segunda-feira, 17 de junho de 2013

o amor que nasce da impotência


Pedro José Correia  |  Justiça e Paz-Aveiro

«Nós temos um intervalo entre nascer e morrer. Só um. Só um intervalo. Só um tempo. Só uma vida»
[Miguel Esteves Cardoso]


     A negação que alimenta a Vida. Um Deus que se aproxima e se sente negado na água, no beijo, no óleo. A água que é a pureza e o bem; o beijo, que é o amor; o óleo, que nos envolve, nos unge e amacia o coração. Eis o fariseu da negação quase total. Ficou a corda quase partida.
     Na mulher o medo deu lugar às lágrimas. Reparemos no contraste, tudo se dá e nada se guarda. Na atitude da mulher ferida e humilhada, surge a dignidade e a abertura. Eis a Mulher da afirmação quase total. Ficou a língua solta pelo Silêncio nobre.
     Vem a explicação que tudo baralha. O que está em causa não é saber quanto amor é preciso para poder obter o perdão dos pecados. Trata-se de saber quem está mais disposto a amar: aquele a quem foi perdoado muito ou aquele a quem foi perdoado pouco? Eis o nosso desentendimento parcial.
     Estão juntas duas realidades que parecem diferentes. Amar e perdoar. Nós consideramos que amar é uma coisa e perdoar é outra. Perdoar é sempre um gesto de cima. Eu perdoo, porque sou melhor que os outros. Jesus não permitiu que entendamos o perdão deste modo. “O perdão nasce do amor”. Pensamos nós. Nossa lógica (psicológica).
     Separações duras, mortes violentas, conflitos que deixam marcas, mágoas e até ódios. Façamos um teste a nós próprios. A avaliação está reservada à misericórdia de Deus. O amor mede-se pelo tamanho do perdão. Primeiro, vem o perdão e só depois, o amor. “O amor nasce do perdão”. E não o contrário. Age Deus através de nós. Nossa antropologia (teológica).
       Precisamos de ver as duas realidades juntas. Ambas fecundam a Vida: na negação da mesma Vida. Arrancar a Indiferença dentro de nós. Se não dermos o passo do Perdão, não chegaremos ao Amor. Se sou capaz de perdoar, eu amo. Se não sou ainda capaz de perdoar, tenho ainda e apenas a ilusão de que amo, mas ainda não aprendi a amar. Não estou só.
      O perdão é a-histórico. O amor é eterno. A eternidade fecunda a história em todos os instantes que perduram. O Perdão é o Amor Ressuscitado! Só então, perdoamos e amamos, ou se for a ocasião, amamos e perdoamos. Eis a nossa amenidade limonada!?









Sem comentários:

Enviar um comentário