sábado, 12 de janeiro de 2013

Para uma reforma do sistema financeiro e monetário internacional na perspectiva de uma autoridade pública de competência universal

NOTA DO PONTIFÍCIO CONSELHO «JUSTIÇA E PAZ» Para uma reforma do sistema financeiro e monetário internacional na perspectiva de uma autoridade pública de competência universal Prefácio «A situação actual do mundo exige uma acção de conjunto a partir de uma visão clara de todos os aspectos económicos, sociais, culturais e espirituais. Perita em humanidade, a Igreja, sem pretender de modo algum ingerir na política dos Estados, “tem apenas um fim em vista: continuar, sob o impulso do Espírito consolador, a obra própria de Cristo, vindo ao mundo para dar testemunho da verdade, para salvar, não para condenar, para servir, não para ser servido”».(1) Com estas palavras Paulo VI, na profética e sempre actual Carta encíclica Populorum progressio, de 1967, traçava de maneira límpida «as trajectórias» da íntima relação da Igreja com o mundo: trajectórias que se entrelaçam no profundo valor da dignidade do homem e na busca do bem comum, e que também tornam os povos responsáveis e livres de agir em conformidade com as suas mais elevadas aspirações. A crise económica e financeira que o mundo está a atravessar interpela todos, pessoas e povos, a um profundo discernimento dos princípios e dos valores culturais e morais que estão na base da convivência social. Mas não só. A crise empenha os agentes privados e as autoridades públicas competentes nos planos nacional, regional e internacional, numa séria reflexão sobre as causas e soluções de natureza política, económica e técnica. Nesta perspectiva a crise, como ensina Bento XVI, «obriga-nos a projectar de novo o nosso caminho, a impor-nos regras novas e a encontrar novas formas de empenhamento, a apostar em experiências positivas e rejeitar as negativas. Assim, a crise torna-se ocasião de discernimento e de nova projectação. Com esta chave, mais confiante do que resignada, convém enfrentar as dificuldades da hora actual». (2) Os próprios líderes do G20, no Statement adoptado em Pittsburgh em 2009, afirmaram que «the economic crisis demonstrates the importance of ushering in a new era of sustainable global economic activity grounded in responsibility».(3) Acolhendo o apelo do Santo Padre e, ao mesmo tempo, fazendo próprias as preocupações dos povos — sobretudo daqueles que mais padecem o preço da situação contemporânea — o Pontifício Conselho «Justiça e Paz», no respeito pelas competências das autoridades civis e políticas, tenciona propor e compartilhar a própria reflexão: «Para uma reforma do sistema financeiro e monetário internacional na perspectiva de uma autoridade pública com competência universal». Esta reflexão deseja ser uma contribuição para os responsáveis da terra e para todos os homens de boa vontade; um gesto de responsabilidade não apenas em relação às gerações presentes, mas sobretudo às futuras; a fim de que nunca se perca a esperança de um porvir melhor, nem a confiança na dignidade e na capacidade de bem da pessoa humana. Cada pessoa individualmente, cada comunidade de pessoas, é partícipe e responsável pela promoção do bem comum. Fiéis à sua vocação de natureza ética e religiosa, as comunidades de crentes devem ser as primeiras a interrogar-se a respeito da idoneidade dos meios de que a família humana dispõe em vista da realização do bem comum mundial. A Igreja, por sua vez, é chamada a estimular em todos, indistintamente, «aquele imenso esforço com que os homens, ao longo dos séculos, tentaram melhorar as condições de vida, corresponde[ndo deste modo] à vontade de Deus».(4)

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