Pedro José Correia | Justiça e Paz – Aveiro
(9 de Novembro) – por Pe. João Resina Rodrigues(*)
Ez 47, 1-2.8-9.12 - «Vi a água sair do templo
e todos aqueles a quem chegou esta água foram salvos» (Ant. Vidi aquam)
1 Cor 3, 9c-11.16-17 - «Vós sois templo de Deus»
Jo 2, 13-22 - «Falava do templo do seu Corpo»
I. Reflexão
“Durante cerca de duzentos e cinquenta anos, o Império Romano perseguiu os cristãos com grande dureza e crueldade. O édito de Milão, assinado por Licínio e Constantino em 313, concede-lhes a liberdade de culto. Puderam escancarar as portas das casas onde até aí celebravam a Eucaristia em segredo. Puderam fazer Igrejas. O imperador Constantino mandou construir para os cristãos um templo semelhante aos grandes edifícios públicos do Estado, as basílicas.
Esta primeira basílica cristã, a de Latrão, foi consagrada em 9 de novembro de 320. Considerada como “a igreja-mãe de todas as igrejas de Roma e do mundo”, era e continua a ser a catedral do bispo de Roma. (A Basílica do Vaticano é uma nova “capela” do Papa, construída no lugar onde São Pedro foi martirizado, e importante pelo espaço que disponibiliza para as cerimónias.)
Celebrar a dedicação da Basílica de Latrão não é um puro arcaísmo romântico. É um convite a dois tipos de reflexão: sobre a maneira como queremos entender-nos com os outros homens e sobre o significado do templo.
Os cristãos começaram por ser pobres e perseguidos, ninguém os queria ao pé. Veio o dia em que foram aceites. Em breve, a Igreja alcançou poder e riqueza, e fez o que lhe tinham feito a ela. Desprezou os que não lhe pertenciam, quis mandar em toda a Terra, perseguiu os que pensavam ou viviam de maneira diferente da sua. Houve cruzadas e houve a Inquisição. Finalmente, voltámos a ler o Evangelho com o coração mais humilde. E foi possível o II Concílio do Vaticano. «A pessoa humana tem direito à liberdade religiosa… Os homens têm o dever de buscar a verdade,… mas a verdade não se impõe senão pela sua própria força.» (Dignitatis humanae, n.os 1-2) «O Concílio declara estar consciente de que o propósito de reconciliar todos na unidade de uma só e única Igreja de Cristo excede as forças e a capacidade humana. Por isso, colocamos inteiramente a nossa esperança na oração de Cristo, no amor do Pai e no poder do Espírito Santo.» (Unitatis redintegratio, n.o 24)
Sublinhe-se que isto não significa que resolvemos achar normal que “cada um tenha a sua verdade”. Queremos continuar a anunciar Jesus Cristo e o Evangelho, e cada vez com mais vigor. Mas começámos a obedecer ao conselho de São Pedro, quando nos manda dar testemunho da nossa esperança, «com mansidão e respeito» (1Ped 3,16). Não nos irrita que existam nas nossas cidades ou aldeias sinagogas, mesquitas e outros templos. Queremos que existam igrejas. E ficamos felizes se as igrejas, as sinagogas, as mesquitas e outros templos forem espaços de fé e de oração, significarem menos a oposição das crenças e significarem mais a procura de Deus e a aceitação do diálogo.
As nossas igrejas e capelas são, em si mesmas, sinal do Deus de Jesus Cristo. São o espaço onde celebramos a Eucaristia, onde gostamos de rezar, com os irmãos ou a sós, onde podemos reunir-nos. As igrejas católicas e as igrejas ortodoxas encerram outra riqueza: conservam nos seus sacrários o Pão que sobejou da Eucaristia e fica presente para a nossa adoração.
Quando aos textos desta missa: O Evangelho (Jo 2,13-22) narra como Jesus expulsou os que comerciavam no átrio do Templo de Jerusalém. Era a exigência (que ainda não cumprimos por completo) de que se separe radicalmente religião e negócio. A primeira leitura, tirada do profeta Ezequiel (Ez 47, 1-12), traz a imagem da água que jorra como de uma fonte sem fim. Na verdade, acreditamos que o amor devia ser à imagem do dom de Deus, que não se esgota nem se cansa. A segunda leitura, de São Paulo aos Coríntios (1 Cor 3,9-17), afirma que cada homem é templo de Deus. O seu alicerce é Jesus Cristo, o Espírito Santo habita n’Ele.
Se tomássemos esta palavra a sério, como seria cheia de paz a presença a Deus e o encontro com os irmãos! (09-11-2008)”.
II. Oração
Deus de Jesus
Jesus de Nazaré,
que Deus nos revelaste?
Não construíste uma arca como Noé
para salvar-te com os justos.
Não edificaste como Salomão
um templo morada de Javé.
Não conduziste como Moisés
um povo à terra prometida.
Não tiveste como Abraão
uma constelação de descendentes.
Tu, Jesus
afogado no dilúvio
vida derramada pelas ruas,
templo desmoronado
em teu corpo indefeso,
geografia sem fronteiras
e sem punho proprietário,
povo universal
latejando em todo sangue
que Deus nos revelaste?
Jesus de Nazaré
limitado e corporal,
universal e justiçado,
o único futuro
tão presente,
que Deus nos revelaste?
(*) FONTES: RODRIGUES, Pe. João Resina (1930-2010), A Palavra Para os Homens – Textos Temáticos, Paulus Editora, Lisboa, 2012 pp. 322-323); Cfr. http://www.ihu.unisinos.br/espiritualidade/comentario-evangelho/500121-dedicacao-da-basilica-de-latrao-evangelho-segundo-joao-212-22, acesso: 08-11-2014.
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