segunda-feira, 27 de julho de 2015

Multiplicar ou dividir? Outra coisa melhor.

 

Pedro José L. Correia  |  Justiça e Paz – Aveiro

Pedro José L. Correia

“Como em tudo, os vícios têm sempre uma contrapartida de virtudes.

O bom e o mau, o pior e o melhor andam muitas vezes juntos.

E os mornos são sempre mornos: se calhar não matam ninguém,

mas se tiver um desgraçado a afogar-se também não o salvam”.

Jaime Nogueira Pinto, in Jornal “i, nº1947, 25/26-07-2015, p.26.

[1] Pequena nota de calendário litúrgico. Vamos deixar de lado a leitura de Marcos (dada a sua brevidade não é possível reparti-lo em 30 domingos…). Por cinco domingos seguidos vamos ler o Evangelho de S. João, no capítulo 6. Aqui Jesus faz o milagre a multiplicação dos pães e peixes [na verdade, São João fala de sinais (manifestação de glória) e não de milagres (atos de poder)].

Este «sinal» na linguagem de João é o único «milagre» (além da ressurreição) descrito nos quatro Evangelhos. Aparece não só nos Sinópticos (Mc+Mt+Lc), mas também no Evangelho de João. Neste evangelista cada pormenor é uma alusão importante para saber ler o que realmente ele nos quer dizer.

Neste relato há uma explicação “original” de que se tratou, de facto, de um «milagre da partilha», mas que os opositores negam como sendo «fácil», de modernamente, explicar aquilo que é inexplicável. Algumas autoridades da Bíblia alertam: eis um exemplo de como não se deve interpretar esta passagem […confesso que no púlpito para fiéis… e à volta da mesa de café, para contra-argumentar, andei também por aí…].


[2] Esta passagem pode ser o exemplo típico, do nosso mal-estar frente à divindade de Jesus, preferindo, substancialmente, a sua humanidade. Mas Jesus Cristo continua «irritantemente único».

Nesta versão de João diz-nos que o acontecimento teve lugar perto da festa Páscoa, nomeia os discípulos presentes, chega mesmo a descrever que tipo de pão [de cevada, estabelece uma ligação com a festa judaica, e, assim, talvez um paralelo com a Última Ceia] que foi utilizado. Jesus pergunta a Filipe para ter perspectiva de «solução» e a resposta vem em drama e medo (talvez até de motim!?). André, irmão de Pedro, fala que se encontra entre eles um rapazito insuspeito. - De repente entramos nós: divisão ou multiplicação? – No fim de história: comeram quanto quiserem e ficaram saciados. - E voltamos nós: que fazer ou deixar de fazer?


[3] Maior «sinal» educativo de João é não fazer de Jesus o “REI”, tipo “tapa-buracos-resolve-na-hora”… Ele retirou-Se, novamente, sozinho para o monte. Estamos diante de Jesus: plenamente humano e plenamente divino. Alguns pontos de meditação prática: (i) “Deus agarra em coisas pequenas e torna-as grandes”; (i’) “Ou apreciemos como Deus pode criar algo grande a partir de uma coisa pequena [desvalorizada, absurda, insignificante… à margem]; (i’’) “Somos convidados a confiar que os poucos pães e peixes que trazemos servirão de alimento, mesmo que nós próprios não possamos ver os resultados”; (i’’’) “Às vezes, a mínima palavra ou gesto pode mudar uma vida” [sem dramatismos… presença e omissão: discernir a quantidade pela qualidade]; (i’’’’) “A única coisa que nós temos de fazer é de apresentar, generosamente e sem vergonha, o pouco que temos” (Cfr. MARTIN, James, S.J., Jesus: Um

Encontro Passo a Passo, Paulinas Editora, Prior Velho, 2015, pp.285-305).


Imaginemos que somos Jesus, com este «sinal» de poder fazer a «diferença» [em psicologia, pedagogia e ética]: A quem daremos os «pães»? Que «pães» é preciso dar e como os daremos? Jesus garantiu que faríamos “multiplicações ou divisões” maiores do Ele fez. É Hora de começar Agora!

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