sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A PALAVRA QUE ILUMINA O CORAÇÃO

 

Georgino Rocha  | Justiça e Paz – Aveiro

Pe GeroginoJesus continua a dar-nos boas notícias nos seus ensinamentos. Aproveita oportunidades que as situações da vida lhe proporcionam ou cria factos que realizam o que, depois, anuncia em narrativas estimulantes. Mc 7, 1-8. 14-15. 21-23. Hoje surge no seu caminho um grupo de fariseus e de doutores da Lei. Os primeiros, muito zelosos em manter as tradições e em as observar escrupulosamente. Os segundos, conhecedores da Lei e das suas centenas de normas que examinam até ao pormenor. Reúnem-se à volta de Jesus, num espaço fora da sinagoga. Ao verem a atitude dos discípulos – comer sem lavar as mãos, atitude que contagia os alimentos, tornando-os impuros e, por isso, contrariando a tradição -, pedem-lhe explicações com a pergunta inquisitorial: Porque procedem assim, não respeitando os antigos nem as suas tradições sagradas?

A resposta de Jesus lembra-lhes a profecia de Isaías: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Não adianta prestarem-me culto, porque ensinam preceitos humanos. Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”. E aduz o exemplo concreto do Corbã – voto feito por alguém que dedicava ao Templo os bens pessoais (coisa aparentemente bela e louvável), ainda que os pais sofressem grandes necessidades e viessem a morrer de fome. “E fazeis muitas outras coisas como estas”.

A história regista inúmeras situações em que os preceitos humanos se sobrepuseram à Palavra de Deus, a autoridade evangélica reveste a cor do poder político e económico, a adesão cordial a Cristo Salvador e a fraternidade humana são envolvidas por roupagens devocionais discriminatórias. A este propósito afirma São João Crisóstomo com grande sabedoria “Vós adornais os templos, mas tendes Cristo metido nas prisões”.

Será a partir desse húmus que a nova etapa de evangelização terá de avançar, prosseguindo o belo e estimulante exemplo do Papa Francisco: Louvar a Deus com as “mãos sujas” do serviço humilde, com o coração apaixonado pela libertação dos miseráveis, com a fantasia criadora de novas oportunidades de entreajuda solidária.

O grupo dos doutos e zelosos interlocutores vê-se contraditado no seu próprio campo: o das tradições e leis, o de ter uma vida divorciada da religião, o de negar, com a prática, o preceito de Deus. E para ilustrar este contrassenso, Jesus conta uma parábola aberta à multidão sobre o alimento que se come, vai para o estômago e depois sai naturalmente transformado em imundice. É dentro que se gera a pureza/virtude e não no exterior, no coração/na consciência e não na aparência – mesmo vistosa e com ares sagrados -, na sintonia com os princípios/mandamentos de Deus e não com interpretações – ainda que doutas – de ocasião, acomodadas às conveniências religiosas, sociais e políticas ou às modas auto-denominadas progressistas e inovadoras.

O centro da nova moralidade, que Jesus anuncia e condiz com o melhor da dignidade humana, está na consciência iluminada não apenas pela natureza nem pela sabedoria das culturas ou dos direitos fundamentais do Homem, mas pela Palavra de Deus, assumida na sua integridade e fielmente interpretada. Consciência que pondera os elementos de que dispõe, que se abre à verdade da razão esclarecida, que valora as circunstâncias em que se situa, que faz opções coerentes e consistentes, que não abdica da sua dignidade, mesmo em caso de perigo de vida. Veja-se o exemplo de Sócrates, o filósofo, Jesus Cristo, Tomás Moro e tantos contemporâneos mártires por causas nobres/santas. Brilhante resposta. Belo ensinamento, a reter sempre na memória agradecida.

