria a aceitar tal mandato ou, pelo menos, não pediria algum esclarecimento? Quem não sentiria a tentação da debandada, deixando o lugar vago à-espera que outros viessem fazer o que era da sua responsabilidade? Quem não hesitaria em fazer “ouvidos moucos” a tal imperativo, ainda que se retardasse o ritmo do que estava planeado? Estas e outras interrogações trespassariam qualquer coração humano que contasse apenas com os seus recursos. A probabilidade do fracasso era grande.

Mas os discípulos não dão sinais de reagir desfavoravelmente, não manifestam qualquer temor e dispõem-se a tudo. Reconforta-os, sem dúvida, a promessa/garantia de Jesus: “Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos” e ainda: Enviar-vos ei o Espírito para que esteja em vós e habite convosco.

Animados por este Espírito, descobrem as novas formas de presença de Jesus. Já não é como antes. A morte no Calvário foi a sério. E a ressurreição, ainda mais. Agora é diferente. O ressuscitado está presente nos sinais previamente escolhidos: a vida humana, a reunião fraterna, a oração a Deus, o bem-fazer aos necessitados, os factos sociais relevantes que indicam um novo rumo na humanidade, a escuta da Palavra, a celebração dos sacramentos na assembleia cristã, o valor do sofrimento por amor, a preocupação por comunicar aos outros a experiência da fé que se vai fazendo, a esperança no futuro definitivo e tantos outros. São eles que indicam e podem desvendar a presença de Jesus ressuscitado. A ascensão significa esta transposição de presenças. Oculto à vista humana é bem visível aos olhos da fé. O Espírito Santo ilumina o nosso olhar para captar, penetrar, compreender e orar esta nova realidade. A linguagem espacial de “sobe e desce” é bíblica, denota uma conceção diferente do universo e pretende tornar acessível o que ocorre com Jesus após a sua ressurreição.

Os discípulos reanimados pelo Espírito partem em missão, dando origem à mais bela história de amor que faz da autoridade um serviço à verdade que liberta e da debilidade humana a força especial do agir de Deus na história. Vive esta realidade maravilhosa. Acolhe a missão que Jesus te/nos confia.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Órfãos de pais/mães vivos?!

 

Pedro José Correia  |  Justiça e Paz – Aveiro

(…)Da próxima vez / Não vás / Sem deixar destino ou direcção

Se houver próxima vez / Não esqueças(…)

Canção de Luís Represas



1. 1. Jesus diz-nos e promete-nos no Evangelho: “Não vos deixo órfãos, mas voltarei a visitar-vos” (Jo 14,18 – tradução Luís Alonso Schökel). Acabei de visitar – em certo sentido mais de 15 anos depois – um pedaço do paraíso localizado aqui na terra: Lugar dos Afectos, localizado em Eixo- Aveiro, criado pela inspiração genial da Dr.ª Graça Gonçalves (cfr.http://www.lugardosafectos.com/, acesso: 24-05-14) na companhia de casais e respectivos filhos, em caminhada de crescimento de fé, por compromisso de espiritualidade. Saber que em vidas passadas-presentes- e quem sabe não futuras, fomos e somos, “órfãos de afectos”: é um drama com terapia e renascimento possível. Um “lugar” que todos deveríamos visitar interiormente. Seremos diferentes para melhor qualidade de Vida.

1. 2. Orfandade é uma realidade terrível de tal modo que Jesus dá-nos o «Paráclito», isto é, “o” Advogado; “o” Espírito-da-Verdade; “o” Defensor”. Jesus sabe da nossa fragilidade, das nossas necessidades: eles/as não podem ficar órfãos. A promessa do Consolador que é “o” prometido (conteúdo da promessa) e será quem nos conduz para viver o Amor como Ele, Jesus, o viveu. Só pelo Amor de/a Jesus é possível experimentar o imenso Amor do/ao Pai para/por cada um(a). A linguagem de Deus é a linguagem do Amor, de mãe, de pai. Não precisamos de reciclar nada.

