quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Crise: Vaticano propõe «Banco central» mundial

 

 

Conselho Pontifício Justiça e Paz publica documento sobre reforma do sistema financeiro e monetário internacional

D.R.

Cidade do Vaticano, 24 out 2011 (Ecclesia) ? O Vaticano publicou hoje uma nota oficial sobre a necessidade de ?reforma do sistema financeiro internacional?, defendendo a criação de uma ?autoridade pública" com competência universal, uma espécie de ?Banco central mundial?.

No documento, da autoria do Conselho Pontifício Justiça e Paz (CPJP), apela-se à criação de ?algumas formas de controlo monetário global?, considerando que o Fundo Monetário Internacional (FMI) perdeu ?a sua capacidade de garantir a estabilidade das finanças mundiais?.

O organismo da Santa Sé aponta para a ?exigência de um organismo que desenvolva as funções de uma espécie de ?Banco central mundial? que regule o fluxo e o sistema das trocas monetárias, da mesma forma que os Bancos centrais nacionais?.

Em causa estão ?os sistemas de câmbio existentes, para encontrar um modo eficaz de coordenação e supervisão? num processo que, para a Santa Sé, deve ?envolver também os países emergentes e em via de desenvolvimento?.

O documento cita a encíclica ?Caritas in veritate?, de Bento XVI, para apelar a uma ?autoridade pública mundial? que seja capaz de favorecer a criação de ?mercados livres e estáveis, disciplinados por um quadro jurídico adequado?.

O mercado financeiro global, ?que cresceu muito mais rapidamente do que a economia geral?, deve ser colocado sob o controlo de um ?número mínimo de regras partilhadas?, entende o CPJP, que lamenta a falta de controlo sobre movimentos de capitais e a ?desregulamentação das atividades bancárias e financeiras?.

Entre as possíveis medidas a tomar apresentam-se ?medidas de taxação das transações financeiras? destinadas também a ?contribuir para a constituições de uma reserva mundial, destinada a apoiar as economias dos países atingidos pela crise, bem como para o resaneamento do seu sistema financeiro e monetário?.

Uma eventual recapitalização dos bancos, com recurso a fundos públicos, deve ser condicionada pela promoção de ?comportamentos ?virtuosos? e destinados a desenvolver a economia real?.

Lembrando que mais de mil milhões de pessoas vivem hoje com pouco mais de um dólar por dia, o Vaticano afirma que ?as desigualdades aumentaram enormemente? no mundo de hoje.

Caso não se encontre ?um remédio? para as injustiças que afligem o mundo, o CPJP teme que ?os efeitos negativos? que daí derivariam para o plano social, político e económico possam ?gerar um clima de crescente hostilidade e, no final, de violência?, chegando mesmo a ?minar as próprias bases das instituições democráticas, mesmo das que se consideram mais sólidas?.

Entre as causas da atual crise, o Vaticano aponta o ?liberalismo económico sem regras e sem controlo?, situação já enunciada em 1967, pelo Papa Paulo VI, com a sua encíclica ?Populorum progressio?.

No documento referem-se ainda ?três ideologias devastadoras? com responsabilidades na crise - ?utilitarismo, individualismo e tecnocracia? ? e assinala-se que a situação económica e financeira se deve a ?comportamentos de egoísmo, avareza coletiva e açambarcamento de bens em larga escala?.

A nota oficial foi apresentada em conferência de imprensa, no Vaticano, pelo presidente do CPJP, cardeal Peter Turkson, que a considerou como um ?contributo? para a próxima reunião do G-20, entre 3 e 4 de novembro em Cannes (França), a respeito da necessidade de uma ?ação de conjunto?.

OC

Notícia atualizada 12h44

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