É de dentro do coração da pessoa que sai o que degrada ou enobrece a dignidade humana, mantém a integridade moral, manifesta a sua sintonia com o ritmo do “coração” de Deus que, em Jesus Cristo, define as novas regras de apreciação da bondade e da maldade do agir pessoal e social, privado e público. Em todos os campos. A consciência constitui o âmbito do encontro da pessoa com Deus, encontro que se capta e manifesta por uma voz discreta, “audível” no silêncio e na palavra, na sensibilidade dos artistas e na contemplação dos orantes, nos gemidos das vítimas e nos gestos dos profetas. Jesus ensina-nos a cultivar a bondade do coração/consciência, para não sermos excêntricos, mas testemunharmos o valor do mundo interior de cada pessoa que se projecta necessariamente nas atitudes e comportamentos exteriores e públicos.

domingo, 23 de agosto de 2015

esta palavra é dura


Pedro José L. Correia  |  Justiça e Paz – Aveiro

 

«Dai-me a castidade e a continência; mas não ma deis já»,

Santo Agostinho, Confissões, Livraria A. I., Braga, 2008,

Liv. VIII, nº7, p.230.

Pedro José L. Correia - Aveiro

(...)

“- Nunca abandonaremos!?”: é dizer acima das nossas possibilidades. Somos como repensa Aviad Kleinberg, que passo a parafrasear, no exemplo sui generis: “Há uma espécie de lagartos que desenvolveram um mecanismo de sobrevivência único: podem separar-se das caudas quando estão em perigo. A cauda abandonada, em princípio, atrairá a atenção dos seus predadores, que cravam os dentes nos aperitivos, mas deixam escapar o prato principal”. Cada um de nós Crentes escondemos esqueletos vergonhosos nos nossos armários. Ocasionalmente, confessamo-nos (na forma “ritual”, cada vez menos; na forma “informal”, cada vez mais…), mas não divulgamos as nossas podridões. Para tudo um Tempo, Espaço e Modo. Precisamos de uma “rede de esgotos eclesial”. “O restaurante humano serve sobretudo caudas, mas o leitor que esteja disposto a examinar cuidadosamente a cauda retorcer-se, sem se precipitar de imediato para cravar os dentes nela, aprenderá muito sobre o corpo do qual ela se separou” (Cfr. Sete Pecados Capitais – Uma nova abordagem, Ed. Quetzal, Lisboa, pp.16-17).

(...)

Esta palavra é, sem margens de manobra, pura e dura. Pois duros somos nós na Cabeça, Coração e Estômago. Deus não o É. O Seu Espírito faz-nos oferta e dom. É importante esta consciência da abertura ao Espírito, esta necessidade permanente de espiritualidade: como modo de vida que não é dureza nem imposição, mas leveza e preferência. Ou uma mistura de ambas: exigência coerente!

FONTE: Cfr. AZEVEDO, Dom Walmor Oliveira, in Na Escola do Salvador, Editora PUC Minas, Belo Horizonte, 2009, pp.361-364. Obs. Além da citação presente no texto.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

ACREDITAMOS QUE TU ÉS O SANTO DE DEUS


  Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro

Pe GeroginoO discurso do pão da vida atinge o auge, no desabafo de Jesus, que João formula na pergunta dirigida aos Apóstolos: “E vós também quereis ir-vos embora?” A sinceridade denota um sabor de amargura. A preocupação manifesta um receio fundado. O risco é evidente e virá a ser concretizado na paixão. A circunstância, aliada ao tom da voz e ao brilho do olhar, provoca a resposta eloquente de Pedro: “A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”. Jo 6, 60-69.

A crise atinge o auge: as multidões deixam de andar na sua companhia e perdem o gosto de o ouvir; os nobres judeus, após discussões intensas, “viram-lhe as costas”, deixando palavras mordazes; os discípulos, “escandalizados” pela vivacidade crescente e realista da mensagem anunciada, cansam-se e desanimam, dispersando-se. Resta o grupo dos Doze. Jesus sente o abandono, mas não cede em nada, não suaviza o alcance do discurso, não faz uma religião à medida do gosto de cada um nem das tradições legalistas. E seria tão fácil. Como ainda hoje se pode verificar.

