sábado, 30 de março de 2013

VIVE UMA PÁSCOA FELIZ!

 
Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro
É a Páscoa de Jesus que dá sentido à nossa. Com ela, podemos apreciar o alcance do que estamos a viver e a celebrar. Com ela, Deus confirma e dá razão ao amor que Jesus dedica aos esquecidos da sociedade, aos amaldiçoados do povo devido às doenças que eram consideradas como fruto dos pecados, aos postos à margem da convivência organizada por não satisfazerem certos requisitos legais, aos “não produtivos” da riqueza que enche a bolsa dos donos das terras e da pesca e dos impostos que sobre elas recaem.
Com ela, Deus confirma e dá razão às atitudes de Jesus que anuncia. Uma nova situação é possível, já que somos todos irmãos por Deus ser nosso Pai, já que é nosso o pão de cada dia pois todos necessitamos de alimento, já que todos estamos chamados a perdoar com a medida divina.
Esta nova situação começa, agora, a ser vivida por nós. Ao longo dos anos, somos convidados a imitar, cada vez mais, as atitudes de Jesus, sobretudo o amor que colocava em tudo o que fazia. Depois, um dia, será a nossa vez de passarmos para a situação definitiva, a vida nova, a comunhão de todos em Deus. Seremos, então, para sempre uma família de irmãos que celebra a festa da Vida plena no amor e na alegria.
Vive uma Páscoa feliz! Une-te a Jesus Cristo e faz teus os seus sentimentos. Confia no futuro que já está presente nas atitudes solidárias que, agora, assumirmos com dignidade e entusiasmo. Em Jesus ressuscitado, a esperança renasce continuamente. Outro mundo é possível e urgente!     

“Getsémani” por Bento XVI

 
Pe Pedro José L. Correia  | Justiça e Paz – Aveiro
[6ª feira santa: tríduo pascal] [Sem chão debaixo dos pés; sem céu dentro da Alma; apenas Abismo de trevas]
§ disposição 0.- «(…) é precisamente assim que Deus Se torna manifesto naquilo que é: o Deus que, no abismo do seu amor, doando-Se a Si mesmo contrapõe a todas as forças do mal o verdadeiro poder do bem» (p.132)
§ disposição 1.- «A sonolência dos discípulos permanece, ao longo dos séculos, a ocasião favorável para o poder do mal. Esta sonolência é um entorpecimento da alma, que não se alarma com o poder do mal no mundo, com toda a injustiça e com todo o sofrimento que devastam a Terra. É um embotamento que prefere não se dar conta de tudo isso; tranquiliza-se com o pensamento de que tudo, no fundo, não é assim tão grave, podendo deste modo continuar a autocomprazer-se na sua própria vida saturada» (p.129)
§ disposição 2.- «Precisamente porque é o Filho, vê com extrema clareza toda a amplitude da maré imunda do mal, todo o poder da mentira e da soberba, toda a astúcia e a atrocidade do mal, que se apresenta com a máscara da vida mas serve continuamente a destruição do ser, a deturpação e o aniquilamento da vida. Precisamente porque é Filho, sente profundamente o horror, toda a imundície e perfídia que deve beber naquele «cálice» que Lhe está destinado – todo o poder do pecado e da morte. Ele tem de acolher tudo isso dentro de Si mesmo, para que n´Ele fique despojado de poder e superado» (pp.130-131)
§ disposição 3.
§ «Ali, Jesus experimentou a solidão extrema, toda a tribulação de ser homem.
Ali, o abismo do pecado e de todo o mal penetrou até ao fundo da sua alma.
Ali foi assaltado pela turvação da morte iminente.
Ali O beijou o traidor.
Ali todos os discípulos O abandonaram.
Ali Ele lutou também por mim» (p.126)
§ disposição (poema para-litúrgico) 4.
Oh Getsémani!
Agonia da nossa pequena liberdade!
Ali dentro do Getsémani, a minha não-inscrição:
é papel branco assinado com gotas de sangue!
Apólice vitalícia do perdão e da doação extremas…
…sempre por esta ordem amorosa:
no meu julgamento caótico!
Jesus Cristo: Abismo de Luz Pura!
Oremos, para que a nossa Liberdade:
seja o reflexo desta Intimidade Fiel a Deus!






















terça-feira, 26 de março de 2013

Ar fresco


M. Oliveira de Sousa  |  Justiça e Paz – Aveiro
Um pouco por todo o lado, de uma forma mais acentuada e conhecida nos últimos tempos, devido ao desenvolvimento das redes de comunicação e universalidade de acesso às mesmas, o espaço público, em termos de opinião e decisão, assumiu praticamente o que pejorativamente se intitula “lavadouro de roupa suja”.
Há tensões por todo o lado. Uma frase, uma árvore que se plante, uma ideia que se tenha, tudo, rigorosamente tudo, é extrapolado, distorcido, empolado,… colocado no “altar dos sacrifícios”, se possível, “queimado vivo” – o mesmo será dizer, destruir.
Há um clima de crispação sobre a terra! – relembramos o assunto da semana passada, ergam-se novas lideranças.
A título exemplificativo – como se tal fosse necessário?! - O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schauble, disse, durante uma entrevista televisiva, citada pela agência AFP, que as críticas feitas à Alemanha se devem "à inveja" dos outros países.
“Sempre foi assim. É como numa turma [na escola], quando temos os melhores resultados, os que têm um pouco mais de dificuldades são um pouco invejosos”, afirmou o ministro, na cadeia de televisão pública ZDF, em resposta a uma questão sobre as críticas que se multiplicam contra a Alemanha, em particular na Europa do Sul.
Será que um estadista pode ter comentários de colegial, de aluno de escola, de “delegado de turma”?!
É este o ar que se respira pela Europa, um pouco pelo mundo: confronto! Sempre em confrontação.
Nesta semana e quadra, é necessário recuperar uma nova Páscoa, inspirada e respirada!
Os odores da urze, do alecrim, da alfazema,… também podem ser recuperados. Compete a quem pode, acredita, vive, proporcionar uma renovação deste clima pestilento. Onde não houver lugar para o Cristo que se encontre Jesus. Este calvário tem de chegar à ressurreição! Se não for pela fé que seja pelas obras de um humanismo cada vez mais solidário!






