sexta-feira, 26 de julho de 2013

PAIZINHO QUERIDO


Georgino Rocha |  Justiça e Paz – Aveiro


A resposta de Jesus abre novas dimensões ao pedido que o seu discípulo lhe faz para ensinar o grupo a rezar. São dimensões familiares que manifestam o ser de Deus na sua relação connosco, que o fazem presente nas entranhas filiais de cada humano, que o definem e tornam reconhecido como a fonte de vida comum que gera “um nós” inconfundível e original. Constituem, por isso, a verdade que nos identifica e consolida na existência e a realidade performativa que nos impele a viver cada vez mais de acordo com a matriz do nosso ser humano.
O pedido do discípulo surge após a oração de Jesus. Que haveria de especial neste gesto de Jesus para ele se sentir tão desejoso e impressionado? É certo que os mestres ensinavam os discípulos a rezar, transmitindo-lhes o resumo da mensagem que pretendiam difundir. Jesus praticava a oração com normalidade no decorrer do dia e das festas, sozinho e em família, com o grupo de acompanhantes, em lugares silenciosos, nos espaços públicos, na sinagoga, no templo. O grupo sabia-o e podia testemunhá-lo.
A novidade está, sem dúvida, na relação filial que manifesta ao dirigir-se a Deus como Abba, Papá querido, e consequentemente em “reconfigurar” o rosto de Deus no coração humano, em condensar o seu projecto de salvação em preces e atitudes vividas por ele e transmitidas aos discípulos, seus fiéis seguidores.
O desejo expresso pelo discípulo desvenda o melhor do ser humano: ser chamado a conhecer as suas capacidades e limitações, a ultrapassar-se a si mesmo – a sua vocação é Deus, a plenitude que Jesus nos revela -, a crescer na relação solidária, fruto da irmandade comum, a cuidar e apreciar tudo o que é humano como dom recebido a transmitir.
Que contraste tão interpelante com o rosto social do homem de hoje, a cultura da satisfação, a sociedade cansada e fechada sobre si mesma, com as confissões religiosas “descafeinadas”, adormecidas, a Igreja inibida no seu conjunto perante minorias aguerridas que dizimam as referências fundamentais da comum humanidade!
“Paizinho querido” mostra o teu rosto claro na consciência de cada pessoa e enriquece-a com os dons do teu Espírito para agir rectamente; faz brilhar na relação humana a ternura da tua atenção a todos de modo que surja a civilização do amor, a cultura da vida; dá a conhecer cada vez mais o teu Nome, o projecto de felicidade sem distinção de raças nem de cores; manifesta o teu Reino em realização crescente, o triunfo do amor e da paz, da justiça e da verdade em todo o mundo; dá-nos “o pão nosso”, fruto do trabalho digno para todos e símbolo privilegiado de teu Filho Jesus, o pão que desce do Céu para a vida do mundo; perdoa a desfiguração que fazemos de Ti, a distância e a indiferença que perdura em nós em relação à proximidade filial que nos ofereces e à fraternidade que somos chamados a construir; não nos deixes ceder à tentação do consumismo e do espezinhamento dos direitos humanos que negam a tua proposta sonhada de igual dignidade de todos; livra-nos da tentação do comodismo egoísta, da injusta repartição dos bens, da comercialização da vida humana, do desequilíbrio crescente no planeta que cuidamos em vosso nome e gerimos em nome das gerações vindouras.
Ámen, Papá bom! Ajuda-nos a entrar e a viver nesta relação de amor que Jesus cultivou e deixou como distintivo dos seus discípulos.         

