terça-feira, 29 de julho de 2014

Insolvências

 

 

M. Oliveira de Sousa  |  Justiça e Paz – Aveiro 

 

Aveiro vai em quinto lugar. Preocupante! Preocupante pelo país (2772 empresas no primeiro semestre) e preocupante por esta região cheia de potencial (6,6% destas empresas estão em Aveiro).

A entrar no período estival, de alguma descontração motivada pelos dias que passam vivos, claros, cheios de luz e sol, um estudo da COSEC (www.cosec.pt) ajudará a refocar os interesses sociais que o dinamismo económico e as suas consequências impactam na vida dos cidadãos, das pessoas. É uma sugestão de leitura, uma leitura com várias leituras. Estes números mostram pessoas, famílias.

A COSEC procede, diariamente, à consulta da Parte D da 2ª Série do Diário da República e ao registo informático, de todos os Atos dos Tribunais, do Ministério Público e dos respetivos Conselhos Superiores relativos a todas as entidades que sejam Pessoa Coletiva ou Empresário em Nome Individual. Em termos de tratamento da informação, e no que às situações de Insolvência diz respeito, é registada e sistematizada a “Sentença de Declaração da Insolvência”.

As Microempresas continuam a ser as mais afetadas, representando cerca de 68% das insolvências registadas. 26% do total das empresas insolventes são do sector da Construção e 20% do sector de Serviços.

A insolvência é uma situação em que o devedor tem prestações a cumprir superiores aos rendimentos que recebe. Portanto um insolvente não consegue cumprir as suas obrigações (pagamentos). Uma pessoa ou empresa insolvente poderá no final de um processo ser declarada em definitivamente insolvente, em falência ou em recuperação.

As pessoas em conversa coloquial costumam confundir os termos insolvência e falência. Estas palavras têm significados económicos e jurídicos distintos, sendo que falência é um estado em que o devedor é responsável por mais dívidas do que os bens que possui. Uma empresa ou pessoa falida não estão automaticamente insolventes e vice-versa.

Para completar esta nota antes da interrupção de férias do “Correio do Vouga”, sublinhe-se que o portal das insolvências (www.insolvencia.pt) tem por missão prestar informação e esclarecimentos sobre os processos em causa, reestruturação e hipóteses de recuperação.

Uma leitura com várias leituras, de facto.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

CHEIO DE ALEGRIA, AGARRA-SE AO TESOURO

 

Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro

Atitude decidida e coerente, fruto de um coração inteligente e de uma vontade determinada. Atitude assumida com firmeza pelo homem que passa no campo e sente o seu olhar “golpeado” pelo brilho de um tesouro. Atitude emblemática de tantas outras que, ao longo dos dias, somos chamados a considerar e fazer nossas.

O homem da parábola concentra todas as energias na realização da maior aventura da sua vida: obter a preciosidade vislumbrada. Definida a meta dos seus desejos, reorganiza e reordena todas as suas rotinas, reelabora a sua escala de valores, redimensiona a distribuição do tempo. Nestas diligências, sente o seu ânimo transbordar de alegria e toma decisões arriscadas. 

Por isso, prossegue sem demora o seu plano de acção: pôr a salvo o tesouro descoberto, desfazer-se dos bens a fim de conseguir a importância indispensável à compra, adquirir o campo onde está o achado. Em todo este processo, uma confiança revigorante galvaniza as suas forças anímicas e energias espirituais.

A fortuna da vida consiste em manter a esperança em toda a caminhada para alcançar o bem maior. Daí, a necessidade premente de concentrar as energias no prioritário. Daí, a conveniência de alargar progressivamente as margens do possível. Só assim, será respeitado o ritmo da aspiração, aberta sempre ao melhor, e os limites da acção condicionada pelas circunstâncias e possibilidades reais. 

Também aqui a metáfora é eloquente: face à dispersão e ostentação, concentração e “mergulho” interior; face à correria, calma e ponderação; face ao nivelamento de valores, escala de prioridades e observância fiel; face ao adiamento, decisão oportuna e acertada; face ao efémero e imediato, atitude consistente e duradoira.

O “mergulho” na interioridade facilita o conhecimento de si mesmo, a escuta da consciência onde se fazem ouvir as ressonâncias da voz de Deus gravada na natureza humana: Se renuncias a algo, é por um bem maior; ninguém se sente feliz com o coração vazio; a pérola mais preciosa do mundo és tu mesmo; o que tens e compras vale menos do que o teu eu mais profundo; apreende a sabedoria e terás um coração inteligente; acolhe a boa notícia de Jesus de Nazaré, meu enviado; a graça custa caro, tem um preço elevado, mas provoca uma alegria contagiante; basta lembrares o Evangelho e o esforço humano do dono do campo.

