sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

SEGUIR JESUS, SEM CONDIÇÕES

 
Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro
“Imediatamente” é a expressão usada no Evangelho de Mateus para indicar a reacção dos irmãos Pedro e André, pescadores do mar da Galileia, ao apelo/convite de Jesus para o seguirem. O mesmo acontece a outros dois irmãos Tiago e João, filhos de Zebedeu. “Vinde e segui-me”, diz-lhes Jesus indicando o que pretendia confiar-lhes: serem pescadores de homens, libertos da estreiteza da faina enredada e abertos à largueza dos horizontes da missão itinerante.
A que se deverá esta prontidão? À vontade de aliviar o cansaço da rotina sem futuro, à fama incipiente de Jesus em Cafarnaum, à novidade da mensagem anunciada na pregação, ao desejo secreto do coração humano sempre inquieto na busca da verdade e do bem, ao olhar penetrante de Jesus e à força convincente do seu apelo? Será difícil apontar uma razão objectiva, mas o narrador do episódio destaca que “Jesus viu” e, assim, despertou energias adormecidas e motivou decisões ousadas.
Que alegria não sentiria Jesus ao ver-se correspondido! Ele que havia deixado Nazaré por ouvir dizer que João, seu primo, tinha sido preso e, quem sabe, temendo que algo semelhante lhe acontecesse. Ele que sentia a ressonância da sua recém iniciada actividade pública de anunciar a chegada do Reino e a necessidade da conversão. Ele que sonhava com a constituição de um grupo de discípulos e manifestava a preocupação de lhes proporcionar uma formação adequada a fim de serem os que, em seu nome, haviam de ser luz para o povo que vivia nas trevas. Escolheu-os “para estarem com Ele e para os enviar a pregar”.
“Imediatamente” é palavra estranha no mundo de hoje, apesar das pressas em que todos andam, do zapping saltitante, do apreço pelo efémero e pelo instante. Não é ao nível do corre-corre imponderado que os discípulos reagem; mas do impulso profundo, do desejo espontâneo, do cuidado solícito, da aventura partilhada, da nova experiência intuída e desejada. E como Jesus, deixam tudo e põem-se a caminho. Querem seguir os seus passos de missionário itinerante, rumo a cidades e aldeias, onde o povo aguarda pacientemente a luz da esperança e da alegria.
A atitude dos discípulos espelha o modo do Senhor Jesus proceder connosco: Pensa em nós, faz-se próximo, provoca o encontro, identifica as pessoas que conhece pelo nome, vê o seu coração/consciência e acredita na sua bondade, lança-lhes o apelo: “Vinde Comigo”. Assim nasce a vocação. Assim se prepara a missão. A iniciativa é de Deus. A resposta é do homem/mulher. E eles deixando tudo, seguiram-n’O. Belo exemplo, admirável apelo!





sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

JESUS, É ELE O FILHO DE DEUS

 
Georgino Rocha |  Justiça e Paz – Aveiro
Esta afirmação manifesta a convicção profunda a que chega João Baptista, após um processo lento de busca e reconhecimento. Processo que fica como exemplo de quem se sente peregrino na fé e assume o desafio de procurar resposta para as interrogações do coração humano. Processo que revela, de modo especial, a inter-acção fecunda de Deus com o homem/mulher e a qualidade do encontro pleno desejado. 
João não conhecia Jesus, facto estranho que indicia uma nova dimensão de conhecimento. Sendo primos de sangue, a sua relação era familiar e, consequentemente, de parentesco próximo, de pertença à mesma tribo, de membros da comunidade que tinha encontros e convívios por ocasião de festas rituais. A este nível, o conhecimento era normal, espontâneo, natural. Mas João não mente. O seu amor à verdade está comprovado com o testemunho de vida honrada e com o assumir corajoso do risco ocorrente – a condenação à morte por ordem de Herodes. Que pena, haver quem desconhece Jesus ou fica apenas pelo conhecimento humano, respeitando-o como guru, benemérito da humanidade ou agente revolucionário da não-violência!
A nova dimensão insinuada refere-se ao conhecimento interior iluminado pelo Espírito, acolhido no coração dócil e expresso na fé inteligente. É ele que abre horizontes diferentes à realidade humana e “define” a identidade profunda de cada pessoa. É ele que “mergulha” nos acontecimentos e desvenda o sentido que comportam em (des)conformidade com o projecto de salvação universal que Deus tem em curso na história. Não deixemos de prosseguir este conhecimento interior que nos faz penetrar no mistério de Cristo, acolher a sua novidade radical com um coração dócil e comunicar o seu amor misericordioso com ousadia confiante. 
João expressa os passos do seu percurso com diversas designações. Refere-se a Jesus, afirmando ser: Cordeiro de Deus, homem ungido pelo Espírito, Filho de Deus. Noutras ocasiões, recorre a mais formas igualmente significativas. Todas convergem para esta realidade sublime: Jesus, o Filho de Deus, vem salvar-nos. Liberta-nos do pecado que desumaniza a pessoa e dessolidariza os cidadãos. Unge-nos com o óleo da alegria e do crisma para a missão de discípulos enviados. Dignifica-nos, como filhos de adopção, pelo baptismo que nos faz membros do seu povo, a Igreja, e templos do seu Espirito. A afirmação de João é confirmada por Deus Pai na ressurreição de Jesus, seu Filho.
A fraternidade humana nasce desta matriz comum. Somos todos irmãos. Daí, a importância de sabermos acolher a todos, sobretudo os perseguidos por causa da justiça e os emigrantes em busca de melhores condições de vida. Daí, a urgência imperiosa de caminharmos para a unidade e vivermos em amor recíproco, especialmente os que reconhecemos Jesus como Filho de Deus e Senhor da história humana. “Estamos no mesmo barco e vamos para o mesmo porto… Não deixemos que nos roubem o ideal do amor fraterno!" – alerta o Papa Francisco. (EG 99 e 101).





sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

2014

 
O início de uma etapa nova refaz motivação e expectativas. Assim seja! Cá estamos para mais uma “translação”!
E o que nos espera, para além do inevitável, o que temos como certo, o que podemos teorizar como “limitação do limite”, isto é, até ali vamos mas depois já nada sabemos ou não queremos saber. Será a finitude ou infinitude?! Só Chronos nos dirá…
Porém, cada um e cada uma, norteados por princípios universais, somos convidados a fazer o que nos compete.
Recriar a esperança!
Inspirados pelo Papa Francisco (Mensagem para o Dia Mundial da Paz), o número sempre crescente de ligações e comunicações que envolvem o nosso planeta torna mais palpável a consciência da unidade e partilha dum destino comum entre as nações da terra.
Nos dinamismos da história – independentemente da diversidade das etnias, das sociedades e das culturas –, vemos semeada a vocação a formar uma comunidade feita de irmãos que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros. Contudo, ainda hoje, esta vocação é muitas vezes contrastada e negada nos factos, num mundo caracterizado pela «globalização da indiferença» que lentamente nos faz «habituar» ao sofrimento alheio, fechando-nos em nós mesmos. E, citando Bento XVI , a globalização torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos. As
inúmeras situações de desigualdade, pobreza e injustiça indicam não só uma profunda carência de fraternidade, mas também a ausência duma cultura de solidariedade. As novas ideologias, caracterizadas por generalizado individualismo, egocentrismo e consumismo materialista, debilitam os laços sociais, alimentando aquela mentalidade do «descartável» que induz ao desprezo e abandono dos mais fracos, daqueles que são considerados «inúteis». Assim, a convivência humana assemelha-se sempre mais a um mero do ut des (dou para que me dês) pragmático e egoísta.
Partilhar na sobriedade. Ano Europeu contra o Desperdício Alimentar.
De acordo com dados de 2012, em Portugal cerca de um milhão de toneladas de alimentos por ano, cerca de 17% do que é produzido, vai para o lixo, e nos 27 Estados Membros da UE a produção anual de resíduos alimentares ronda os 89 milhões de toneladas, estimando a UE que possa chegar a 126 milhões de toneladas em 2020.
30% dos produtos horto-frutícolas na Europa vão para o lixo!
Para que medidas importantes para a resolução deste problema sejam tomadas, o Parlamento Europeu propôs, e foi aprovado, que o ano de 2014 fosse declarado como o Ano Europeu contra o Desperdício Alimentar. Este é um problema que atingiu proporções mundiais e que abrange várias dimensões, desde o campo até à mesa dos consumidores.
Diligenciar o essencial. Ano internacional da agricultura familiar.
O Ano Internacional da Agricultura Familiar (AIAF), 2014, visa aumentar a visibilidade da agricultura familiar e dos pequenos agricultores, focalizando a atenção mundial no seu importante papel na erradicação da fome e pobreza, provisão de segurança alimentar e nutricional, melhoria dos meios de subsistência, gestão dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e para o desenvolvimento sustentável, particularmente nas áreas rurais.
O objetivo do AIAF 2014 é reposicionar a agricultura familiar no centro das políticas agrícolas, ambientais e sociais nas agendas nacionais, identificando lacunas e oportunidades para promover uma mudança rumo a um desenvolvimento mais equitativo e equilibrado.  O AIAF 2014 vai promover uma ampla discussão e cooperação no âmbito nacional, regional e global para aumentar a consciencialização e entendimento dos desafios que os pequenos agricultores enfrentam e ajudar a identificar maneiras eficientes de apoiar os agricultores familiares.
E das “tentações do deserto”, a representação do poder (espiritual, económico-financeiro e político-administrativo), projeta-se um novo ciclo na vida. Se não cairmos em tentação, 2014 será muito melhor do que o podemos esperar. Para além deste quadro, haja saúde, trabalho, educação, justiça e paz!
(in Correio do Vouga, 2014.01.08)