A hora é solene. Os doze constituem o resto fiel que vai ser posto à prova. A pergunta de Jesus é certeira e provocatória, dirige-se à opção livre do grupo. Podiam optar por ir-se embora, como os outros, por não aguentar o que não compreendiam, por não se sujeitarem à chacota de comentários desvirtuantes. A voz de Pedro irrompe naquele silêncio fecundo: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos que Tu és o Santo de Deus”. Não há outra palavra, nem projecto, nem aliança com futuro a não ser a que será selada com a entrega do corpo e do sangue de Jesus.

A resposta de Pedro é uma resposta-compêndio das buscas da humanidade ansiosa por encontrar palavras de vida eterna. E as marcas desta procura ficam em nomes célebres como os sábios, em obras de filósofos antigos e modernos, em façanhas de heróis de impérios caducos, em exemplos de vida de santos reconhecidos e anónimos… O coração humano foi-se saciando com o êxito do melhor do seu esforço, mas dando sinais claros de que permanecia um vazio a preencher. Santo Agostinho expressa-o de forma muito bela. “Fizestes-nos Senhor para Vós e o nosso coração está inquieto até em Vós repousar”.

“A quem iremos, Senhor?” Interroga-se a humanidade pela voz de Pedro. Todos nos dão respostas efémeras e nos “servem” produtos de pouca duração. A história constitui o memorial deste valor reduzido. A experiência de vida, acumulada em sabedoria, mostra-nos à-evidência que só “Tu tens palavras de vida eterna”, consistentes e definitivas, firmes e credíveis. E testemunha-o o exemplo heróico de tantas pessoas bondosas e de muitos santos e mártires. De todas as condições sociais e étnicas.

Ficar com Jesus e andar com Ele é opção definitiva e livre de grande alcance e de forte empenhamento. Comungar o seu projecto de vida, não é apenas receber o pão/hóstia da eucaristia ou participar em eventos religiosos de alcance social ou pertencer a algum grupo de bem-fazer. É assumir o seu estilo de vida sóbrio e disponível, as suas opções claras pela ajuda/libertação dos mais pobres e excluídos, é resistir ao tsunami consumista e acelerar a construção de uma sociedade alternativa, espelho da civilização do amor. É dar a vida até ao fim por amor.

O decisivo – afirma Pagola - é ter fome de Jesus. Procurar desde o mais profundo encontrar-nos com Ele. Abrir-nos à sua verdade para que nos marque com o seu Espírito e potencie o melhor que há em nós. Deixar que ilumine e transforme as zonas da nossa vida que estão todavia sem evangelizar.

Então, alimentar-nos de Jesus é voltar ao mais genuíno, ao mais simples e mais autêntico do seu Evangelho; interiorizar as suas atitudes mais básicas e essenciais; acender em nós o instinto de viver como Ele; despertar a nossa consciência de discípulos e seguidores para fazer dele o centro da nossa vida. Sem cristãos que se alimentem de Jesus, a Igreja enfraquece sem remédio.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

«CARTA ABERTA»: “O sinal da Assunção de Maria”, na entrada ao Serviço das Paróquias da Gafanha do Carmo, Encarnação e Nazaré (15/16-08-2015)”.


Pedro José Correia  |  Justiça e Paz – Aveiro

Pe. Pedro José
“Eu acredito que a vida humana não pode ser compreendida
sem uma história. Ao analisar a situação da espiritualidade
e da religião comprovo que há muitas pessoas à procura de algo,
seja uma concepção ateia ou religiosa.
Há também muitas pessoas que lamentam a erosão do cristianismo
e resistem ao seu desaparecimento.
O desafio é compreender os dois lados,
crentes e não crentes, e que possam conviver”.
Charles Taylor, in http://www.ihu.unisinos.br/noticias/545594-charles-taylor-as-pessoas-hoje-nao-tem-claro-o-sentido-da-vida, acesso, 14-08-2015.







