terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Cristianismo em choque operativo: “deverás ser feliz”


Pe Pedro José Lopes Correia  |  Justiça e Paz-Aveiro
– ensaio brevíssimo –
       1. As comparações são inevitáveis. Um, João Paulo II, devia ter tomado (minha opinião de batizado, pela formação que recebemos dentro de casa... não queria um "avo meu" a sofrer em público, diante da TV...) a atitude da renúncia e não o fez. Outro, Bento XVI, "ainda" nada o fazia prever... - pois já sabíamos que a um papado "gordo" sucede (quase sempre) um papado "magro" - não negando a si mesmo a disponibilidade do desgaste  e o não reconhecimento da Verdade, que é encontro/acontecimento pessoal com "Jesus de Nazaré", decide voltar a tocar piano e escrever livros (comentando, principalmente, os livros de "Outros"...) que é o que de melhor nos deixará. Qual a atitude verdadeira? Sem partilhar dos comentários " situacionistas", ambas são atitudes dignas. Não renunciou e não concordei. Fez o que o Espírito e a Consciência lhe inspirou. Renunciou, e não "devia" ter sido papa - longe de mim dizer que perdemos quase 8 anos... - e fez muito bem, pois fez o que o Espírito e a Consciência lhe transpirou. A Consciência é a grande vitoriosa[1] nas duas «situações»; isto, sim é de ter em conta nas mudanças a fazer/acontecer. Sem pressas claro.
      2. Oportunidade de releitura: avaliar é converter as rotas; descobrir onde o Vento Sopra. Vale a releitura de "Depois deste gesto de Ratzinger, o papado dificilmente será o mesmo", por Jorge Almeida Fernandes, in Público (12-02-2013, p.4). Saudades imensas dos comentários “criativos” de António Marujo. É agora o tempo fazer “apostas”. Eu aposto, decididamente, no Espírito Santo. Um papa fora da Europa-para-já. Não quer isto dizer que da “Europa” não fosse bom, que o é. Um papa… heresia “sustentável”, qualquer um o poderá ser, emende-se, entre os cardeais capazes. A Igreja não é um homem «só»; é um governo colegial (não é sinónimo de democracia). O problema «está-mais-a-baixo»; ou “ao lado”, dá pelo nome de Cúria Vaticana (e suas redes…). E se descermos mais ainda. E lermos o lúcido e provocante, por exemplo, capítulo 13, “Obispos para el siglo XXI”, de González FAUS[2]: bispos sejam “bispos”; sejam apóstolos; sejam “criadores de comunidade” (esforço (in)consequente, ou não, da nossa Missão Jubilar); sejam «colégio». «Isto» tudo – inevitável lugar incomum - porque a vocação para Papa faltará ou não… Como a vocação para Padre está (desde sempre) em grave crise… simples peões. Mas nunca se ouvi dizer que a falta de vocação para Bispo fosse um tormento, ou mesmo de Cardeal (todos os outros títulos são “chupetas-para-criança-mal-nutrida”; peço desculpa/perdão, porque os há enquanto “nomeados”, que nunca perderam a Dignidade, e são um exemplo, contudo, vão sendo uma minoria raríssima…).
      Entretanto, vou “votar” através da minha/nossa oração diária, até surgir o fumo branco! Farei apostas limpas, não fosse evangélico: “Não podeis servir a Deus e ao Capital”. Quero dizer o “capital-em-estado-puro”, isto é, solidário, livre e justo, despido de todas as “especulações” diabólicas.
      3. Fazer uma leitura de fé, nas partes significativas, do “Discurso de resignação do Papa Bento XVI”, marcará a nossa Quaresma (40 dias) que prepara a Páscoa, sobretudo, até à chegada do Dia de Pentecostes (50 dias do tempo pascal) – “(…) Depois de examinar reiteradamente a minha consciência perante Deus, cheguei à certeza de que, pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério de Pedro (petrino). (…) No mundo actual, sujeito a rápidas transformações e sacudido por questões de grande relevância para a vida da Fé, para governar a barca de S. Pedro e anunciar o Evangelho é necessário também vigor, tanto do corpo como do espírito. Vigor que, nos últimos meses, diminuiu em mim de forma que tenho de reconhecer a minha capacidade para exercer de boa forma o ministério que me foi encomendado. Por isso, sendo consciente da seriedade deste acto, e em plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, sucessor de S. Pedro, que me foi confiado pelos cardeais no dia 19 de Abril de 2005. De forma que, a partir do dia 28 de Fevereiro de 2013, às 20h (19h em Lisboa), a sede de Roma, a sede de S. Pedro vai ficar vaga e deverá ser convocada, através daqueles que têm competências, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice. Queridíssimos irmãos, dou-vos as graças de coração por todo o amor e trabalho com que trouxeram até mim o peso do meu ministério e peço perdão por todos os meus defeitos (…) - Vaticano, 10 de Fevereiro de 2013”
       4. O cristão-que-se-quer-bom, abstém-se de todos os atos/atitudes rotuladas com o “pecado”. Isto, é claro, é um mandato recomendado pelo Evangelho: “Amar ao próximo como a si mesmo” é uma disposição positiva. Precisamos com o “último” testemunho papal de uma espiritualidade baseada no amor à vida, no prazer de crescer em conjunto e nas realizações positivas futuras. A Bondade do cristianismo está na proposta de felicidade, expansiva, generosa, ética e alegre: quando formos capazes de contagiar os outros. Se fosse assim, nesta quaresma da resignação papal, uns poucos “defeitos”, diríamos popularmente, pecadilhos, seriam considerados como de importância menor. Apenas isto: «Se sou batizado, devo ser um convertido feliz».
Pedro José, CDJP, Gafanha da Nazaré/Encarnação, 12-02-2013, caracteres (incl. esp), 5783.

[1] Apenas um “clássico”: VALADIER, Paul, Elogio da Consciência, Instituto Piaget, Lisboa, 1996, pp. 283.
[2] GONZÁLEZ FAUS, José Ignacio, Calidad cristiana: identidade y crisis del cristianismo, Ed Sal Terrae, Santander, 2006, pp. 242-256. Outras obras “poderosas porque históricas” do mesmo autor: (1) Nenhum bispo imposto (S. Celestino, papa): As eleições episcopais na história da Igreja, Ed. Paulus, 1996, pp.149; (2) La autoridade de la verdade: momentos oscuros del magistério eclesiástico, Ed Sal Terrae, Santander, 22006, pp. 333; (3) Outro mundo es posible...desde Jesús, Ed Sal Terrae, Santander, 2010, pp. 446.








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