A MARAVILHA DO BAPTISMO DE JESUS

 
Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro

Chegado da Galileia, Jesus põe-se na fila dos pecadores que, no Jordão, aguardam a sua vez para serem baptizados por João. Este gesto tem um sentido profundo e dá origem à mais bela manifestação de Jesus. Com efeito, realça a solidariedade humana assumida ao nascer como um de nós e provoca a declaração solene da Voz celeste: “Este é o Meu Filho muito amado”. Condensa e desvenda a identidade original de Jesus.
O baptismo é a festa desta maravilha surgida nas águas do Jordão e agora anunciada e celebrada no baptistério de todas as comunidades cristãs. Os intervenientes e as circunstâncias são especiais, mas comungam da mesma humanidade que nós. No entanto, o baptismo cristão tem originalidade própria que advém de ser feito em nome de Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, Deus que Jesus ressuscitado manifesta de modo singular. E não podemos deixar que se perca ou desfigure esta originalidade.
O diálogo havido entre João e Jesus é clarificador: Quem precisa de ajuda é João e, por isso, questiona: “E Tu vens ter comigo?” Jesus não contradiz, mas explica: “Convém que assim cumpramos toda a justiça” ou seja que nos ponhamos em sintonia com o projecto de salvação e o realizemos na fase histórica que vivemos. Sabem que são protagonistas desta fase nova.
A interrogação de João desvenda o proceder de Deus que vem sempre ao encontro do homem/mulher e se faz solidário com ele/ela. Desvenda também o ser humano na sua matriz mais genuína: ser capaz de reconhecer as suas necessidades mais profundas e de lhes dar voz, de fazer perguntas a Deus e de aceitar explicações, de obedecer docilmente e colaborar generosamente. Deus solidário connosco. Para satisfazermos os anseios mais genuínos do coração, para encontrarmos as respostas mais pertinentes da nossa inteligência, para “soltar as asas” da nossa liberdade em busca da verdade sempre crescente. Para sermos seus filhos muito amados nos quais Ele se revê e compraz. Que grande dignidade! Não podemos deixar que seja abafada em festas sociais, em “feira” de vaidades ou requinte de modas. A comunidade cristã é a fiel depositária desta vigilância solícita e pedagógica. A propósito, sei a data do meu baptismo? Renovo nesse dia a minha fé cristã e revigoro a minha adesão amorosa à missão que a Igreja me confia?
Após o baptismo, Jesus sai das águas, abrem-se os céus, desce o Espírito de Deus e ouve-se uma voz celeste que faz a apresentação solene do “estatuto” de Jesus. Tudo tão simples! Tudo tão denso e maravilhoso! A comunhão é o sinal mais pujante desta nova etapa e o dinamismo missionário a sua realização mais qualificada: pés a caminho, mãos solidárias, olhos abertos para ver a novidade do diálogo entre o céu e a terra. Que saibamos apreciar esta novidade e anunciá-la com entusiasmo! E que a celebração dos baptismos seja uma festa digna nas famílias e nas comunidades cristãs.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