sexta-feira, 19 de julho de 2013

RECEBER JESUS EM SUA CASA


Georgino Rocha  | Justiça e Paz – Aveiro

Jesus continua a sua caminhada para Jerusalém e aproveita para fazer os seus ensinamentos, ora por gestos e palavras, ora por atitudes e parábolas. Acompanha-o o grupo dos discípulos. Avança por cidades e aldeias. Escolhe o ritmo da viagem. Atende a quem o procura e lhe manifesta um desejo. Toma também a iniciativa de ir ao encontro de quem quer. Para visitar amigos e fazer confidências. Para descansar e revigorar forças.
Seja qual for a razão, Jesus faz de cada passo uma ocasião para dar a conhecer algum detalhe da sua mensagem.
Lucas – o evangelista médico que narra a visita de Jesus a Marta e a Maria – coloca este episódio após a parábola do bom samaritano e antes da oração do “Pai Nosso”. Parece atribuir-lhe uma força emblemática: a situação marginalizada da mulher entre os judeus e a igualdade radical de todos os humanos, a urgência de caminhar para uma sociedade inclusiva que seja espelho do “nosso Pai”, da comum humanidade de todos. E define a correspondente regra de ouro: abrir a porta e saber acolher; escutar e entrar em sintonia, facilitar. Esta regra mantém um valor acrescido na cultura hegemónica que nos envolve.
Abrir a porta da casa, construção material e lar familiar, espaço da consciência pessoal e da dignidade comum, âmbito do diálogo na verdade que liberta e faz crescer. A abertura desta porta pode estar condicionada por factores externos, mas é feita sempre a partir de dentro. A chave por excelência é a fé de adesão cordial e inteligente a Jesus Cristo, fruto da Palavra de Deus. Diz o Senhor: “Já estou à porta e bato. Quem ouvir a minha voz e abrir a porta, entro em sua casa e janto com ele e ele comigo” Ap 3, 20). Não força. Aguarda uma decisão livre.
Saber acolher como Abraão que interrompe o seu descanso e se põe ao serviço de desconhecidos, prestando-lhes generosamente os cuidados usuais. Como Marta, a incansável dona de casa, que se esmera na prática das regras da boa hospitalidade. Como Maria, a ouvinte dócil e atenta, que se senta aos pés de Jesus qual discípula fiel. O acolhimento é fonte de enriquecimento mútuo. Como recorda o Papa Francisco na sua recente encíclica: “A fé ensina-nos a ver que, em cada homem, há uma bênção para mim, que a luz do rosto de Deus me ilumina através do rosto do irmão (LF 42).
Escutar e entrar em sintonia constitui a terceira fase daquela regra de ouro. Assim o mostram os modelos referidos. Escutar e decifrar as mensagens que são transmitidas por palavras e silêncios, por gestos e atitudes. E descobrir neles a pessoa e seu estado anímico e espiritual, o seu drama, a sua aspiração silenciada, o seu sonho adormecido. Entrar em sintonia para reagir positivamente e dar o passo possível. Caminhando juntos, nascemos para novas realidades, abrimo-nos ao horizonte de Deus. “A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida” (LF 4).
Construir solidamente a vida, eis a mensagem que nos é proposta ao acolhemos Jesus na própria casa.          