Estas e outras ressonâncias podem ouvir-se na consciência humana iluminada pela razão e pela fé, liberta de preconceitos que ensurdecem e de meias verdades que desvirtuam. Exemplos atractivos iluminam a história com os clarões da sua vida intensa e coerente: Mendes de Sousa, Tomás Moro, Padre Américo, Maria Goreti, Paulo de Tarso, Jesus Cristo.

O lavrador do campo acha e agarra a pedra preciosa na ocupação diária. Aqui o espera a surpresa. Aqui dá a resposta criativa e ousada. Aqui surge o encontro apetecido em que à alegria humana corresponde o sorriso divino. Feliz o homem que tem a sorte de encontrar o tesouro da sabedoria e, ainda mais feliz, se o mantiver com firmeza e fizer crescer com diligência.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Sobre a arte do viver

 

Pedro José  |  Justiça e Paz – Aveiro

 

“A estratégia do tempo passa pela sabedoria da solidão positiva, onde a gente agarra a fundo o verdadeiro sentido do tempo, da sua passagem e da sua riqueza; do ter tempo para si, de personalizar o tempo.”

Vasco Pinto Magalhães, s.j., “Só Avança Quem Descansa”.

Onde não há lugar ao descanso, de ao menos, uma hora por dia (não conta o tempo para dormir e para as refeições), nas nossas agendas superpreenchidas. Atenção: cartão amarelo. Se em cada semana eu não tenho direito, a um dia de «folga» restaurador e gratuito. Atenção: cartão vermelho. Iremos morrendo lentamente de forma apressada. Eis o drama do tempo infernizado. Azedamos no interior de modo irreversível. Propomos a conjugação de alguns verbos que podem ajudar a termos ocupações verdadeiramente livres. São eles: Mudar / Alegrar / Religar / Investir / Abrir / Animar / Recordar.



Mudar - Nós fazemos e sofremos muitas mudanças. Mudamos de lugares, mudamos de roupa, mudamos de penteado, mudamos sem querer, mudamos por fora e mudamos, também, por dentro. Há mudanças que não fazemos. Há mudanças inesquecíveis. Quantas mudanças do «outro» ignoramos para garantirmos a segurança do nosso «eu»? O que é mutável na mudança e o que permanece na mudança? Mudar para aprender mais e melhor.

Disponha o seu interior à mudança. Mudar significa crescer em santidade.

Alegrar - Recentemente, o Papa Francisco escreveu uma longa carta de exortação onde apresenta razões para o perigo de perdermos a Alegria. O seu alerta inicial: “o grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem”, (A Alegria do Evangelho, nº2). Como é possível trair a Alegria de viver? Na verdade, a única coisa que o homem pode trair é a sua consciência. Atraiçoar a consciência, ficar pesado moralmente, é a nossa maior tristeza.

Disponha a sua Consciência para o alegrar-se. Sem ofuscamento na entrega diária terá a sua recompensa.

Religar – Sobre a força e a fraqueza da religião, que tem no verbo religar uma leitura sapiente da vida: é desnecessário dizer muito. O «dizer» pouco é melhor em religião e em quase tudo. São lugares incomuns, ao contrário do que se pensa, dois pensamentos, em jeito de aforismo catequético para ateus. Primeiro: «Diz ao teu problema que tens um grande Deus e não digas a Deus que tens um grande problema». Segundo: «Com Deus, nada se perde; mas, sem Ele, tudo está perdido». Duas ações possíveis: rezar o Terço em peregrinação a um santuário da sua predileção devota. Ou ler, se já o fez, novamente, a excelente crónica de Pedro Mexia “Mal Nenhum”, sobre a confissão, na Revista Atual - Expresso (12-07-2014, p.3).

Disponha o seu coração para a Fé. Religue o seu viver ao Sagrado e ao Rito.

Investir – Um sim decisivo. Um não explicado. São duas ferramentas importantes para investir em si, nos outros, no «macro» e no «micro». Na arte de conviver, no sobreviver e no simples viver que são atravessados pelos seus investimentos, feitos ou adiados. Há uma passagem bíblica notável nos evangelhos sobre o que significa trabalhar arduamente numa pescaria - tudo investir! - e depois, da iniciativa fracassada, receber mais uma vez o desafio de Jesus «Faz-te ao largo; lançai as redes para a pesca» (cfr. Lc, 5, 1-11).