1. 3. Que tipo de relação com Deus para que Ele não nos deixe órfão. Está em nós como está Nele. Como Filho serei Pai; e o contrário será reversível? Ou em todo caso seremos sempre (e só) “presentes” na condição filial? A crueza de um tipo de visão adulterada: “Outra acusou-me, “vocês têm umas ideias feitas sobre as relações. Sabe?, a vida é curta, não tenho de aturar o meu pai, quem lhe comeu a carne que lhe roa os ossos…” Como sou pai estremei todo, olha se me calha uma destas na rifa, mas refiz-me. “Compreendo que esteja muito zangada com o seu pai, mas quando a raiva passar podemos voltar a refletir sobre isto?” (cfr. José Gameiro).

1. 4. O “ficar” órfão como “aquela” experiência de estar a falar com uma pessoa e ficar com a sensação de que é a última vez… Se for a última vez. O ser pequeno e o ser semente como o agir de Deus em nós. Uma grande intuição presente neste evangelho, “recomendativo quanto prometedor”, é a doação/dádiva do Espírito Santo para que aprendamos a amar. O difícil está nessa aprendizagem todos os dias, em todas as fases boas e más. O Amor que o Espírito Santo nos ensina na promessa de Jesus, enviado pelo Deus Pai, passa pela nossa Consciência, pela Liberdade e pelas Decisões. “Amai-vos como eu vos amei!”

quinta-feira, 22 de maio de 2014

DEIXA QUE O ESPÍRITO DA VERDADE VIVA EM TI

 

Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro

A hora é grave. Jesus fala aos discípulos antes de iniciar a Paixão que o levará à morte de crucifixão por ódio dos inimigos e determinação das autoridades. O ambiente é carregado e desolador. A sensação de abandono é completa e a tristeza incontida. A saída para o Jardim das Oliveiras está para breve. Escutam-se as últimas palavras que ficam como parte do testamento espiritual do Mestre.

“Eu pedirei ao Pai que vos mande outro Consolador para estar sempre convosco. Ele é o Espírito da verdade…que vós conheceis porque habita convosco e está em vós”. Pedido, promessa, certeza. Jesus refere-se ao Espírito Santo e garante a sua presença activa e companhia amiga que preenchem a sensação do vazio e vencem o temor da orfandade. O olhar dos discípulos é reencaminhado para o futuro e o coração alertado para o novo prometido. A partida de Jesus – sua paixão, morte e ressurreição – abre caminho ao Espírito da verdade e por ele aos horizontes infinitos do amor de Deus, às realidades definitivas da comunhão da vida plena e feliz.

A maravilha deste anúncio manifesta a etapa final do percurso histórico de Jesus e o alcance dos acontecimentos que vão seguir-se. A situação dorida vivida pelos discípulos será transformada em “primavera” de um tempo novo – o do Espírito Santo que fará brotar a alegria da ressurreição em todos os que acreditam e praticam os ensinamentos de Jesus.

E uma linda história de amor se afirma e começa a realizar: dar a vida pelo bem do outro, estar disponível e livre para servir, ser companhia que consola e reconforta, defender os injustiçados e ameaçados, cultivar a esperança nos desanimados, libertar os oprimidos, promover a justiça alicerçada na verdade.

Esta história está a ser construída: o protagonista real é o Espírito Santo; o agente visível e operativo é o ser humano – homem e mulher - situado no seu meio ambiente e condicionado pelo uso responsável da sua liberdade. Que beleza e responsabilidade!

Não somos órfãos, temos família: a humanidade, a comunidade cristã. Não andamos enganados, seguimos a Verdade. Não vegetamos apenas, saboreamos desde já a vida abundante e aspiramos à sua plenitude. Não esgotamos a felicidade num momento, mas – como o sedento que se sacia da fonte de água fresca e confia na reserva para novas necessidades – integramos o momento no tempo e valorizamos a satisfação que nos proporciona.

