Padre Pedro José | Comissão Justiça e Paz - Aveiro
Comentário: Mc 1,40-45: Ano B – VI Tempo Comum (12-02-2012)
«Vamos tornar o inimigo feio»; «Quem é feio é inimigo» – Umberto Eco.
«O modo como o Outro se apresenta, ultrapassando a ideia do Outro em mim, chamamo-lo, de facto, rosto» – Emmanuel Levinas.
«Jesus, ao curar o
leproso, quer dizer para todos nós, cristãos, que nem a beleza, nem a
feiúra, nem o cheiro, nem a cor são critérios para que as nossas peles
se aproximem» – J.B. Libânio.
Diante do milagre, devemos
perguntar sobre o seu significado, e não ficarmos maravilhados com o seu
impacto extraordinário. Não se trata de factos “exóticos e
sobrenaturais”.
Hoje a medicina consegue fazer
melhor. Foi reativado, no nosso país, o transplante de fígado para
crianças, uma realidade que exige muita especialização e dispendiosos
cuidados de internamento. Muitas doenças que levaram a humanidade à
morte estão vencidas. Mas outras voltam com mortes cruentas e em massa.
Olhe-se à tuberculose com o respectivo perigo dos antibióticos sem
efeito, etc. Outras doenças ainda estão por surgir…, sem pessimismos. É a
nossa frágil condição humana.
O sentido do milagre é o
próprio Jesus. Hoje na cura da terrível lepra, Ele curou a «nossa» pele.
A pele é a «nossa» exterioridade; a nossa comunhão com o exterior; com o
mundo à nossa volta. Pela pele – e sensíveis frieiras neste frio que
sentimos… – percebemos a temperatura, percebemos que alguém está ao
nosso lado. Temos ao extremo “pele de galinha”. Olhamos a pele e
sentimos e evidência do Rosto. Jesus vai no profundo mistério da pele
humana, e toca. O leproso (das piores doenças que afectam o nosso
exterior…) deixou-se tocar.
Como nos comportamos? Há
pessoas que não toleram a nossa presença física e logo arranjam desculpa
para se afastar. Outras aproximam-se. O que a nossa pele rejeita ou
recebe? A quem rejeita e a quem recebe? Jesus quer curar em nós essa
incapacidade que a nossa «pele» tem de suportar o diferente; o feio…; o
de outra etnia…; o de outra ‘formação’…; o de outra ‘terra’; o de outra
‘geração’; o de outro clube; o de outro partido; o de outro cheiro, etc.
Até àquele momento o leproso não
podia ser tocado por ninguém e também não podia tocar em ninguém. E
Jesus fez questão – o Evangelho diz: «compadecido, estendeu a mão,
tocou-lhe».