Disponha-se a investir. Leia e reze a Bíblia. Leia um evangelho de cada vez, sem receio de pouco entender. Saborear é mais simples do que parece.

Abrir – Abrir é vida. Fechar é morte. Mesmo sabendo que a abertura nem sempre origina a vida; nem mesmo o fechamento causará sempre a morte. Isto porque nós somos um relacionamento constante e que só o «abrir» fará crescer e evoluir. Como é que eu seria capaz de procurar-Te? chamar-Te? amar-Te... No fundo, abrir-me: se Tu Senhor, não me procurasses, chamasses e me amasses primeiro? Na Tua Encarnação está a Lei do meu «Abrir».

Disponha-se a compreender que “o mais importante” não é abrir, mas abrir-me à Vida e a Deus, através das pessoas e suas situações concretas.

Animar – Continuar de ânimo leve, sentir-se animado, apesar de tudo. Esta convicção do «apesar de tudo» é o combustível do animar. Uns têm mais, em outros a carência é crónica. Mas podemos e devemos apreender a viver animados. Isso é dom e tarefa do Espírito Santo, em todos nós.

Disponha-se a dividir os passos do que tem de ser realizado; não se atemorize. Suas ações serão raios de luz; em conjunto, seremos capazes de vencer nossas preguiças, nossas distrações. Que o Espírito Santo nos dê Ânimo Abundante: para não andarmos distraídos do essencial!

Recordar - Jorge Luís Borges tem um poema, com o título significativo: “Elegia da Lembrança Impossível”. Basta procurar na internet. Nós somos a nossa Memória. Há um número incontável de famílias a sofrer com as doenças da memória. Isso é um testemunho terrível. Acolha. Não podemos sofrer por antecipação. Para dar sentido ao sentido do sofrer: recordemos a partir do Coração; da afetividade liberta. Não seja prisioneiro, mas pessoa em doação.

Disponha-se a não lamentar a impossibilidade de não se lembrar de momentos que viveu. Recordar as mentiras que nunca mudaram nada! Ou as verdades que poderiam ter consertado tudo! Que não viva da recordação do que faria com o prémio nunca ganho do euro milhões! Que não daria pela memória de um encontro com os Amigos(as) e que, infelizmente, não acontecerá mais.

Senhor vou passar a guardar Tudo de Mãos Bem Abertas! No Coração d’Alma; na Consciência do Dever Cumprido! Na Felicidade Partilhada!

DEIXAI-OS CRESCER ATÉ À CEIFA

Dia Internacional do Amigo

 

Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro

 

Jesus insiste no recurso às parábolas para dar a conhecer a novidade do reino de Deus em relação às situações vividas pelos seus ouvintes e, por meio deles, às gerações de todos os tempos. Mateus – o evangelista narrador – agrupa em sete a série do início da missão e termina-a com uma pergunta aliciante aos discípulos: “Compreendestes tudo isto?” E como a resposta é afirmativa, acrescenta que quem se torna discípulo do Reino “é como um pai de família que tira do seu baú coisas novas e velhas”. Ou seja a novidade não anula os valores já contidos nas tradições judaicas/Lei e em outras culturas, mas dá-lhes pleno sentido, purificando-os de interpretações desviantes e elevando-os a sinais transparentes do projecto de salvação, de que o reino é configuração singular.

“Deixai-os crescer a ambos até à ceifa”, é conselho e exortação, ordem e ensinamento que Jesus coloca na boca do dono do campo perante a impaciência dos criados que, intolerantes, querem arrumar a questão nuclear da parábola: limpar a erva daninha para que o bom trigo cresça e dê fruto sadio abundante. A lógica da razão parece estar com eles: Por que haviam de continuar a “roubar” energias, a ocupar espaços, a prender os rebentos e as hastes do trigo germinado que precisam de condições favoráveis para que surjam e amadureçam as espigas? No campo não devia haver lugar para a cizânia infiltrada, fruto da malvadez de algum inimigo que agiu a coberto da noite. O tempo do crescimento é limitado e tudo aconselha a saber aproveitá-lo bem, a agir sem demora. 