“É um dia para magnificar Deus.
Esta festa da Assunção tem uma dupla dimensão
de que gostaria de vos falar.
Explica-se a si própria e explica-nos a nós”.
JOSÉ FILIPE RODRIGUES, op,
Arrependei-vos e acreditai no Evangelho, 2014, p.153.




1. Sobre a linha do Passado (“a” Memória):
Somos uma Narrativa que vem do passado até ao presente e não “estaciona” na linha do Tempo, entrará pela Eternidade, creio eu.
Permitam-me, por isso, uma confidência pessoal. Quando celebrei o Sacramento da Confirmação, na Igreja Paroquial de Esgueira, a 29 de Dezembro de 1991, na presença do bispo D. António Marcelino, foi meu Padrinho de Crisma, um aluno mais velho do Seminário Maior de Coimbra, chamava-se: Francisco José Rodrigues de Melo. Eu tinha 19 anos, hoje, tenho 43 anos; ele tinha 23 anos, hoje continua uns anos à minha frente…; a nossa Amizade com a «moção» do Espírito Santo, reconheço agora, ficou “selada” e dura há 24 anos... Vencemos silêncios, distâncias e intrigas. Acrescentar que sendo críticos frontais um-do-outro… a nossa Amizade nunca saiu retraída, pelo contrário. Não me canso de afirmar: “O sentido da vida é a amizade. O sentido da amizade é a fé”. Que o Espírito Santo nos possa vivificar a todos! O que havia para dizer sobre este momento de passagem de Testemunho na pastoral do ministério, em Comunhão de Presbitério (a partir de baixo), já foi dito e está escrito, no texto publicado, há 15 dias, como manifesto público de “Acção de Graças Pelo Ministério do Pároco da Gafanha da Nazaré, Gafanha da Encarnação e Gafanha do Carmo”, 01 Agosto de 2015 (Cfr. https://pedrojosemyblog.wordpress.com/2015/07/31/texto-de-accao-de-gracas-pelo-ministerio-do-paroco-pe-francisco-melo/ , acesso: 15-08-2015).
No reflexo da Vida Espiritual dos Outros reconhecemos nossos defeitos e nossas virtudes. 

2. Sobre a linha do Presente (“a” Consciência):
Começo pelo mais difícil. A responsabilidade da História e dos números que significam: Pessoas e Vidas.
A Instituição da Paróquia do Carmo - 06-11-1957, tem, presentemente, 57 anos, em Novembro próximo, fará 58 anos de instituição.
Gafanha do Carmo – Censos 2011
Freguesia População Residente Total População Residente Homens População
Residente
Mulheres

Famílias Alojamentos Edifícios
Gaf Carmo 1.758 874 884 605 922 881
A Instituição da Paróquia da Encarnação – 03-05-1928, tem já feitos este ano 87 anos de instituição.
Gafanha do Encarnação – Censos 2011
Freguesia População Residente Total População Residente Homens População
Residente
Mulheres

Famílias Alojamentos Edifícios
Gaf Encarnação 5.487 2654 2833 2022 3841 2514
A ambas, Carmo e Encarnação, servirei como Pároco, tendo como Vigário Paroquial o Pe. César Fernandes.
A Instituição da Paróquia da Nazaré – 31-08-1910, está a menos de um mês de completar 105 anos, servirei como Vigário Paroquial, do Pároco Pe. César Fernandes.
Gafanha da Nazaré – Censos 2011
Freguesia População Residente Total População Residente Homens População
Residente
Mulheres

Famílias Alojamentos Edifícios
Gaf Nazaré 14.756 7088 7668 5629 8837 5152
Estou nomeado em diálogo de discernimento e obediência, com o nosso bispo D. António Moiteiro, por um período de 6 anos, assim me disse, oralmente, e o aconselha, normativamente, a Conferência dos Bispos portugueses. Para haver estabilidade, criatividade e serviço… Vamos juntos caminhar nesta história feita em comum, “erguidos nos ombros dos nossos antepassados”, através da Fé e Cultura de Matriz Católica.
Olhei para «fora da Igreja-comunidade» para os enormes desafios… não quero esquecer que «dentro» da nossa Igreja temos “tesouros velhos e novos”… quanto mais nos conhecermos pelo «Evangelho» mais Alegria, para viver e servir, haverá à nossa volta. 