“LUMEN FIDEI” - Em 15 FRASES SOBRE A FÉ -

 
Pe Pedro José Lopes Correio  |  Justiça e Paz – Aveiro

Apresentamos uma leitura, em síntese, através de frases “lapidares”, de frases “desbloqueio”, de frases “chave e fechadura”, da encíclica que foi assumida, como escrita a quatro mãos (Bento XVI e Francisco, cfr. nº7, acaba por ser escrita apenas pelo teólogo papa (emérito) Joseph Ratzinger, o seu estilo é inconfundível!). Comecemos pelas frases em que a encíclica diz «o que não é a Fé». A ordem e os sublinhados são também da nossa autoria. Primeiro, deparamos com a dimensão da Disposição Negativa
1. “A fé não é um facto privado, uma concepção individualista, uma opinião subjectiva, mas nasce de uma escuta e destina-se a ser pronunciada e a tornar-se anúncio” (nº22, p.30).
2. “(…) a fé não é intransigente, mas cresce na convivência que respeita o outro. O crente não é arrogante; pelo contrário, a verdade torna-o humilde, sabendo que, mais do que possuirmo-la nós, é ela que nos abraça e possui. Longe de nos endurecer, a segurança da fé põe-nos a caminho e torna possível o testemunho e o diálogo com todos” (nº34, p.45).
3. “É impossível crer sozinhos. A fé não é só uma opção individual que se realiza na interioridade do crente, não é uma relação isolada entre o «eu» do fiel e o «Tu» divino, entre o sujeito autónomo e Deus; mas, por sua natureza, abre-se ao «nós», verifica-se sempre dentro da comunhão da Igreja”(nº39, p.53).
4. “A fé não é um refúgio para gente sem coragem, mas a dilatação da vida: faz descobrir uma grande chamada — a vocação ao amor — e assegura que este amor é fiável, que vale a pena entregar-se a ele, porque o seu fundamento se encontra na fidelidade de Deus, que é mais forte do que toda a nossa fragilidade” (nº53, p.70).
5. “A fé não é luz que dissipa todas as nossas trevas, mas lâmpada que guia os nossos passos na noite, e isto basta para o caminho” (nº57, p.75).
Segue-se uma clarificação que esconde e mostra a dimensão privada e pública da Fé. Dimensão da Decisão. Decisão provocada pela consciência do DOM. Cortar o que está a mais. Não recorremos às eruditas citações, dentro e fora da Tradição cristã, enumeradas na encíclica, porque queremos demonstrar a “pureza” da reflexão do Magistério, hoje, no seu dizer à humanidade nova. Nos ombros dos nossos antepassados conseguiremos ver mais longe com os olhos da Fé actuais?
6. “A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o Seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida” (nº4, p.10).
7. “A fé é a resposta a uma Palavra que interpela pessoalmente, a um Tu que nos chama pelo nome” (nº8, p.15).
8. “A fé é um dom gratuito de Deus, que exige a humildade e a coragem de fiar-se e entregar-se para ver o caminho luminoso do encontro entre Deus e os homens, a história da salvação” (nº14, p.21).
9. “A fé cristã é fé na encarnação do Verbo e na Sua ressurreição na carne; é fé num Deus que Se fez tão próximo que entrou na nossa história” (nº18, p.25).
10. “A fé ensina-nos a ver que, em cada homem, há uma bênção para mim, que a luz do rosto de Deus me ilumina através do rosto do irmão” (nº42, p.71).
11. “A fé afirma também a possibilidade do perdão, que muitas vezes requer tempo, canseira, paciência e empenho; um perdão possível quando se descobre que o bem é sempre mais originário e mais forte que o mal, que a palavra com que Deus afirma a nossa vida é mais profunda do que todas as nossas negações” (nº55, p.73).
Concluímos com um terceiro agrupamento, completando a nossa redução às 15 frases (poderiam ser mais ou menos) entrando na dimensão da Diferença ou Drama. Eis o filão genético e evangélico da Fé. Quais os limites? Entre o possível e o impossível. A metáfora da LUZ, de sabor agostiniano entre outras fontes inspiradoras, ilumina melhor a quem se sabe iluminado.
12. “(…) o olhar da ciência tira benefício da fé: esta convida o cientista a permanecer aberto à realidade, em toda a sua riqueza inesgotável. A fé desperta o sentido crítico, enquanto impede a pesquisa de se deter, satisfeita, nas suas fórmulas e ajuda-a a compreender que a natureza sempre as ultrapassa. Convidando a maravilhar-se diante do mistério da criação, a fé alarga os horizontes da razão para iluminar melhor o mundo que se abre aos estudos da ciência” (nº34, p.46).
13. “A fé ilumina a vida social: possui uma luz criadora para cada momento novo da história, porque coloca todos os acontecimentos em relação com a origem e o destino de tudo no Pai que nos ama” (nº55, p.74).
14. “Devido precisamente à sua ligação com o amor (cf. Gl 5, 6), a luz da fé coloca-se ao serviço concreto da justiça, do direito e da paz. A fé nasce do encontro com o amor gerador de Deus que mostra o sentido e a bondade da nossa vida; esta é iluminada na medida em que entra no dinamismo aberto por este amor, isto é, enquanto se torna caminho e exercício para a plenitude do amor. A luz da fé é capaz de valorizar a riqueza das relações humanas, a sua capacidade de perdurarem, serem fiáveis, enriquecerem a vida comum” (nº51, p.68).
15. ”(…) a fé cristã é fé no Amor pleno, no seu poder eficaz, na sua capacidade de transformar o mundo e iluminar o tempo” (nº15, p.22).




























terça-feira, 16 de julho de 2013

Faleceu José Dias da Silva, membro da Comissão Justiça e Paz

 