ONDE ESTÁ O REI ACABADO DE NASCER?

 
Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro
Ingenuidade, ignorância ou provocação! São exclamações espontâneas que a pergunta dos Magos a Herodes suscita e “deixa no ar”. Confiança no informador, desejo de acertar na procura, certeza firmada no nascimento ocorrido? São interrogações que podem servir de guia para penetrarmos na maravilha da Epifania do Senhor. Profissão de fé no Recém-nascido, profecia do futuro emergente, testemunho corajoso de quem busca a verdade e, inquieto, arrisca todas as vias? São deduções razoáveis e auspiciosas que se podem fazer, a partir do encontro de Jerusalém. A pergunta dos Magos é a pergunta de tantos homens e mulheres do nosso tempo que, sem preconceitos inibidores, ousam escutar a voz da consciência profunda e, livremente, pretendem alcançar resposta condizente.
Perguntar ao rei do poder por outro rei, seu concorrente, credenciar a necessidade de saberem com a descoberta da “sua estrela no Oriente”, manifestar a determinação de quererem adorá-lo, reconhecendo a sua divindade… é “coisa” que dificilmente Herodes podia “engolir”. E, hábil como era, desencadeia um processo em ordem a evitar quaisquer veleidades.
Mateus, o autor do relato, quer fazer à sua comunidade uma catequese sobre Jesus. Serve-se de referências do 1º Testamento, aproveita algumas narrações orais que circulavam e compõe a belíssima mensagem do seu texto.
Os magos encarnam o peregrino da verdade, inquieto nas suas certezas e aberto a todas as surpresas. Partem juntos, percorrem distâncias incalculáveis, avançam em planícies suaves, enfrentam a dureza das subidas e das descidas, indagam sem medo, esperando ver confirmadas a sua percepção e adesão primeiras. De facto, embora a verdade seja alcançada por cada um, o caminho faz-se em conjunto. É mais humano e encorajante. Como seria mais fácil para quem anda à-procura, se pudesse contar com grupos de apoio e acompanhamento!
Herodes, o do poder, os sacerdotes e levitas, os das leis e do culto, desempenham bem o papel de quem está instalado e não quer ser incomodado. Alarmado pela surpresa anunciada, o rei quer eliminar o possível concorrente. Insensíveis à novidade, os funcionários do Templo descansam após o cumprimento do dever cumprido, da informação dada. O povo não chega a saber de nada. E Mateus deixa-nos assim um esboço do retrato de tantos de nós em relação aos acontecimentos e ao sentido que comportam.
Finalmente, chegam. Cansados, mas alegres. A estrela indica-lhes o sítio preciso. Entram na casa. Vêem o Menino com Maria, sua Mãe, e José seu fiel cuidador. Prostram-se em adoração. Abrem os tesouros, pois o seu coração estava aberto desde sempre. Oferecem-lhe os presentes, símbolo da condição sublime do Recém-nascido. Que emoções e experiências! Que maravilha! O mundo da pesquisa e investigação aos pés de Jesus e acolhido por Ele. Uma estrela a guiar a busca da verdade na rede de influências e no universo das noites sem brilho. O silêncio fecundo das testemunhas, Maria e José, admiradas e enternecidas pela atitude de tão ilustres visitas. A ternura do Menino Jesus nascido para ser Rei, reconhecido e apresentado na sua missão de serviço à salvação humana querida por Deus Pai.






quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

ANÚNCIO DOS PASTORES PROVOCA ADMIRAÇÃO


Georgino Rocha  |  Justiça e Paz – Aveiro
O campo dos pastores, nome da localidade por onde deambulavam os guardas dos rebanhos nas cercanias de Belém, é a zona escolhida pelo anjo do Senhor para anunciar o nascimento de Jesus que havia ocorrido numa manjedoura do curral de animais. A aparição do enviado de Deus e o anúncio que lhes faz provocam uma reacção de medo, de sobressalto, de sã curiosidade.
Sempre assim é. O homem surpreendido nas suas rotinas teme a novidade que vem e o interpela. Praticamente todas as pessoas chamadas a uma missão passam por momentos semelhantes. Desinstalar-se e lançar-se a uma nova aventura, confiar e aceitar as consequências imprevisíveis, sentir-se envolvido, apesar da sua “pequenez”, exige realmente um coração grande, uma disponibilidade a toda a prova, uma capacidade de “aguentar” o presente onde emerge o futuro da decisão tomada.
O anjo do Senhor sossega-os e transmite-lhes a Boa Notícia “que será uma alegria grande para todo o povo”. E dá-lhes os sinais que identificam esta boa notícia. Serenos e confiantes, desafiam-se uns aos outros: Vamos a Belém, vamos ver o que aconteceu. Um novo ritmo começa na sua vida. É a vontade de acertar pelo ritmo de Deus, de aceitar o tempo da salvação em curso, de marcar a vida por outro “relógio”. Apressadamente, partem à procura dos sinais indicados. Não dispõem de GPS, nem de qualquer outro guia seguro. Procuram na escuridão da noite, conduzidos pelo brilho das estrelas e, sobretudo, pela luz interior que lhes acendeu a feliz notícia. Quantos de nós deixamos acender esta luz da consciência informada que nos guia e facilita a tomada de decisões éticas coerentes!?
Encontram o que lhes havia sido anunciado: o Recém-nascido na manjedoura, sob o olhar contemplativo de Maria, sua Mãe, e acompanhado de José, o homem justo encarregado de ser o guardião de ambos. Confirmados no anúncio recebido e cheios de alegria, narram o que lhes havia acontecido. Tudo batia certo. Até a sinfonia do coro angélico que, em suaves harmonias, cantava a glória nos céus e a paz na terra.
A sua narrativa provoca encanto e admiração. Todos os ouvintes se maravilhavam. Pela simplicidade do relato, pela novidade do acontecido, pelo feliz testemunho dos pastores, pela exacta coincidência dos factos. E não era para menos, vindo de quem vem tão auspicioso anúncio: homens marginais à sociedade, desprezados e sem “cotação” pública. A eles, o anjo do Senhor confia o primeiro anúncio de tal maravilha. Que o será para todo o sempre. Também a nós é confiado este anúncio. Que fazemos desta confiança sem reservas?
A paz surge como sinal perpétuo e luminoso desta maravilha. paz que provém da intervenção de Deus na história e que, benevolamente, confia aos homens de boa vontade. Grande responsabilidade que, anualmente nos é recordada de forma solene pela Igreja Católica, a partir da feliz iniciativa de Paulo VI. E o mundo bem precisa de valorizar todos os esforços dos construtores da paz. A guerra, os conflitos, as tensões, as “ feridas” a sangrar, a legião das vítimas, o “mundo cão” aí estão falar mais alto.
A paz manifesta-se, como em Belém, no reconhecimento do Deus-Menino e do amor que lhe dedicam Maria e José, na harmonia do universo, na fraternidade da humanidade simbolizada nos pastores, na convergência dos magos, homens da ciência e da investigação, e na reorientação dos bens materiais para o indispensável uso humanizado. O papa Francisco dedica a sua mensagem de Ano Novo à “Fraternidade, fundamento e caminho para a Paz”. Rica. bela e oportuna mensagem, a que vale a pena dedicar toda a atenção.
Maria, a Mãe do Deus Menino, a senhora da paz, nos ensine a guardar no coração estas maravilhas e a imitar a audácia dos pastores que anunciam, sem medo, o que tinham visto e ouvido.