3. Sobre a linha do Futuro (“o” Projecto):
 
3.a) - “Tudo faz sentido: do passado obscuro ao futuro incerto” (cfr. Saul Bellow). “Se na minha fraqueza e debilidade nem sempre Deus for louvado como merece, e nem sempre vós fordes servidos como é meu dever, pedi comigo ao Senhor e por mim, para que, ao menos como Pedro, possa passar no exame do amor a Cristo e, com um coração humilde e confiante, olhos nos olhos, diga com verdade ao Senhor: - “Tu sabes tudo, Senhor, bem sabes que Te amo” (Jo 21,17) (D. António Marcelino, Da primeira Saudação Pastoral, como Bispo de Aveiro – 07/02/1988).
3.b) - O Sacerdote (De um manuscrito medieval – na minha versão treslida…).
Um sacerdote deve ser
simultaneamente pequeno e grande,
nobre de espírito, como de sangue real,
simples e natural, como de raiz camponesa,
um herói na conquista de si mesmo,
um homem que se bateu com Deus,
uma fonte de santificação,
um pecador que Deus perdoou,
dos seus desejos o soberano,
um servidor para os tímidos e os fracos,
que não se abaixa diante dos poderosos
mas se curva diante dos pobres,
discípulo de seu Senhor,
cabeça de seu rebanho,
um mendigo de mãos totalmente abertas,
um portador de inúmeros dons,
um homem no campo de batalha,
uma mãe para confortar os doentes,
com a sabedoria da idade
e a confiança duma criança,
em direcção ao alto,
os pés na terra,
feito para a alegria,
especialista no sofrimento,
isento de qualquer inveja,
com perspectivas largas,
que fala com franqueza,
um amigo da paz,
um inimigo da inércia,
fiel para sempre...
Tão diferente de mim!
(Versão adaptada: BRUNO FORTE, “O Sacerdócio Ministerial: Duas meditações teológicas”) 

3.c) – Conto, abusando da vossa paciência, duas experiências quotidianas de trabalho e lazer, irritantes e abençoadas pela mão de Deus. 1ª) Há dois dias atrás, pela manhã, fiquei preso dentro de casa, isto é, não podia sair de carro…; liguei do telemóvel a pedir esclarecimentos e ajudas e NADA… Aprendi imenso sobre os esgotos de Rede Pública, observando e dialogando com os trabalhadores da empreitada… e quando pediam água [para fazer a massa de cimento, sem eu saber…], ofereci umas minis frescas!?… Resposta pronta: - Obrigado mas ainda é cedo… Ri para dentro. Mas quando passamos, agora, na rua pública: Saudamo-nos de modo diferente! 2ª) Ontem, à noite, no fim do dia de trabalho quase exausto… cheguei bem atrasado ao jogo de futebol que decorria no Estádio do Beira-Mar; não vi o primeiro golo…, vi em directo, só no meio da multidão, os dois últimos golos - pelo bilhete e pela compra do cachecol do clube perdedor, para oferecer a prenda ideal, ficarei 2 semanas sem comprar jornais. Mas pela experiência de 22.000 pessoas num estádio suspensas para ver a marcação do penalti redentor: uma verdadeira experiência religiosa secular. Estava lá outra vez na melhor companhia possível! Fui evangelizado sem querer e também evangelizei quem quis saber através de mim…
Sempre a Ternura e a Ironia e de Deus, nestes duas experiências quotidianas. 