A esta lógica, razoável humanamente, sobretudo na perspectiva da produção, contrapõe Jesus o respeito tolerante para com a realidade, a liberdade dos protagonistas, a paciência resistente para com as leis do tempo e do comportamento do possível inimigo, o discernimento cuidado na hora da recolha, a atenção desvelada e a alegria esfusiante para com os ceifeiros que enchem de bom trigo os celeiros. Estes traços vão configurando o rosto de Deus que Jesus apresenta no agir humano narrado em parábolas.

Mateus recorre ao contraste para realçar a novidade: Noite da cizânia e dia do trigo; inimigo anónimo e dono conhecido e amigo do campo; pressa de limpeza dos empregados e paciência benevolente do senhor do campo e mestre na interpretação das leis da natureza, da experiência da vida e das lições da história; espontaneidade emocional reactiva e auto-domínio sustentado e respeitador pela lentidão da mente humana, necessitada de explicações complementares a fim de se abrir à compreensão dos mistérios do reino e de sintonizar com a sua progressiva realização. Belos e expressivos contrastes que facilitam a tarefa dos humildes e pequeninos e deixam “perplexos” os sábios e ricos de si mesmos e dos seus bens.

A parábola do trigo e do joio manifesta à evidência a actualidade da mensagem cristã: o reconhecimento das diferenças plurais que coexistem no mesmo campo/mundo, a liberdade de todos agirem responsavelmente, a diversidade de tarefas/missão, a existência de forças aguerridas que procuram anular o adversário, o valor do tempo e das suas leis na realização humana, a chave da história e da sua abertura ao futuro definitivo – o celeiro do bom trigo. Esta chave está nas mãos de Deus, que em Jesus Cristo, abre o livro da vida e lê o que, entretanto, fomos escrevendo com as nossas opções livres e atitudes responsáveis. Este é um dos alicerces mais firme da esperança.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

DAR FRUTO A CEM POR UM

 

Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro

Jesus quer mostrar o vigor da Palavra de Deus e compara-a a uma semente que o agricultor lança à terra. Tem perante si a multidão encantada com os seus ensinamentos e quer iniciar os discípulos na compreensão dos mistérios do Reino. Está na margem do Lago de Tiberíades, onde se encontram barcos arrumados após a faina da pesca. Pede ao dono de um deles que o receba e, juntos, avançam mar adentro de modo a ficar a uma distância suficiente para se fazer ouvir. Senta-se e começa a falar àquela gente sobre muitas coisas.

Mateus – o autor do relato – escolhe este cenário para dar início à parábola do semeador, a primeira de sete: a semente, o joio, a mostarda e o fermento, o tesouro e a pérola, e a rede. Junta-as em série, embora não tenham sido narradas todas seguidas. Daí, alguma incongruência nas alusões feitas. De permeio, aduz a razão de Jesus ao optar por lhes falar em parábolas: “Abrirei a minha boca em parábolas e proclamarei coisas ocultas desde a criação do mundo”.

As “coisas ocultas” referem-se ao Reino de Deus, presente de forma velada na humanidade e agora anunciado explícita e publicamente por Jesus. Reino que é presença benfazeja, garantia de situações mais humanizadas, gérmen de um plenitude desejada, realidade promissora sujeita às leis do tempo e condicionada pelas forças que se cruzam na natureza e na história. Reino que, sendo de Deus e tendo o seu dinamismo, é realizado por Jesus e prosseguido por aqueles que aceitam a sua palavra e se fazem seus discípulos (Igreja nascente). Reino que é “justiça, paz e alegria no Espírito Santo” Rm 14, 17.

“Felizes os vossos olhos porque veem e os vossos ouvidos porque ouvem” declara Jesus, com selo de garantia sem prazo de limite de validade, aos discípulos desejosos de compreenderem o alcance do que estava a acontecer. Felizes os que têm o olhar puro e apurado, descobrem as sementes do reino quais sinais da presença de Deus no mundo e e exultam com os esforços humanos por lhes dar rosto pessoal na convivência social e nas comunidades cristãs. Felizes os que, cheios de alegria confiante, saem da sua comodidade e indiferença, vencem obstáculos de todo o tipo e são presença amiga junto dos que estão sós, andam em conflito e vivem amargurados. Felizes os que resistem às investidas das “aves de rapina” que comem o que é dos outros ( e há tantas! E deixam tão pouco para os infortunados), dos amigos da terra queimada (quanto pior, melhor), dos insidiosos e caluniadores que sufocam o bom nome das pessoas de bem e asfixiam a sua honradez e dignidade. Ai dos caluniadores, dos corruptos, dos exploradores e de tantos outros! É de bradar aos céus o que fazem à boa semente da vida humana e da sua dignidade, da justiça e da sua honesta aplicação.

