segunda-feira, 30 de abril de 2012
DAR A VIDA COMO O BOM PASTOR
segunda-feira, 23 de abril de 2012
CDJP reuniu no dia 2012.04.21
Tendo como referência para discussão Pão e Esperança na mesa da “Família”
Sinais mais negativos… - “Os jovens temem não encontrar trabalho. Não conseguem projectar o seu futuro. Sentem-se bloqueados por um eterno presente feito de precaridade. Os pais têm medo de perder a reforma, a assistência social, de acabar na miséria. O resultado é uma existência guiada pela imobilidade, sem esperança de mobilidade social, uma espécie de hipertrofia do presente”1.
Estamos num processo em que todos os recordes negativos estão a ser batidos: desemprego estrutural que está a entranhar-se na economia (sobretudo também o desemprego entre os jovens); os números da emigração que crescem; os números das hipotecas por pagar que disparam; número de insolvências (empresas e particulares); etc. “Batemos todos os dias recordes de culpa, de medo e vergonha”2.
Sinais mais positivos… – Este ano o Banco Alimentar Contra a Fome faz 20 anos de existência. É um exemplo modelar de uma iniciativa e compromisso da Sociedade Civil, em termos de organização e solidariedade diante de um problema crónico e humilhante para a dignidade humana.
“O que eu sinto é uma enorme gratidão. Ainda há quem duvide que se pode acreditar nos empregados”, garante o empresário da Sicasal, que no dia em que a fábrica estava em chamas [15-11-2011] anunciou que não iria despedir nenhum dos seus 650 trabalhadores. (…) os trabalhadores excederam-se no resgaste da fábrica, inclusive aos fins de semana, na árdua tarefa de remover os escombros do sinistro, que destruiu um edifício inteiro”3.
Sinais para caminhar…4 - “O debate sobre a grave crise do SNS está quase exclusivamente centrado nos hospitais. Trata-se de uma preocupante deturpação conceptual, uma vez que algumas soluções, comprovadas internacionalmente, desenvolvem-se nas comunidades locais, nos cuidados continuados, na parceria com o apoio social e cuidados domiciliários”5.
Que significa para a vida pessoal e comunitária, as nossas distâncias e as nossas proximidades? Que é que nos forma, por dentro e por fora, de modo próprio ou apropriado? Sem Cuidado (cuidar de…) e sem Compromisso (comprometer-se com…), «não-chegamos-lá-a-tempo».
Precisamos de tempos fecundos para estarmos de modo inteiro. Sem pressas, sem desvios e dores de parto sem vida. Precisamos de encontrar espaços de paz, de justiça, de silêncio, e de contemplação. Os nossos problemas de hoje só serão resolvidos através de padrões criativos de «novo tempo» e «novo espaço», dignos da pessoa e comunidade humanas. Aí, e só então, aprenderemos a viver, e sobretudo, celebraremos o conviver.
Pedro José - CDJP, 11-04-2012, caracteres (incl. esp) 3650.
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1 BELANCIANO, Vítor, in Público – Revista, 08-04-2012, p.10.
2 MALHEIROS, José Vítor, “Recordes e mentiras” in Público, 10-04-2012, p.45. A multinacional norte-americana do sector químico, DOW CHEMICAL, vai fechar a unidade de produção de placas de esferovite que tem em Estarreja e que garante actualmente, 19 postos de trabalho. A fábrica que irá encerrar foi inaugurada em 2003 e ampliada seis anos mais tarde (Cfr. Público, 03-04-2012, p.15).
3 ANTUNES, Conceição, “SICASAL renasce das cinzas: recuperação. A união entre patrão e trabalhadores deu frutos: na área destruída pelo fogo, a produção vai agora duplicar”, in Expresso, 21-01-2012, p.15.
4 Breve leitura de confronto/aprofundamento: AAVV, “Desigualdades em Portugal: Problemas e propostas”, Coord. RENATO MIGUEL do CARMO, Edições 70 – Coleção de bolso Le Monde Diplomatique, Lisboa, 2011, pp. 127.
5 MOREIRA, Paulo, “Saúde, demagogias e pensamento único” in Público, 04-04-2012, p.47. Neste artigo o autor desenvolve 7 dimensões afectadas pelo enviés do debate: 1) Ideias?; 2) Actores?; 3) Cidadãos? 4) Resultados?; 5)Políticas de saúde?; 6) Regulação?; e 7) Indicadores de saúde?.
quinta-feira, 5 de abril de 2012
Mensagem de Páscoa “Este é o dia do Senhor: alegremo-nos nele” (Sal 118)
António Francisco dos Santos, bispo de Aveiro
Neste tempo de crise de civilização, o mundo precisa da Páscoa de Jesus, para aprender a dar a vida por amor e nessa dádiva divina encontrar uma palavra que afague tantos dramas…
1.A mais bela de todas as manhãs – a manhã de Páscoa – não começou com capas estendidas pelo chão da vida, com hossanas de multidões em alegria e em festa nem, tão pouco, com o testemunho corajoso e feliz dos discípulos.