3.d) – Nesta Saudação e Agradecimento finais, falo: a todos os Paroquianos, presentes e ausentes (in)voluntários; a todo o Povo, enquanto Cidadãos, que residimos nestes terras que são a nossa Casa Comum; e de modo especial, às Autoridades Civis, aqui presentes [nomeadamente, a Junta Freguesia e a Câmara Municipal, nos seus Presidentes, e/ou representantes]: gostaria de parafrasear, é necessário que «todos nos interessemos por levar Jesus Cristo àqueles que ainda não acreditem n’Ele», se alguém me perguntar quais são as urgências, que tentarei ajudar a resolver, responderei:
- os pobres e desvalidos;
- da catequese das crianças até à formação dos jovens;
- da Oração à formação cristã dos adultos, nas suas várias vertentes;
- da atenção e ajuda constante ao Mundo».


No «resto» que é tudo o que temos que «ser e fazer»... HOJE e AGORA (depois de termos rezado o Credo e de ter recebido as Chaves que verdadeiramente fazem faltam…): apenas “Isto”:
“Aprender, Aprender, e novamente Servir”.
Quanto mais Aprender a ser Pároco,
melhor será o Serviço às Comunidades.
Peço a Vossa Oração, Paciência e Ajuda para continuarmos a Trabalhar Juntos.
A Bênção de Maria, para cada um de Nós e nossas Famílias,
como Mãe da Igreja e Nossa Padroeira, nos acompanhe sempre.

O PÃO DE JESUS GARANTE A VIDA ETERNA

 

Georgina Rocha |  Justiça e Paz – Aveiro

Pe GeroginoO escândalo agrava-se. As afirmações de Jesus são demasiado claras e contundentes para os judeus. Jo 6, 51-58. Não conseguem suportá-las. E, sem um novo modo de ver – a fé que brota do amor de Deus Pai – quem pode conformar-se? Como é possível “dar-nos a sua carne a comer”?, interrogam-se com lógica natural e ética religiosa, condensando muitas outras perplexidades que os afligiam e espelham muitas outras que, ao longo dos tempos, virão a desafiar a razão humana, ainda que iluminada pela fé. Face à estranheza do “assunto” e ao agravamento das dúvidas, não tardam a evoluir na sua atitude: do entusiasmo precedente, pela multiplicação dos pães, e das expectativas decorrentes, das interrogações fundadas à crítica aberta, da recusa frontal ao abandono. Em breve, chegará a vez de Jesus questionar os próprios Apóstolos/discípulos fiéis: “Vós também vos quereis ir embora? Pedro, espontâneo e ousado, responde pelo grupo: “A quem iremos, Senhor. Tu tens palavras de vida eterna”.

     Jesus não dá explicações. Faz afirmações. O modo há-de surgir oportunamente. E o anúncio passa a realidade na ceia de despedida, no lava-pés, no mandamento novo do amor. Modo que surge narrado por Paulo na 1ª. carta aos coríntios 11, 23-26.

     As afirmações de Jesus têm, em João, uma ênfase especial: seis vezes menciona a palavra “carne” e três “sangue”. Trata-se de comer e de beber, em forma sacramental, o corpo e o sangue de Jesus, agora celebrada na eucaristia e, depois no seio de Deus, no banquete das “núpcias” do Cordeiro.

     “Contra ventos e marés – repete o Irmão Roger de Taizé -, a Igreja católica tornou possível que a Eucaristia permaneça como fonte de unanimidade na fé”.

     Contra ventos e marés, temos de continuar a dizer “tomai e comei”, saciai as vossas fomes, fruto de campos estéreis pelo desvio de águas, pela desolação da guerra, pela indústria química, pelo fogo criminoso, pelo abandono forçado. Comei alimentos produzidos pelo orçamento militar bélico transformado em investimento agrícola rentável, pela aplicação de capitais na limpeza das águas e na “desintoxicação” dos campos.