Felizes os que ouvem os gemidos de tantos milhões e as boas notícias de quem procura ajudá-los na sua libertação do jugo infernal da fome, da sede, da doença, da ignorância, da guerra. Felizes os voluntários de todas as causas humanitárias que, tendo feito, testemunham confiadamente os valores da solidariedade fraterna, do compromisso libertador, da entrega generosa por amor de doação. Esta é a boa semente que produz a cem por um. “O bem tende sempre a comunicar-se. Toda a experiência autêntica de verdade e de beleza procura – afirma o Papa Francisco - por si mesma, a sua expansão; e qualquer pessoa que viva uma libertação profunda adquire maior sensibilidade face âs necessidades dos outros. E, uma vez comunicado, o bem radica-se e desenvolve-se” (A Alegria do Evangelho, nº 9). 

quinta-feira, 3 de julho de 2014

ORAÇÃO DE JESUS. EU TE BENDIGO, Ó PAI

 

Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro

A reacção inicial à mensagem de Jesus manifesta um povo infantil – como as crianças que se divertem na praça pública –, uns fariseus rígidos nas suas convicções e um “resto” fiel aberto à novidade de Deus e confiante na realização das promessas feitas. Perante esta diversidade, Jesus faz uma oração de bênção a Deus Pai, exclamando: “Eu Te bendigo, ó Pai…”, oração que apresenta uma leitura da situação e abre horizontes de esperança para o futuro enraizado no presente. 

“Eu Te bendigo, ó Pai” porque deste a conhecer o teu projecto de amor a todos e queres realizá-lo com a cooperação de cada um; confirmaste esta decisão de muitos modos ao longo da história, mas agora por meio da missão que me confiaste e, a partir de mim, àqueles que escolhi – os meus discípulos e seus sucessores; abençoaste a minha preferência pelos pequeninos do reino, pelos mansos e humildes de coração.

“Eu Te bendigo, ó Pai” porque estás sempre comigo e, por meio de mim, desvendas o teu rosto bondoso e amigo, sorridente perante o agir dos seres humanos – homem e mulher - que acompanhas com solicitude confiante, pronto para o perdão das suas negligências e recusas, compassivo e misericordioso; por mim, queres realizar a maior prova de humanidade, mediante a minha entrega incondicional à defesa da dignidade humana e da verdade que liberta por amor. E fomos até à cruz do Calvário!

“Eu Te bendigo, ó Pai” porque compensas os cansados da vida – física, afectiva, intelectual, espiritual, moral, relacional – e os oprimidos pelo sem sentido do ram-ram da rotina, pelo peso das normas e leis desumanizantes, pelas burocracias administrativas, pelas tensões e conflitos desgastantes; ofereces-lhes um “espaço” novo – o meu coração – aberto a todos para que possam respirar o alívio suave da humildade e da mansidão e sintonizar com o seu ritmo de amor que se faz serviço ousado constante.

“Eu Te bendigo, ó Pai” porque queres dar-me a conhecer como sendo igual a Ti e mestre da humanidade, Teu Filho e tua palavra que é necessário escutar. Bendigo-te pelo esforço de tantos que estudam a nossa presença nos segredos da natureza para que sirvam melhor a humanidade; por tantos que nos descobrem e apreciam no santuário da consciência humana para que possam agir rectamente, recebendo o apoio da nossa luz e verdade; por tantos que nos encontram nas situações sofridas e injustamente impostas – os meios de comunicação trazem ao olhar, nem sempre ao coração, a “ponta” aterradora deste mundo infame – e conscientemente se dispõem a socorrer-nos, aliviando a miséria consentida; por tantos que saboreiam a suavidade da nossa companhia e a leveza do nosso amor vivendo o seu dia-a-dia com o espírito que de nós procede e nos relaciona, reservando tempos de encontro na oração meditada, realinhando algum desvio moral na purificação da consciência, sendo membros responsáveis da sociedade e da comunidade cristã, dando testemunho de nós, “rumando” ao futuro definitivo onde todos conviveremos em família. “Eu Te bendigo, ó Pai, porque assim foi do Teu agrado”. 

Não nos privemos da maravilha da oração de Jesus, saboreemos a sua mensagem e, confiadamente, deixemo-nos interpelar.