O Espírito está em vós, habita convosco – garante Jesus. E a prova-lo, oferece-nos o seu amor com o pedido solícito de que nos amemos uns aos outros e o celebremos na assembleia cristã.

“O amor, sem estratégia, é aquele que dá a vida àquele que ama. O que seduz no cristianismo é esta economia do dom sem medida que o Filho encarna e que a Eucaristia torna presente”. (José A. Mourão).

segunda-feira, 19 de maio de 2014

SENHOR, MOSTRA-NOS O PAI!

 

Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro

“Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta”, pede Filipe a Jesus na ceia de despedida, na conversa subsequente em que intervêm outros apóstolos. Tomé abre também o coração, expõe o seu desnorte na compreensão do que o Mestre dizia e interroga-o directamente. Pedro mantém-se silencioso, possivelmente a “mastigar” a premonição que acabava de ouvir: “Antes que o galo cante me negarás três vezes”, ele que havia jurado fidelidade até à morte.

A prece de Filipe ficará para sempre como memorial das aspirações mais genuínas do coração humano: Ver a Deus que Jesus mostra. A interrogação de Tomé prolonga-se na história e suscita as mais diversas reacções do espírito em busca da  verdade e do caminho para a alcançar. O silêncio de Pedro ecoa em tantas consciências emocionais instáveis que definem os critérios da moralidade conforme as conveniências. Tão actual, também!

Filipe, Tomé e Pedro constituem, de modo emblemático, o rosto do homem de todos os tempos, necessitado de companhia solidária para o seu agir, atormentado por inquietações que martirizam o seu espírito, ávido de  uma vida feliz que experimenta a conta-gotas e quer usufruir em cheio para sempre. Manifestam a dimensão mais bela do ser humano: ser porta-voz das aspirações profundas da consciência que pretende acertar na avaliação ética das situações e na abertura à verdade que liberta e conduz à vida moral. Testemunham e transmitem a recíproca atracção do nosso coração por Deus que, por sua vez, deixa a marca original impressa no homem/mulher, sua criatura por excelência, e constantemente vem ao seu encontro para celebrar com ela a aliança de amor.

As declarações do Mestre pareciam não augurar nada de bom. As incertezas avolumam-se. A agitação interior instala-se E a pergunta toma rosto humano: Que lhes aconteceria, depois da partida do Mestre em quem depositaram as esperanças do seu futuro? O ambiente respirado por todos é pesado, tristonho, inquietante.

Jesus, sereno, tranquiliza-os e, como bom pedagogo, faz-lhes um belíssimo ensinamento sobre a sua relação com Deus Pai e connosco, na vida presente e na futura. Acreditai em mim, vou preparar-vos um lugar para que onde eu estiver vós estejais também. Quero que todos vivamos nas muitas moradas da casa de meu Pai – deixa-lhes como pedido e garantia. Que anúncio feliz. Merece uma resposta coerente.

“Cada pessoa tem dentro de si o caminho mais importante e a voz mais necessária – insistem os monges cistercienses junto de quem os visita -, «voz de um fino silêncio»; só precisa de a procurar, através das ferramentas do silêncio, da leitura, da escuta do outro, e dos ritmos quotidianos. Que pista a percorrer e que ferramentas a usar para sermos cristãos a caminho e vermos o Pai que Jesus nos mostra.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Sobre o que nos falta e somos capazes

 

Pedro José Lopes Correia  |  Justiça e Paz – Aveiro

 

“O maior perigo não é quando se teme o perigo, é quando se teme o remédio” – Padre António Vieira.