     Contra ventos e marés, precisamos de resgatar o sangue de tantas vítimas inocentes, apoiar a prática organizada da justiça e a penalização dos algozes, difundir a cultura da ética na economia e no uso dos bens, empenhando-nos em fazer crescer a consciência da dignidade humana que brilha, de modo singular, em Jesus Cristo, pão repartido por um mundo novo.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

DEIXAR DEUS SER DEUS

 

Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro

Os judeus caem em si. A condição social de origem de Jesus não condizia com o reconhecido estatuto de Mestre e, menos Pe Geroginoainda, com o seu discurso após a multiplicação dos pães. Jo 6, 41-51. E, coerentemente, interrogam-se sobre o que está a acontecer: Um artesão de Nazaré da Galileia ser o enviado de Deus? O filho de José e de Maria, bem conhecidos na terra, declarar-se pão da vida? O deslocado de Cafarnaum ensinar, com linguagem dura, “coisas estranhas” na sinagoga? Donde lhe vem tal autoridade? Jesus não entra “no jogo” de pergunta-resposta. Os factos estão à vista, são públicos. A explicação é clara, persuasiva e respeitadora. A mensagem é apelativa, mas não surte efeito. Em vez de se deixarem atrair por Deus e entrar na novidade que o ensinamento de Jesus comporta, começam a murmurar e “estancam” no seu rígido pensar e nos seus velhos hábitos, distanciam-se interiormente e muitos acabam por O abandonar.

João, o autor da narrativa, destaca a relação de Jesus com Deus Pai e faz uma excelente catequese que choca abertamente com a mentalidade dos ouvintes judeus. Eles, como talvez muitos de nós, têm as suas ideias a respeito de Deus e querem encerrá-Lo nesse quadro de referências. Jesus propõe uma perspectiva diferente: A partir do que digo, ajustem o vosso modo de pensar, alterem a vossa compreensão, conformai a vossa vida. “Não murmureis entre vós, Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que me enviou, não o trouxer”.

A esta certeza chegou Edith Stein, após um longo caminho de procura. Um dia, encontra a autobiografia de Santa Teresa de Ávila. Edith lê o livro durante toda a noite. “Quando fechei o livro, disse para mim própria: é esta a verdade”. Sente-se uma estrangeira no mundo ( era professora universitária). Faz-se religiosa carmelita, vem mais tarde a ser presa pela Gestapo, levada para a câmara de gaz e os seus restos mortais queimados no campo de concentração. Hoje é celebrada com o seu novo nome Santa Teresa Benedita da Cruz.

A atitude dos judeus constitui uma fase especial na vida de Jesus: é a hora da grande surpresa e interpelante novidade, do anúncio do desejo de ficar sempre connosco no pão novo, na eucaristia do seu corpo e sangue, da doação completa, a fim de que o mundo tenha vida em abundância e qualidade, do envolvimento de Deus Pai na realização plena desta entrega definitiva por amor. Jesus cala os seus sentimentos para nos deixar a possibilidade de os pressentir e auscultar, de os saborear em doce intimidade e proclamar em ousadia profética. E aí está o registo da história e o testemunho vital dado por tantos cristãos, a confirmarem a riqueza daqueles sentimentos e a dar-lhe rosto em situações tão diversas. Sirva de referência, como “vozes” falantes desta diversidade, São Tarciso, o menino-mártir da eucaristia que o papa Sixto enviava às prisões de Roma a levar a comunhão, e Óscar Romero, arcebispo de São Salvador, assassinado por um “pistoleiro” a mando do poder opressor do povo, na ocasião da celebração da missa.

“Não murmurei entre vós” – exorta Jesus, aludindo à sua origem humilde, semelhante à de tantos outros que vivem com dignidade e são defensores da verdade, que ganham o pão com o suor do seu trabalho e se esforçam por construir uma família honrada e solidária, que estão disponíveis para o serviço do bem público que é de todos, mas só alguns se prontificam a fazer.