D.R.
Coimbra, 16 jul 2013 (Ecclesia) - José Dias da Silva, membro da Comissão Justiça e Paz da Diocese de Coimbra, faleceu esta segunda-feira após doença prolongada.
A missa de corpo presente vai celebrar-se esta quarta-feira, às 09h30, na igreja de S. José, seguindo-se o funeral para o Cemitério da Conchada, na cidade de Coimbra.
Numa mensagem divulgada pela família comunicando o falecimento de José Dias da Silva, pede-se para não expressar o pesar através da oferta de flores, mas por um “gesto de generosidade” que “o Zé Dias apreciaria”.
Nesse sentido, é proposto um donativo para o projeto "Fundo Solidário", do Instituto Universitário Justiça e Paz, que visa apoiar estudantes do Ensino Superior com dificuldades económicas.
Colaborador da Agência ECCLESIA, José Dias da Silva era conhecedor e defensor das temáticas da Doutrina Social da Igreja, objeto de análise em muitos artigos que escrevia para a imprensa nacional e regional e escolha para intervenções e conferências.
José Dias da Silva, casado e com dois filhos, nasceu a 15 de março de 1942, no Souto de Brejo, Pampilhosa da Serra.
Frequentou durante oito anos os seminários da Diocese de Coimbra, tendo-se licenciado depois em Físico-Químicas pela Universidade de Coimbra.
Na atividade académica, como professor e investigador universitário, “procurou contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, mais solidária e mais humana”.
“Reformou-se ao fim de vinte anos de serviço para se poder dedicar melhor às responsabilidades familiares e a tarefas eclesiais e sociais”, considerou o padre António Jesus Ramos na apresentação do livro “Memórias de um tempo futuro”, em 2006.
José Dias da Silva foi membro da Comissão Nacional Justiça e Paz, da Comissão Coordenadora Nacional das Semanas Sociais, da Comissão Permanente do Conselho Pastoral Diocesano de Coimbra e da Comissão do Conselho Pastoral da Paróquia de São José (Coimbra).
Responsável pelo módulo de Doutrina Social da Igreja na Escola de Leigos da Diocese de Coimbra, orientou minicursos sobre o tema em paróquias, movimentos e grupos de reflexão e colaborava no Instituto de Estudos Teológicos.
Entre outros títulos, publicou o livro “Viver o Evangelho Servindo a Pessoa e a Sociedade - Introdução à Doutrina Social da Igreja”.
José Dias da Silva mantinha colaborações regulares nas colunas «Fé e Compromisso», no «Correio de Coimbra»; «O Futuro Depende de Nós», no Notícias de Vila Real; «Sinais», na revista Além-Mar e «Pedra a Pedra», no Mensageiro de Santo António.
PR













quarta-feira, 3 de julho de 2013

Responsabilidade de uma Comunidade unida no serviço à Educação

 
“As aulas de EMRC não se mendigam nem se impõem automaticamente. Merecem-se.”
 