Sentimos a falta de Espiritualidade. Onde está a marca da espiritualidade cristã? Somos levados a procurar a intimidade com Deus, sabendo ler na nossa vida, em todos os lugares e situações, em todas as miudezas e gestos, que fazem mais necessária essa Consciência de abertura. Sempre a começar. A espiritualidade leva-nos a sujar os pés e as mãos; a gastar o corpo em vista dos outros; a usar o tempo na sua gratuidade. Move-nos o coração pela coragem de servir diariamente os irmãos? Não há espiritualidade sem aproximação às pessoas, sem procurar a transformação da realidade na linha da paz e da justiça.

    Temos de escolher a Tenacidade espiritual.

Sentimos a falta de Profundidade. O olhar profundo que atravessa a compreensão para além dos cinco sentidos. Estes captam o exterior. A profundidade vai ao interior, em certo sentido fica aquém, está na seiva, no silêncio, no que gera a nossa necessidade de exterioridade. Onde se esconde o que não tem preço? Nesta procura esbarramos com aquilo que nos ilumina o pensamento, renova o desejo, nos motiva nas atitudes. Atingimos a maior profundidade quando chegamos ao Amor da Trindade. Aí repousa o Espírito de profundidade.

    Temos de escolher o caminho do Trabalho interior.

Sentimos a falta da Comunidade. Nas famílias e nas histórias. Nas crises e nos sonhos. Nossos círculos de influência e pertença que não alimentam mais. Bancos alimentares contra a Fome. Nossa fome de Bem Comum. Nossa fome de Beleza e Sorrisos. Nossa fome de Verdade e Seriedade. Como está a nossa comunidade humana? «Em casa de meu Pai há muitas moradas» (Jo 14,2). Juntos permanecemos na derrota e na vitória. Separados somos menos que Nada. Deixamos de ser. Juntos somos Terra. Separados somos Pó. Aprender a dar o primeiro passo em conjunto.

   Temos de escolher a observância da Partilha despojada.

Sentimos a falta de Diálogo. As palavras vão e voltam. Ao ir levam, ao voltar trazem. Sacos de compras vazios. Nos cruzamentos da Vida o diálogo cresce na diferença dos lados. Se saímos como entramos, será que dialogamos? Aguardamos indiferenças. Quando nos abrimos ao outro, habita-nos uma dupla experiência: de uma parte, a nossa identidade tem algo a dizer, enriquecendo o outro; de outra parte, temos também fragilidades e limites, que serão superados pelo acolhimento dos outros. Todo o diálogo nos dispõe para a escuta de Deus. Acreditemos no dom que Ele nos faz.

    Temos de escolher (sempre) o lado Bom das pessoas.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

JESUS, O BOM PASTOR, CHAMA-NOS PELO NOME

 

Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro

Jesus estabelece connosco uma relação humana muito rica que, biblicamente, se expressa na imagem do bom pastor que se dedica totalmente às ovelhas do seu rebanho. Visualiza-o no seu agir sempre solícito em benefício de quem está em necessidade. Identifica-o no seu ensinamento acessível a todos. Confirma-o na sua atitude final quando entrega ao Pai o seu espírito. Fixa-o e transmite-o, sobretudo, na narrativa de João no Evangelho que, por sua vez, recorda as mensagens de Ezequiel, cap. 34, dirigidas aos exilados da Babilónia.

João quer fazer uma catequese sobre Jesus ressuscitado. Recorre a contrastes eloquentes: entrar pela porta ou rebentar a sebe que resguarda e protege o rebanho, ser reconhecido na voz que chama e é correspondida ou sentir-se considerado como um estranho sem eco de resposta, ver-se procurado e seguido ou dar conta que é abandonado e fica desolado, cuidar da vida das ovelhas ou desleixar-se a ponto de a falta de pastagens lhes provocar a fome e a morte, fazer-se tudo para elas ou explorá-las e aproveitar ao máximo os recursos que têm.

