quinta-feira, 16 de maio de 2013

escrevinhar a memória da fé

 
Pedro José Lopes Correia  |  Justiça e Paz – Aveiro
“Dai-me o que me ordenais
e ordenai-me o que quiserdes” – Santo Agostinho.
      Três noites depois, volto ao nosso dia da «Peregrinação Diocesana (12-05-2013)», como uma Graça inexprimível. Escrevi «nosso» porque é diferente dizê-lo diante da peregrinação televisiva ao Santuário da Cova da Iria, onde foram derretidas mais de 26 toneladas de velas, e “visitaram” Fátima, mais de meio milhão de pessoas (300 mil no domingo e 270 mil na véspera. Cfr. in Público, 14-05-2013, p.11). É diferente dizer essa Fátima é também nossa. E a peregrinação à História Viva da Nossa Padroeira Santa Joana, a Princesa do Desprendimento (“para seguir é preciso deixar”), foi a nossa; fomos nós os «fazedores», é por isso nossa! Ambas comportam uma verdade confessional e/ou testemunhal. Posso ser testemunha e não confessar. Posso confessar e não ser testemunha. Posso excluir ambas ou admitir ambas. Deixo os “nossos números oficiais” para quem seja íntegro. Sabendo que Deus multiplica e divide como ninguém o faz. A matemática é a «sua» propedêutica para a Fé inquisitiva, nos dias que não passam. A Fé não faz uma leitura mágica dos números, mas uma leitura mística. Somos Corpo Místico.
      Importa-nos reflectir nesta dimensão da memória da Fé. Relendo Santo Agostinho, “nós defendemos” a hipótese de que o Amor depende da faculdade da memória, e não da expectativa da Morte. Parece simples e é. Parece simples e não o é. Qual a razão do nosso Amor a Deus e aos Irmãos? Amar até morrer. Amar até viver em Deus. O que é que amo quando amo a Deus? Esta terrivelmente boa pergunta, sangrou-me no decorrer de toda a Peregrinação, olhando todos: os animadores, os catequistas, os escuteiros e dirigentes, os participantes anónimos e conhecidos, os voluntários incansáveis e os profissionais variados, os casais e seus filhos, os idosos persistentes e os jovens audazes, a imensidão humana da geografia dos afectos, Etc. Deu-me a mim, parvo e idiota (estritamente etimológicos os sentidos) vestígios fortes sobre a Verdade de Deus, sobre a Memória da Fé.
    A programação dizem as línguas (des)construtivas esteve quase sem mácula. Sabemos que temos sempre imperfeições, erros e melhoramentos, a corrigir. Mas o conteúdo e a forma, com todos os recursos disponíveis e inventados: peregrinar e pernoitar no chão; jogos criativos e músicas adesivas; adoração eucarística (silenciada e silenciosa); “mexer” com a Cidade e a Cidade “mexer-se” através de nós; e, sobretudo: a tentativa de reflexão na base do testemunho vocacional e bíblico; a Procissão solene, de matriz cultural e a Eucaristia solene, sinal da comunhão fraterna (depois do êxito evangélico do «Dia da Partilha»). Foram bem propostos; penso que bem acolhidos, e por essa ordem de razões, bem vivenciados. É aí e agora, que a Memória da Fé tem de encontrar o terreno evangélico, para continuar a frutificar 0,25%, 5%, 15%, 99,9%, etc. em Graça e Verdade!
      O salmista indaga: «Qual é a medida de meus anos? Meus dias são como nada diante de Ti» (Salmo 38). Dias como o da «Peregrinação Diocesana» - e por tabela graciosa, Todos os Dias “11” da Missão Jubilar -, não têm um ser verdadeiro; eles se vão quase antes de chegar; e quando vêm, nós não podemos continuar iguais. Em certa medida, são comparáveis aos dias do nascimento dos filhos…, das datas de opções/compromissos para o resto da nossa vida! Marcam a nossa caminhada na Fé, se forem trabalhados pela memória interior do Coração. Da disponibilidade absoluta de Deus. Nos dias de Deus somos sempre amantes e noivos; não haverá mais morte; não haverá cansaço e peso; não haverá mais fracasso e atrasos desprogramados; haverá dias que não passam; haverá dias que perduram!
      Haverá um só Dia: Vive esta Hora! “Um dia que não é precedido de um ontem, nem expulso por um amanhã. Essa medida dos meus dias, o que é, digo eu, revela-te a mim” (Erich Przywara). Que bom recordarmos que vivemos juntos dias assim!





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