António Francisco dos Santos, bispo de Aveiro
e presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé
Com a realização dos últimos exames, calendarizados para estes dias, vemos concluído o presente ano lectivo. Isso não significa que estejam terminados na escola todos os trabalhos deste ano. A escola vive nesta hora um momento de avaliação do ano lectivo que termina e um tempo de preparação e programação do novo ano que começa no próximo mês de Setembro. Avaliar com rigor e programar com clarividência são sempre trabalho necessário a exigir acrescido esforço de toda a comunidade educativa.
Este ano, que agora se conclui, fica marcado no âmbito da Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) pela promulgação da nova legislação que vem dar renovada consistência legal ao exercício do ensino desta disciplina curricular.
Este texto legislativo orgânico, estruturado e consistente é fruto de um prolongado trabalho realizado entre a Conferência Episcopal Portuguesa e o Ministério da Educação e Ciência, que mereceu parecer favorável da Comissão Paritária, aprovação em Conselho de Ministros e promulgação do senhor Presidente da República.
O Decreto – Lei n.º 70/2013, de 23 de Maio, reúne e configura toda a legislação anterior, que foi dando forma e abrindo caminho ao direito dos alunos e dos encarregados de educação de escolherem um projeto educativo assente nos valores da educação moral e religiosa católica.
Sendo a disciplina de EMRC, na escola pública estatal, uma disciplina de oferta obrigatória e de frequência facultativa, ela inscreve-se legalmente no quadro do respeito inviolável pelo direito dos alunos de escolherem uma resposta educativa que assegure a sua formação integral.
As estatísticas revelam que a frequência desta disciplina tem sido estável ao longo das últimas décadas. Mudou a cultura de escola e transformaram-se os contextos de vida da sociedade atual, mas não se alterou nem diminuiu o desejo das famílias de encontrarem na disciplina de EMRC um necessário contributo para a educação dos seus filhos.
Tem aumentado significativamente, nos últimos anos, o número de alunos do primeiro ciclo que se matriculam nas aulas de EMRC, em conformidade com a lei. Isto diz-nos que as famílias procuram dar aos seus filhos, desde o início do ensino básico, a possibilidade de frequentar esta disciplina, conscientes dos benefícios que daí lhes advêm.
Há muitos alunos que frequentam EMRC independentemente das suas convicções religiosas e do seu credo de fé. Compreendemos todos que EMRC não é catequese nem somente educação cívica. A EMRC oferece aos alunos e à comunidade escolar um olhar de interdisciplinaridade para a beleza, valor e sentido da vida.
Ser aluno de EMRC significa aprender caminhos firmados na dignidade humana, sentir o fascínio do transcendente e a lucidez diante do tempo presente, saborear a alegria de trabalhar em conjunto, preencher de alma o viver em comunidade, ler a história com a sabedoria da inteligência e abraçar as grandes causas da humanidade com a doçura do coração. Ser aluno de EMRC consiste em moldar a vida pelos valores do evangelho de Jesus e ajuda a descobrir o encanto da fé e a paixão pela missão da Igreja.
Os protagonistas da EMRC são sempre os alunos e as suas famílias. O seu meio natural é a comunidade escolar. O seu horizonte é a plenitude da vida dos alunos sem marcas temporais e sem fronteiras ideológicas. Os seus agentes mais diretos são os professores de EMRC e a comunidade educativa no seu todo.
Ninguém na comunidade se deve alhear desta grande causa nem dispensar deste serviço à educação, a começar pelos professores e restantes agentes educativos. O segredo do êxito conseguido em tantas escolas do nosso país pela disciplina de EMRC está precisamente aqui: ela é um ato vivo de toda a comunidade, que conhece as suas crianças, os seus jovens e as suas famílias. Só uma comunidade assim unida neste agir educativo e consciente da grandeza desta responsabilidade comum consegue dar à escola o melhor de si mesma.
E aqui a Igreja tem uma palavra a dizer, um testemunho a dar e uma experiência de muitos séculos a partilhar. O professor de EMRC não está só. A escola não pode ser uma desconhecida ou ignorada da comunidade. A missão de ensinar e o direito de aprender não devem estar ausentes nem distantes do viver colectivo da comunidade no seu todo.
As aulas de EMRC não se mendigam nem se impõem automaticamente. Merecem-se. A escola tem direito de as exigir da comunidade como verdadeiro e insubstituível compromisso em prol do bem comum e da causa da educação. O ensino nas nossas escolas tem de exprimir o que a comunidade pensa, sente e quer e deve espelhar a própria alma da comunidade no que de mais belo ela possui.
A presente legislação é, também neste contexto, uma oportunidade que a escola deve valorizar, que os alunos e encarregados de educação são chamados a conhecer, que os professores de EMRC têm o dever de implementar com competência e que toda a comunidade deve assumir com verdade.
O quadro legal em que nos movemos cumpre a Constituição da República e regulamenta, naquilo que lhe concerne, a Concordata de 2004, celebrada entre o Estado Português e a Santa Sé. A adaptação a este novo enquadramento legislativo vai exigir muito da escola e da comunidade.
Pertence-nos a todos concretizar caminhos e cumprir objectivos expressos nesta legislação, para que cada vez mais os alunos possam encontrar nas aulas de EMRC as respostas a que têm direito e procurar aí os valores onde se respaldem os horizontes do seu futuro.
Nesta época de matrículas cumpre-nos sensibilizar as famílias, a escola e a comunidade para o bem que a disciplina lhes oferece. Estamos, assim, a construir uma escola melhor e a lançar bases sólidas do futuro de Portugal.
Aveiro, 1 de Julho de 2013



