segunda-feira, 25 de março de 2013

TÃO HUMANO, SÓ DEUS


Georgino Rocha –Justiça e Paz | Aveiro
A paixão de Jesus condensa e realiza, de forma sublime, o seu amor pelo bem dos outros. Mostra com clareza o centro da sua vida e missão. Une, de modo feliz, a dedicação às pessoas com o desejo intenso de Deus Pai salvar a todos. Leva ao extremo a capacidade de doação que perdoa aos verdugos, suporta o abandono dos amigos, vibra e chora com a dor da multidão, aceita a ajuda dos que o acompanham na caminhada pública, se solidariza com a sorte dos excluídos e condenados e condói com toda a humanidade.
Toda a vida de Jesus está centrada nos demais que, em nome de Deus, quer libertar da indiferença e insensibilidade, do preconceito e do medo, da satisfação instalada e da relação egoísta. Centrada neles para lhes abrir horizontes como os seus e suscitar uma entrega tão generosa como a sua. A paixão de Jesus consiste em viver para os outros, correr os riscos desta opção e pagar a respectiva factura de incompreensão e morte. Não é simples compaixão ou ingénua comiseração.
O amor de misericórdia fá-lo partilhar a ceia memorial com os amigos, a ser compreensivo com os discípulos no Jardim das Oliveiras, a olhar compassivo a Pedro negador, a acolher com ternura o choro das mulheres de Jerusalém, a confrontar Herodes e Pilatos com a verdade, a aceitar a desejada colaboração de Simão de Cirene, a acolher as imprecações dos soldados e as lamentações dos condenados, a contemplar o grupo de fiéis seguidores junto à cruz, a entregar o cuidado da Mãe a João e deste àquela, a morrer confiante nos braços do Pai.
O amor de Jesus faz-se oração de perdão pelos seus algozes e por aqueles que o condenaram, faz-se oferta de salvação ao ladrão arrependido: “Hoje, estarás comigo no Paraíso”, faz-se morte que suscita vida nova. E o centurião romano ao ver o que ocorria reconhece Jesus como um homem justo e dá glória a Deus. De facto, “tão humano, só Deus” (Boff).                                     

terça-feira, 5 de março de 2013

Os números e o descontentamento

 
M. Oliveira de Sousa  |  Justiça e Paz-Aveiro
O país saiu à rua!
Mas terá sido todo o país? Terão estado dez milhões de pessoas a marchar contra a troika? “Que se lixe isso” – parafraseando um eventual cartaz.
O essencial está nas ideias para o governo, segundo alguns, ou desgoverno, segundo a maioria, do país. É óbvio que a grande maioria das pessoas quer apenas ter condições para honrar os seus compromissos!
Salvo raras exceções, todos os anos, em janeiro, esperavam-se (sempre) novos aumentos: nos salários, nos combustíveis, nos transportes,… em tudo mas sobretudo nos salários, no poder de compra. Subiu-se tanto, sobretudo em qualidade de vida e na dívida da mesma, nos últimos trinta anos, que obrigar as pessoas a perderem tudo o que acreditaram, lutaram e, justamente, atingiram não pode ser feito num ano ou dois e, de maneira particular, à custa de juros sobre dívidas que, apesar de indiretamente partilhadas, teria sido mais prudente ter acautelado evitando loucuras: submarinos, autoestradas, “intoxicação subsidiária” do tecido produtivo…
Como está até parece claro que só duas dicotomias na orientação dos atuais governantes europeus: trabalhadores mais pobres – maiores margens de lucro; austeridade (para as massas) – oligocracia (no poder).
Mas isto das dívidas dos países não é contabilidade de merceeiro ou agiota, são acordos de solidariedade soberana e interdependências.
Todos sabemos, com os devidos ajustes aos contextos atuais, mas Sérgio Aníbal recorda-o, num artigo no “Público”, há 60 anos, 70 países decidiram perdoar quase dois terços da dívida externa alemã. O país duplicou o seu PIB na década seguinte.
Com a troika em Portugal e com o Governo, os partidos da oposição e os parceiros sociais a pedirem uma melhoria das condições dos empréstimos que foram concedidos ao país, uma efeméride registada na passada semana dificilmente poderia passar em claro. Na quarta-feira, concluíram-se 60 anos desde que foi assinado o acordo de perdão de dívida entre a República Federal da Alemanha e os seus credores, onde se destacavam os Estados Unidos, o Reino Unido e a França, mas onde também surgia a Grécia.
A 27 de Fevereiro de 1953, a economia alemã, que tinha atingido o fundo após a II Guerra Mundial, deu um passo decisivo para uma recuperação classificada por muitos como milagrosa. Desembaraçou-se de quase dois terços da sua dívida externa e iniciou uma década em que conseguiu duplicar o seu PIB.
Haja quem explique quando e como, num país como o nosso, com um PIB na ordem dos 160 mil milhões de euros, podemos desembaraçar-nos deste peso da dívida e recuperar a soberania? – basta de engodos e demagogias, razão do nosso descontentamento.