sábado, 19 de abril de 2014

Sobre a Substância da Páscoa

 

Pedro José Lopes Correia  |  Justiça e Paz – Aveiro

 


No termo da Quaresma está a Semana Santa, e esta culmina com a maior festa do ano litúrgico, a Vigília Pascal – que forma um todo com o Tríduo Pascal (quinta, sexta e sábado da vigília pascal), da qual não pode ser separada – que se prolonga durante os 50 dias do Tempo Pascal. Depois dos 40 dias da Quaresma, temos os 50 dias da Páscoa.

Nossa celebração da Páscoa tem origem na páscoa dos Judeus, que Cristo também na sua vida terrestre celebrou, dando-lhe novo sentido. A Páscoa dos Judeus era uma comemoração da libertação do povo de Israel da escravidão a que estava submetido no Egipto. Conforme o Livro do Êxodo, capítulo 12, durante a noite em que os primogênitos dos egípcios eram vitimados, os israelitas estavam reunidos (e eram poupados) para comer o cordeiro que havia sido sacrificado na véspera, pela tarde, e cujo sangue havia sido posto sobre as duas ombreiras e as vergas das portas das suas casas. Sob a liderança de Moisés os hebreus libertaram-se dos egípcios e atravessando o Mar Vermelho, iniciaram a caminhada de 40 anos para a Terra Prometida. 

Resumidamente, todos os anos os Judeus celebravam esta festa de libertação, e Cristo a celebrou com eles.

A nossa Páscoa é uma comemoração actual da libertação por Cristo de toda a humanidade da escravidão do pecado e da morte. Não há imolação do cordeiro pascal, mas é o próprio Cristo, filho de Deus feito homem, que dá a sua vida por nós na Cruz e que ressuscita glorioso ao terceiro dia. É uma libertação espiritual, mas que deve caminhar para uma libertação plena, também corporal, e sobretudo na nossa possibilidade histórica, construir uma transformação justa do mundo em que vivemos. Aspiramos e queremos a realização do Reino definitivo de Cristo Ressuscitado!

A morte e ressurreição de Cristo são os elementos centrais da celebração da Páscoa. Às vezes a nossa devoção popular fica concentrada nos sofrimentos da Paixão de Cristo, parecendo esquecer a ressurreição. Paulo afirma de modo contundente na 1ª carta aos Coríntios: “Se Cristo não ressuscitou, vossa fé é ilusória” (1Cor 15,17). Todo o testemunho da Igreja está fundado num acontecimento histórico ocorrido na madrugada do Domingo de Páscoa em Jerusalém, a descoberta do túmulo vazio em que Jesus havia sido sepultado, e, depois, nas múltiplas aparições (mais que refutada a tese da “alucinação” pessoal e/ou colectiva; desnecessário aí voltar, só por ma fé ou desonestidade intelectual…) de Jesus ressuscitado, primeiramente, às Mulheres, aos Apóstolos, a discípulos (…todos os caminham passam por Emaús, Lc 24, 13-35) e, certa vez, até a mais de 500 discípulos juntos (1Cor 15,6).

Numa dada ocasião Jean Guitton, foi questionado sobre «Como desejaria morrer?». Respondeu: “Em plena consciência e no dia de Páscoa, porque é o dia da Ressurreição. Eu quero viver e morrer desperto, não quero ser surpreendido. Tenho a certeza de ser interrompido e receio somente uma interrupção que não seja esperada. Quando eu passar da vida para a Vida, vejo-me transportado e radiante. Desfrutarei por fim tudo o que procurei durante toda a minha longa vida, e que continua a ser um mistério. Antes de tudo, gostaria de morrer simultaneamente em plena actividade e em pleno repouso, quer dizer, em abandono. Que fosse uma separação irisada, sem dor” (cfr. O Livro da Sabedoria e das Virtudes Reencontradas, Editorial Notícias, p.157).

Não teria sentido celebrar a Páscoa se Cristo não tivesse ressuscitado por mim, por cada um de nós! ATREVEMO-NOS a fazer da «Visita Pascal», tão bem enraizada na cultura doméstica e social, um desafio permanente para não deixarmos a Vigília da Páscoa e o Domingo da Ressurreição, como um apêndice em que o povo “participou” já cansado das cerimónias dos dias anteriores. Páscoa é a maior solenidade de Cristo, mas é também a nossa maior festa pessoal e comunitária. VIVE: isto é, precisamos do atrevimento para acreditarmos na nossa Ressurreição futura, com Esperança incondicional!

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