Como estava já longe da memória do povo e distante do coração dos discípulos a entrada de Jesus na sua cidade! A cruz e a morte tinham dispersado as multidões e o medo tinha-se apoderado dos mais próximos.
A manhã de Páscoa começou com uma estranha e singela palavra, cheia de compaixão por parte de Jesus diante da tristeza preocupada de Maria, a mulher perdoada, que viu o sepulcro vazio: «Mulher, porque choras?» (Jo 20, 15).
O primeiro gesto de Jesus ressuscitado e a sua primeira palavra, depois da ressurreição, é consolar; é olhar o nosso olhar; é chamar pelo nosso nome. Um dia, tempo virá, em que «Deus enxugará, também, todas as lágrimas dos nossos olhos!» (Apoc 21, 4).
Neste tempo de crise de civilização, o mundo precisa da Páscoa de Jesus, para aprender a dar a vida por amor e nessa dádiva divina encontrar uma palavra que afague tantos dramas, um olhar que dê luz a tantos olhares que as lágrimas turbam e o pecado magoa e uma vida que alimente de nova e renascida esperança tantas vidas sem sentido, sem pão, sem trabalho, sem horizonte e sem rumo.
Que também nestes tempos de imperativa austeridade e de desiguais sacrifícios lembremos o sábio conselho afirmado em cada Páscoa judaica: «em tempos de opressão, não falte ao povo a esperança da liberdade! Em tempos de liberdade, não se lhe apague a lembrança da escravidão!» (Seder judaico).
Depois da manhã de Páscoa, Jesus chamou, ao longo da história da Igreja, milhares e milhares de pessoas pelo seu nome. A todos os que chamou, também enviou em missão para transmitir a Boa Nova das bem-aventuranças. A Páscoa é a festa de todos e para todos!
2.A ressurreição de Jesus é porta de tempos novos e aurora de vitória e alegria pascal. Deste triunfo de Jesus Cristo sobre o pecado e sobre a morte, os apóstolos, refeitos do medo inicial, dão-nos testemunho vivo. A vida cristã nasce deste acontecimento sempre novo e desta inabalável certeza: «Foi este Jesus que Deus ressuscitou, e disto nós somos testemunhas» (At 2, 32).
Aí, na Páscoa de Jesus, inicia-se o tempo da Igreja e todos nós daí partimos em caminhada pascal, apoiados pelo testemunho daqueles que viram e acreditaram. E a exemplo dos discípulos, tornamo-nos, também nós, sinais vivos deste mesmo poder da ressurreição que Deus coloca em acção na Igreja.
Os cinquenta dias que prolongam, na liturgia da Igreja, a Páscoa e dela fazem uma festa ininterrupta são dados aos cristãos para renovar as suas vidas e fortalecer a sua fé na ressurreição de Jesus, de Quem são chamados a ser testemunhas.
3. Vamos viver, na diocese de Aveiro, este tempo pascal em Caminhada de itinerário pastoral com as famílias para que, com a força da vida, do amor e da fé nascida da Páscoa, as famílias da diocese se reconheçam no seu melhor e se valorizem no testemunho e na missão.
Importa que cada família sinta o seu amor vivificado pela palavra de Deus, iluminado pela palavra da Igreja e alimentado pela palavra da vida. Sabemos bem quanto a família é para cada um de nós um dom como berço da vida, comunidade de amor, escola da fé e santuário da presença e da acção de Deus.
É nesta Igreja diocesana, fraternidade de famílias, que vemos confirmar a esperança, para que se concretize em cada comunidade cristã este modo de sermos família de famílias e se ajude cada família a ser evangelizadora no mundo.
Com este espírito pascal e nesta caminhada familiar tem renovado sentido fazer da Páscoa, prolongada celebração festiva em cada família ao longo de todo o tempo pascal, e viver, com acrescida alegria, os momentos maiores deste tempo como sejam a instituição de ministérios de Leitores e Acólitos a caminho do Presbiterado, a Semana das vocações, tantos outros sinais visíveis do amor de Deus por nós e de interpelação para o nosso modo de acolher os chamamentos por Deus semeados no campo fecundo das famílias de Aveiro, a merecer resposta pronta e acrescida generosidade.
No horizonte deste criativo modo de caminhar em família e com as famílias e quase já no culminar do tempo pascal viveremos todos com alegria e entusiasmo, como Igreja diocesana, a Festa das Famílias , no dia 20 de Maio, no Colégio de Calvão, em Vagos.
Votos de feliz Páscoa, assim continuada em todo o tempo pascal e assim vivida em família e em Igreja, com fermento novo de um mundo melhor e com anúncio festivo e próximo de uma Igreja em Missão Jubilar!
Aveiro, 3 de Abril de 2012