terça-feira, 2 de julho de 2013

Swap (trocar) de ministros


Estamos perplexos pela inculturação portuguesa deste inglesismo! Três meses foi o tempo necessário para conhecer, adotar, aplicar nas mais altas instâncias da nação: o Primeiro Ministro “swapou” o Ministro das Finanças!
É caso para dizer que o desgaste de tudo e dos contratos “swap” consumiu o governo, provocou a erosão.
Foi um preço demasiado elevado para todos nós! E, muito provavelmente, ainda não está tudo descoberto.
Progredindo em espanto tomámos conhecimento da dimensão desta tática do jogo do dinheiro – mais uma estratégia que se revelou perniciosa!
Posteriormente foram surgindo novas “swaps” (trocas) de acusações – afinal quem fala verdade sobre o assunto?!
E, em plena crise de “swap”, até o Ministério das Finanças vai com “a água do banho”! Triste cenário este!
O Económico online publicou um pequeno artigo elucidativo. Partilhamo-lo.
“Parece um conceito complicado, mas na verdade é muito mais simples do que pensa. Saiba o que é um contrato de 'swap'.
É talvez uma das expressões mais usada por estes dias e que envolve milhões. Muitos milhões de euros.
Mas afinal o que são estes instrumentos complicados chamados 'swap'?. Na verdade são simples.
Imagine que pediu um empréstimo ao banco para comprar uma casa. Ou seja, contraiu um crédito à habitação. Esse empréstimo, na maior parte das vezes, é acordado tendo por base uma taxa de juro variável. E que sobe ou desce consoante a variação da Euribor.
Agora imagine que acredita que os juros vão subir muito nos próximos anos. O melhor, seria fixar essa taxa, travar essa subida. É exatamente isso que um contracto de 'swap' permitiria que fosse usado num crédito à habitação.
Como a própria palavra indica, 'swap' é uma troca. Neste caso uma taxa de juro variável por uma fixa.
O pior é se ao contrário do que pensava as taxas de juro em vez de subirem, descerem. Então nesse caso fica a pagar o valor fixo.
Imagine 5%, quando no mercado o preço do dinheiro já só custa 2%. Foi exatamente isso que aconteceu no caso de algumas empresas públicas. Acordaram contratos numa altura em que as taxas de juro estavam a subir, pensando que iriam subir ainda mais e tentaram trancar essa valorização.
Mas a realidade nem sempre é o que nós pensamos que vai ser. E neste caso não foi. As taxas de juro desceram e agora as perdas potenciais podem chegar aos 3 mil milhões de euros.
No fundo é como no casino. Apostamos no vermelho mas às vezes sai o preto. Há sempre alguém que ganha.”
Com tudo isto, mais uma despesa social (também na credibilidade!) para liquidar…
(in Correio do Vouga, 2013.07.03)

















liberdade interior

«Eu falo da primeira liberdade
Do primeiro dia que era mar e luz
Dança, brisa, ramagens e segredos
E um primeiro amor morto tão cedo
Que em tudo que era vivo se encarnava».
[Sophia de Mello Breyner Andresen, in Obra Poética, 2011, p. 281.]
Meditamos três textos notáveis. Plásticos e impressivos. Um do Antigo Testamento (Primeira Aliança); outro, uma carta de Paulo, e finalmente, o evangelho (por regra entra em diálogo quase sempre com o primeiro). O que está nas entrelinhas de textos tão diferentes? Qual o fio condutor que une a liturgia? Simplesmente, propõe-se: aprender Jesus. Como? Vamos reflectir.
Elias passa e chama o discípulo Eliseu. O jogo do manto. Vocação que é jogo de símbolos. O mesmo Chamamento em Jesus. Elias permite a licença para que Eliseu se despeça dos pais. Jesus nega a quem pediu a mesma coisa. Ver a questão do avesso. A questão não é despedir-se ou não. O que Jesus espera é uma profunda liberdade interior. Coisa presente nos três textos.
Paulo entendeu bem o «segredo/destino» que Jesus clamava. Livres eram os que viviam segundo Espírito (“verdadeira liberdade que Cristo nos libertou”…). Os discípulos, João e Tiago, querem o “fogo do céu!”, mas Jesus diz não à vingança sobre os samaritanos. Diante da falta de liberdade crescem (quase sempre) as ervas daninhas do Medo, do Autoritarismo e da Barbárie!?
Liberdade “primeira” que está na rua pública e dentro do quarto privado. Nas praças de todas as “Turquias” e de todos os “Brasis”. No lado avesso de todas as Greves (profissionais ou não instrumentalizadas!). Está em nós de forma cultivada e não animal. Os animais ficam aprisionadas ou não. Só o Ser Humano joga, “ao ataque ou defensivamente”, pela sua Liberdade, no acto de pensar e agir, na construção da Comunidade mais Humana (Justiça + Paz).
Aprofundemos (de cabeça e coração bem dentro…): “Nós não somos livres porque não amamos, não amamos porque não somos livres. Há um jogo difícil. O que vem primeiro: a liberdade ou o amor? Os dois são simultâneos. A liberdade prepara o amor, o amor prepara a liberdade. Nós temos que trabalhar, ao mesmo tempo, a dimensão da liberdade interior e a dimensão do amor. Os dois caminham juntos, de braços dados” (JB Libânio).