Estas atitudes configuram o bom ou o mau pastor, a novidade de Jesus em relação a outros que são chamados a realizar a missão do pastoreio, a radicalidade do serviço de dar a vida por todos e cada um, a diferença clara e contrastante do seu modo de proceder com o das autoridades judaicas, de todo o tipo. “Eu vim para que as minhas ovelhas tenham vida e a tenham em abundância”. Por isso, vai à frente, guiando; atrás, protegendo; ao lado, animando o seu amado rebanho.

João dá rosto e dinamismo a esta mensagem, recorrendo a figuras e situações típicas: O porteiro de serviço ao redil, a porta funcional para o pastor e o rebanho, a desfaçatez perigosa e real do bandido e salteador, a relação amigável entre as ovelhas e quem as chama pelo seu nome, a mediação indispensável de Jesus à salvação: “Quem entrar por Mim será salvo”. De qual nos sentimos mais próximos?

Esta advertência e exortação tem como “pano de fundo” a porta de serviço, a vocação pessoal a dar resposta, a comunhão dos que se acolhem para reganhar forças e partir em missão. Que feliz coincidência com a mensagem do Papa Francisco para o Dia Internacional de Oração pelas Vocações!

Que rico ensinamento e que belo apelo: Ser chamado pelo seu nome, convidado a participar na vida plena, testemunhar a alegria que provém de Jesus ressuscitado e nos inunda! O salmo 22 pode ajudar-nos a ser coerentes e agradecidos.

terça-feira, 6 de maio de 2014

CORAÇÃO HUMANO AO RITMO DO RESSUSCITADO

 

Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro

A distância geográfica de Jerusalém a Emaús é relativamente curta, mas simboliza um itinerário enorme de iniciação que, normalmente, os candidatos à vida cristã e inserção eclesial estão chamados a percorrer. Outrora, os discípulos eram Cléofas ( que significa celebração) e o seu inominado companheiro ( talvez sermos nós a dar-lhe nome). Regressam à aldeia, após o fracasso das suas expectativas provocado pelo desfecho trágico da vida do seu mestre, Jesus de Nazaré. Dão largas a este estado de espírito, lamentam o sucedido e “sonham” retomar um passado que não volta. Alimentam e ampliam a amargura da frustração, “curtida” em conversas e atitudes. Sem horizontes de futuro onde brilhe qualquer “semáforo” de esperança. Amarrados a um presente marcado pelas chagas ainda em ferida viva e sangrante, carregam as gratas recordações de um tempo feliz e vivem à procura de sentido para a etapa que se avizinha.

O diálogo com o desconhecido, que se faz companheiro, mostra a dolorosa situação em que se encontram e os rumores incríveis que começavam a surgir. Constitui uma excelente amostra do sentir de tantos contemporâneos nossos, uma boa referência para lançar pontes de contacto e iniciar uma viagem comum, com o ritmo cadenciado dos passos de cada um e com a franqueza do coração aberto de todos. Agora somos nós os peregrinos de Emaús.

O novo companheiro escuta com delicada atenção a resposta à pergunta que lhes fizera. E após uma breve censura, toma a palavra e faz-lhes a explicação do sucedido, situando-o no contexto das Escrituras. À medida que fala, o coração dos caminhantes gera novos sentimentos e vibra com novos ritmos que surgem progressivamente: coração sem esperança e incapaz de ver as luzes que começam a despontar; coração acolhedor do estranho que se faz companheiro e dialoga, sem reservas; coração aberto à intervenção de Jesus que narra tudo o que nas Escrituras lhe diz respeito; coração transformado que deseja permanecer com o desconhecido a quem oferece hospedagem e convida para uma refeição; coração agradecido que reconhece a nova forma de presença de Jesus nos sinais do pão e do vinho (eucaristia); coração entusiasmado no amor e pressionado pela novidade da experiência feita que quer contar aos discípulos; coração enternecido que recebe a alegre notícia dada pela comunidade reunida: “O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão”.

O Ressuscitado marca o ritmo que o coração humano procura assumir. Felizmente!