segunda-feira, 10 de março de 2014

D. António Francisco, o Bispo da Bondade:breve ensaio testemunhal.

 

Pedro José Lopes Correia  |  Justiça e Paz – Aveiro

 

“A tentação é querer suprimir o tempo, o espaço, o esforço, as mediações.

Pensamos que felicidade é a conquista imediata de um bem que imaginamos.

Mas perceberemos que logo após conquistá-lo, a felicidade se desloca como se fosse o horizonte.

Nunca teremos a felicidade nas mãos, pois nunca conseguiremos segurar o horizonte” J.B. Libânio.

Se quiséssemos tentar caracterizar brevemente o nosso Bispo, que nos deixa «agora» (…ele que foi “nomeado”, foi “tirado”, foi “roubado” – sabemos da forma não estilística das aspas -, foi(-se) entregue(ar) a uma Cruz maior…; para viver uma Páscoa melhor…) diríamos com simplicidade: D. António Francisco, o Bispo da Bondade. Aliás, era esse o desafio pastoral na preparação conjunta da «Missão Jubilar». Foi retirado. Foi saneado. Nós os “padres especialistas de muitas coisas…” recusamos, democraticamente, esse registo de síntese. A dose não podia ser digerida! Temos medo da Bondade! A Bondade, ainda, não nos libertou!

Essa “sua” Bondade ministerial não pode agora dar lugar ao ressentimento. À moral da vítima (não estamos num processo de vitimização, mas de ressurreição, a Cruz porque “passamos” será Páscoa). A questão não é ser, ou não ser, “piegas”, “fraco” ou “indisposto”. É, verdadeiramente, ser ou não ser, “bondoso”, “decente”, ou “disponível”. Se, como cremos, a virtude da Bondade pode ser ensinada, é mais pelo Testemunho do que pelas homilias, pelos decretos nas nomeações, ou pela presença em incontáveis reuniões.

Porque mais que acusar e denunciar os vícios, o mal e pecado. Sua preocupação foi “Anúncio”, humilde, abnegado e eclesial. “Vamos fazer juntos”. “Sua” Bondade é histórica. Feita da “sua” consciência rural e citadina (…sinais vindo de “Lamego” a “Paris”…como não podemos perceber e saborear, isto, Deus nosso!?). - Bondoso, demasiado bondoso… não é mal: é cura e libertação! Trata-se de agora que parte não sermos indignos dessa «Bondade», que viveu e semeou no meio das nossas comunidades, e principalmente, em nossas vidas, em jeito personalizado.

A “sua” Bondade, diria, por experiência na carne e na alma, é virtude da Dádiva. Dádiva em dinheiro (nisto nos tocou na liberalidade da “sua” carteira aberta…), dádiva de si (nisto nos tocou na “sua” magnanimidade, e mesmo sacrifício saído do coração…). Mas não podemos dar senão o que possuímos, e apenas se não somos possuídos por isso. Nisto a “sua” Bondade foi/é indissociável de uma forma de liberdade evangélica ou autodomínio “maduro e sapiente”. O “seu” OBRIGADO exausto e repetitivo nos purifica!

Um ministério da Bondade com rosto de Misericórdia, foi o “seu” em todas as inesgotáveis horas da sua entrega generosa. Numa “sua” insistência feita de pedagogia e mistagogia. A bondade como a Coragem de Ser. A misericórdia como a chave dos Mandamentos. A Bondade e a Misericórdia como duas faces da mesma moeda do Perdão: para reconciliar a humanidade ferida. A Igreja como hospital espiritual das doenças materiais: consumismo; corrupção e violência. O bispo que é profeta da fragilidade e da proximidade.

Há um ministério (isto é, serviço) de Esperança, de Comunhão e sobretudo Bondade, construído solidamente nas «Bem-aventuranças», que nos ensinou a viver com o “seu” Testemunho, de bispo e irmão, na Fé que permanecerá entre nós como Memória e Desejo, a cumprir. Bem haja D. António Francisco por ser “o” Pastor que foi e é, para a Diocese de Aveiro. Que a Diocese do Porto confirme o que em nós foi Dom e Profecia «já» realizados.

 

09-04-2014. (NB) Foi importante para a redação deste «breve ensaio testemunhal» a releitura de: COMTE-SPONVILLE, Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, Editorial Presença, Lisboa, 1995, pp.95-112.

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