Que oportunidade ainda hoje tem esta exortação. Está em curso a Semana Nacional do Migrante e Refugiado. Chegam e partem pelos mais diversos motivos. Apresentam-se com o seu “berço” étnico e cultural. Fazem a diferença. Necessitam de apoio, de trabalho, de segurança. Oferecem a sua riqueza de valores que muito ajudarão a humanizar a nossa sociedade e, talvez, a revitalizar a fé cristã. Não murmureis, mas procurai acolher, compreender, facilitar a participação, apreciar a comunhão das diferenças.

“Queridos migrantes e refugiados! Não percais a esperança de que também a vós está reservado um futuro mais seguro; Que possais encontrar em vossos caminhos uma mão estendida; que vos seja permitido experimentar a solidariedade fraterna e o calor da amizade!” exorta o Papa Francisco.

Não murmureis mais. Deixai Deus ser Deus e vede como se manifesta em Mim. Deixai-vos atrair por nós e vereis estas “coisas” com um novo olhar – o da fé confiante; compreendereis a relação que entre nós existe e apreciareis o pão que vos ofereço – o meu corpo na eucaristia – para ser o alimento que vos acompanha na vida e revigora as vossas forças debilitadas – continua Jesus a dizer-nos em surdina, para não provocar incómodo desnecessário a ninguém e para despertar os “ouvidos” do coração humano. Os nossos!

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

o sentir na fome de pão

 

Pedro José L. Correia  |  Justiça e Paz – Aveiro

 

Pedro José L. Correia - Aveiro“A fome não é de direita ou de esquerda! Quando o estômago começa a dar horas é que são elas. Não há fome ou vontade de comer de direita ou esquerda”. Ademar Costa, Póvoa do Varzim in “Cartas à Directora” – Público, 01-08-15, p.38.

Como estamos dispostos a saciar a nossa fome de pão “alimento” e de pão “sentido para viver”? Qual o custo que estamos dispostos abdicar nessa entrega? Do «sacrifício» convertido do olhar, ao diálogo de Jesus sobre o «sentido» do alimento verdadeiro. “O comer para viver ou o viver para comer”, parecerá um reducionismo apenas inútil?

Jesus compartilha um alimento surpreendente e livre. Um alimento que dura até à “vida eterna”. No Tempo de uma videira inteira, rapidamente se esgota o prazo de validade. Realismo céptico. Mas o «Pão» é essencial para viver! Jesus sabe que o «Pão» vem em primeiro lugar. Sem alimento, não podemos sobreviver. Saberemos nós que o Corpo não tira o «lugar» ao Espírito?


Mas Jesus quer despertar nos seus ouvintes, e em nós, uma «Fome» diferente. Ele fala do pão que não satisfaz a fome de um dia, mas a fome e a sede de Sentido para uma Vida «mais» humana. Não podemos esquecer que em nós há uma fome de justiça para todos, uma fome de liberdade, de paz, de alegria. Precisamos e devemos trabalhar todos para que o «alimento» nunca falte a ninguém, em nenhuma circunstância.

O Pão vindo de Deus: "permanece para a vida eterna" A comida que comemos todos os dias mantem-nos vivos durante anos, mas chega um momento em que diante da Morte, é “inútil” continuar a comer. Jesus apresenta-se como “O-Pão-da-Vida-Eterna”, isto é, temos de decidir se queremos viver como Ele; e como Ele quereremos morrer também. Ouvindo as suas palavras, essas pessoas de Cafarnaúm disseram "Senhor, dá-nos sempre desse pão".


A nossa Fé é por vezes, (demasiadas vezes…), vacilante…, frágil…, indecisa…, esfomeada de nadas… Será que nos atrevemos a fazer um pedido desses? «Talvez», estejamos demasiado preocupados com o alimento de cada dia. E, às vezes, falte esse apetite. Faz-nos imensa falta “o apetite da vida eterna”. A Presença Eucarística de Cristo, não nos faça esquecer a Comunhão com o Cristo vivo, todos os dias, presente na Natureza desprotegida e nos Irmãos, mais pequenos, sós, doentes, ignorantes, à frente do nosso nariz displicente!