segunda-feira, 19 de maio de 2014

SENHOR, MOSTRA-NOS O PAI!

 

Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro

“Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta”, pede Filipe a Jesus na ceia de despedida, na conversa subsequente em que intervêm outros apóstolos. Tomé abre também o coração, expõe o seu desnorte na compreensão do que o Mestre dizia e interroga-o directamente. Pedro mantém-se silencioso, possivelmente a “mastigar” a premonição que acabava de ouvir: “Antes que o galo cante me negarás três vezes”, ele que havia jurado fidelidade até à morte.

A prece de Filipe ficará para sempre como memorial das aspirações mais genuínas do coração humano: Ver a Deus que Jesus mostra. A interrogação de Tomé prolonga-se na história e suscita as mais diversas reacções do espírito em busca da  verdade e do caminho para a alcançar. O silêncio de Pedro ecoa em tantas consciências emocionais instáveis que definem os critérios da moralidade conforme as conveniências. Tão actual, também!

Filipe, Tomé e Pedro constituem, de modo emblemático, o rosto do homem de todos os tempos, necessitado de companhia solidária para o seu agir, atormentado por inquietações que martirizam o seu espírito, ávido de  uma vida feliz que experimenta a conta-gotas e quer usufruir em cheio para sempre. Manifestam a dimensão mais bela do ser humano: ser porta-voz das aspirações profundas da consciência que pretende acertar na avaliação ética das situações e na abertura à verdade que liberta e conduz à vida moral. Testemunham e transmitem a recíproca atracção do nosso coração por Deus que, por sua vez, deixa a marca original impressa no homem/mulher, sua criatura por excelência, e constantemente vem ao seu encontro para celebrar com ela a aliança de amor.

As declarações do Mestre pareciam não augurar nada de bom. As incertezas avolumam-se. A agitação interior instala-se E a pergunta toma rosto humano: Que lhes aconteceria, depois da partida do Mestre em quem depositaram as esperanças do seu futuro? O ambiente respirado por todos é pesado, tristonho, inquietante.

Jesus, sereno, tranquiliza-os e, como bom pedagogo, faz-lhes um belíssimo ensinamento sobre a sua relação com Deus Pai e connosco, na vida presente e na futura. Acreditai em mim, vou preparar-vos um lugar para que onde eu estiver vós estejais também. Quero que todos vivamos nas muitas moradas da casa de meu Pai – deixa-lhes como pedido e garantia. Que anúncio feliz. Merece uma resposta coerente.

“Cada pessoa tem dentro de si o caminho mais importante e a voz mais necessária – insistem os monges cistercienses junto de quem os visita -, «voz de um fino silêncio»; só precisa de a procurar, através das ferramentas do silêncio, da leitura, da escuta do outro, e dos ritmos quotidianos. Que pista a percorrer e que ferramentas a usar para sermos cristãos a caminho e vermos o Pai que Jesus nos mostra.

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